Com maior dificuldade para manter cientistas no país,
estudos ligados ao campo já caíram 6% em 2023
Nos últimos anos, o Brasil perdeu 6,7 mil cientistas,
segundo o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação. Todas as áreas de pesquisas foram afetadas —
entre elas algumas estratégicas para o agronegócio,
como as relacionadas à agricultura tropical, ao manejo sustentável e aos
bioinsumos.
O Brasil colherá 322,5 milhões de toneladas de grãos na
safra 2024/25, o quíntuplo do que colhia há 40 anos. A área cultivada não
chegou a dobrar. As colheitas crescem mais que as áreas de plantio, como
resultado dos aumentos de produtividade trazidos pelo trabalho de pesquisadores
em laboratórios, em especial os da Embrapa. Manter no país pesquisadores e
repatriar quem saiu para o exterior deveria ser política estratégica de Estado.
Todos os setores devem ser objeto de medidas para repatriar o conhecimento, mas
a agropecuária, há algum tempo setor mais dinâmico da economia brasileira, deve
ser prioridade.
Em comparação com outros países, o Brasil tem sido
“inconstante” em suas políticas para reter cientistas, nas palavras do
ex-presidente da Embrapa Maurício Lopes. Entre 2019 e 2023, pesquisadores na
área de ciências agrárias publicaram 65,9 mil artigos científicos. É possível
que o número seja maior, porque foram editados, no mesmo período, 206,1 mil
textos sobre ciências da natureza, área em alguma medida relacionada à de
ciências agrárias. Em 2023, a publicação de pesquisas relacionadas ao campo
caiu 6% em relação a 2022. No geral, incluindo todos os campos do conhecimento,
houve retração de 7,2%. O Brasil se manteve como o 14º país com
mais publicações de artigos científicos. Mas isso não significa muita coisa se
a fuga de cérebros se mantiver.
O mais recente êxito da ciência e tecnologia no campo foi a
safra de 2023/24 de algodão, que permitiu ao Brasil tornar-se o maior
exportador global do produto, ultrapassando os Estados Unidos — 2,7 milhões de
toneladas embarcadas ante 2,4 milhões de toneladas de algodão americano. A
atividade foi reestruturada a partir de 1983, quando uma praga dizimou as
plantações. Hoje, é possível rastrear a origem do algodão brasileiro e garantir
que sua produção é sustentável. Sem pesquisa, isso seria impossível.
Comprimidas pelo crescimento de despesas obrigatórias do
governo, as bolsas de estudos para pesquisadores continuam defasadas, apesar do
aumento recente após dez anos de congelamento. Apenas no ano passado foi
permitido a pesquisadores acumulá-las com outras atividades remuneradas. Ainda
assim, a perspectiva para um pesquisador de ponta no Brasil é ridícula perto
das propostas e dos caminhos disponíveis nas grandes instituições científicas
do planeta. Se não estancar a fuga de cérebros, o país perderá não apenas a
vantagem comparativa que lhe permite adaptar culturas a diferentes condições de
solo e clima, mas a possibilidade de avançar em produtividade noutros setores
da economia.
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