Veto correto de Lula à farra de emendas não muda o
fato de que Executivo precisa do Legislativo se quiser conter gastos
Não houve trégua de Ano Novo no conflito que envolve os três
Poderes em torno das despesas que deputados e senadores incluem, no mais das
vezes em benefício próprio, no Orçamento federal —as famigeradas emendas
parlamentares.
No apagar das luzes de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) sancionou
a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com vetos que atingem
diretamente interesses dos partidos representados no Congresso. No mérito, as
decisões foram corretas.
Saiu do texto o dispositivo, aprovado pelos congressistas,
que impedia o bloqueio de verbas destinadas a emendas individuais e de bancada
em caso de necessidade de contenção de gastos. Fora dessa hipótese, essas
rubricas continuam sendo de execução impositiva.
Emendas atingiram valores aberrantes. Foram R$ 47,9 bilhões
em 2024, dos quais R$ 33,6 bilhões nas modalidades impositivas. Limitar a
contenção dessas despesas —em geral, de péssima qualidade, sem
atenção a critérios de prioridade e transparência—
dificultaria o já precário programa de ajuste das contas públicas e forçaria
cortes mais profundos em outros setores.
Outro veto de Lula atingiu o fundo partidário, que, como o
nome indica, direciona recursos para o custeio das legendas. A regra aprovada
pelo Congresso, que adotava como base a correção dos valores fixados em 2016,
permitira um aumento em relação ao R$ 1,33 bilhão previsto na proposta do
governo.
Nesse caso as cifras são pequenas diante das dimensões do
Orçamento, mas há um princípio em jogo. O fundo de sustentação dos partidos
políticos —que deveriam buscar filiados, em vez de depender do dinheiro do
contribuinte— cresceria mais que o total dos demais programas da Justiça
Eleitoral, o que caracterizaria uma iniquidade.
As razões não mudam o fato, porém, de que o governo Lula
precisará dos votos do Congresso se quiser aprofundar
o controle dos gastos federais e reduzir o risco de uma crise
econômica anunciado pelo dólar acima de R$ 6. Tampouco as decisões do
ministro Flávio
Dino, do Supremo Tribunal Federal, que amparam vetos de Lula, mudam esse
quadro.
O governo é politicamente frágil, dadas a vitória por margem
mínima na eleição presidencial, a predominância de forças ao centro e à direita
no Congresso e a decisão de privilegiar petistas e seus satélites na composição
do primeiro escalão federal.
Apesar do aumento inaudito de gastos públicos, a aprovação
da gestão do mandatário entre os brasileiros aptos a votar (35%) é quase
idêntica à reprovação (34%), segundo pesquisa realizada em dezembro pelo Datafolha.
A batalha para disciplinar as emendas parlamentares é de
interesse de todo o país. Lula ajudaria a causa se desse um exemplo de
austeridade orçamentária e se dividisse poder em uma coalizão partidária mais
sólida. A saída para o conflito é política.
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