segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

COMO A REJEIÇÃO DE TRUMP MULTILATERALISMO PODE AVANÇAR

Assis Moreira, Valor Econômico

Três posturas diferentes são esperadas dos EUA nas organizações internacionais a partir de agora

O desdém de Donald Trump por alianças multilaterais e seu desejo de mudar unilateralmente as regras do jogo, conforme a exclusiva conveniência dos Estados Unidos, deverão causar mais turbulências na cena global.

Em meio a questões cruciais como mudança climática, crises humanitária e de saúde, mais desigualdade econômica, inteligência artificial, nos últimos tempos começaram a aparecer tentativas de criação de foros plurilaterais (reunindo um certo número de países) para negociar entendimentos e depois tentar expandi-los multilateralmente.

Agora, é preciso ver como isso pode ainda ocorrer com a postura isolacionista e imperial de Trump 2.0.

Pode-se esperar pelo menos três tipos de postura do líder do ‘Make America Great Again’ envolvendo governança global multilateral.

Primeiro, o governo Trump vai ser mais agressivo em algumas organizações internacionais. Começou com a saída americana da Organização Mundial da Saúde (OMS) e também do Acordo do Clima de Paris. A Agenda 2030 da ONU (reduzir a pobreza e permitir uma transição verde para desenvolvimento sustentável) será atingida, assim como questões de gênero. Regras serão negligenciadas, ausências americanas serão sentidas em reuniões cruciais e agendas serão pressionadas a serem alteradas.

Segundo, no ‘miolo’, ou seja, na maior parte das organizações internacionais, Trump manterá o funcionamento básico mas sem dar-lhes importância. A expectativa é que a área de segurança, incluindo o Conselho de Segurança das Nações Unidas e toda a parte de operações de paz em torno do mundo vão continuar ativos, mas sem meios de agir realmente. Uma reforma para aumentar o número de membros do Conselho de Segurança da ONU, incluindo países como Brasil, Japão, India e Alemanha, não tem a menor chance de prosperar nos próximos quatro anos. A própria ideia do governo Lula de a ONU organizar em setembro uma conferencia de revisão da Carta das Nações Unidas parece comprometida.

Em algumas organizações técnicas como a União Internacional de Telecomunicações (UIT) e a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), o governo Trump será mais agressivo para reconquistar influencia perdida para os chineses.

Terceiro, os EUA vão buscar instrumentalizar mais várias organizações e agencias da ONU em conformidade com seu "Make America Great Again" (MAGA, façam os EUA grandes novamente). Em boa parte delas, a grande fatia do orçamento, de 50% a até 80%, vem de contribuições voluntárias dos países para projetos específicos. A expectativa é que o governo Trump buscará redirecionar programas da Unicef e da FAO (agência da ONU para Agricultura e Alimentação), por exemplo. Também o Alto Comissariado para Refugiados está na mira, para manter imigrantes perto de seus locais de saída, em vez de tentarem chegar perto das fronteiras americanas.

Rapidamente, organizações internacionais buscam se adaptar à disrupção trumpiana. O diretor-geral da FAO, um chinês, baixou esta semana ordem de reduzir o custo de pessoal em 10%, primeiro não preenchendo vagas que estavam abertas.

A OCDE busca como se acomodar usando a experiencia com Trump 1.0, podendo diminuir agendas como de gênero ou de liberdade de expressão – mas que não vão desparecer, graças ao posicionamento da social-democracia europeia.

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