Saída de diretores e carta aberta de funcionários expõem
inépcia do presidente Marcio Pochmann
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
entrou em convulsão na semana passada com o pedido de demissão dos dois
diretores responsáveis pela área de pesquisas, a mais importante, alegando
falta de interlocução com a presidência. O principal motivo que desencadeou a
saída é a tentativa do presidente do IBGE, Marcio Pochmann, de criar uma
fundação de caráter público-privado usando a marca do instituto. A iniciativa
permitiria a produção de estatísticas e conhecimento de acordo com interesses
privados, pondo em xeque a credibilidade histórica do IBGE.
O instituto divulgou comunicado negando crise e defendendo a
criação da fundação. No texto, afirma que pode recorrer à Justiça contra o que
chama de “desinformação e mentira”. Nesta semana, uma carta aberta assinada por
136 funcionários do IBGE vinculados a três das maiores diretorias (Pesquisas
Econômicas, Geociências e Tecnologia da Informação), entre eles gerentes,
coordenadores e dois ex-diretores, voltou a criticar a fundação, reclamando que
“o clima organizacional está deteriorado, e as lideranças encontram sérias
dificuldades para desempenhar suas funções”. A carta, inédita na história do
instituto, critica em termos duros o viés “autoritário, político e midiático”
atribuído à gestão Pochmann.
Principal fornecedor de estatísticas do país, o IBGE é
indispensável para a execução de quase todas as políticas públicas. Dependem
dele dados demográficos, geográficos e econômicos — do censo realizado a cada
década aos índices mensais de inflação. O risco de manipulação política de
indicadores econômicos — que assombrou o Brasil durante a ditadura militar e,
mais recentemente, a Argentina nos governos do casal Kirchner— foi levantado
assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva impôs à ministra do Planejamento, Simone Tebet,
a indicação de Pochmann para o cargo.
O nome de Pochmann, economista da Unicamp e quadro histórico
do PT, está indelevelmente associado à crise durante sua gestão no Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2007 e 2012. Mesmo durante a
ditadura, o Ipea, sob o guarda-chuva do então ministro do Planejamento, Reis
Velloso, desenvolvera pesquisas e estudos independentemente dos poderosos da
ocasião. Com Pochmann, a autonomia histórica foi posta em xeque. Ele congelou
pesquisas fundamentais sobre a Previdência, promoveu estudos com nítida
inclinação ideológica e esvaziou áreas essenciais, levando ao afastamento de
alguns dos principais economistas do país vinculados havia anos ao Ipea — caso
de Régis Bonelli e Fabio Giambiagi.
No IBGE, não há até o momento nenhum sinal de intervenção de
Pochmann no resultado de pesquisas cuja metodologia está consolidada há
décadas. Ele próprio, ao assumir, enfatizou que esse era um “receio
injustificável”. “Aqui tem um rigor enorme. Todos os procedimentos são
identificados. Não existe essa possibilidade”, afirmou. Mas a criação de uma
fundação paralela com o mesmo nome do instituto despertou nos diretores que se
demitiram e nos funcionários que assinaram a carta um receio aparentemente mais
que justificável. Tebet e Lula devem prestar atenção ao que acontece no IBGE
antes que a atmosfera tóxica afete pesquisas essenciais. Não há como deixar de
constatar que a permanência de Pochmann no cargo se torna a cada dia mais
insustentável.
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