O Papa Francisco, em fala recente, dias depois da posse do
Presidente Donald Trump, chamou atenção para o fato de que todos nós somos
imigrantes. Tão oportuna declaração nos leva a refletir sobre uma maior
responsabilidade e compromisso de cada ser humano, das nossas Organizações
Multilaterais, a exemplo da ONU, FMI, Banco Mundial e das Organizações Mundiais
da Sociedade Civil; assim como dos EUA, da Europa, da China e da Rússia -
principais economias mundiais, responsáveis pela maior geração dos gases de efeito
estufa no planeta – devem implementar medidas efetivas que minimizem as
causas e os efeitos das mudanças climáticas ora em curso, atingindo as
populações e os ecossistemas do planeta.
No entanto, as declarações e os decretos assinados no início
do segundo governo do presidente dos EUA, Donald Trump, não são alvissareiros.
Afrontam acordos internacionais, descomprometem o governo americano com o
Acordo de Paris e com a Organização Mundial de Saúde; reorientam a economia
americana para a produção e consumo de petróleo; além de declarações
preocupantes em relação à autodeterminação do Canadá, do México, do Panamá e da
Groelândia, diante de um complexo e beligerante cenário internacional, que
tem os EUA, Israel, Palestina, China, Rússia, União Européia e os Brics, como
atores relevantes.
Assim, a atual conjuntura internacional,
com seus conflitos políticos, econômicos, sociais e ambientais, continua a nos
desafiar. Precisamos de uma Cidadania Global mais efetiva, comprometida com
solidariedade, igualdade, liberdade e fraternidade nas relações do ser humano
entre si e com a própria natureza, para uma cultura de Paz - fundamento de uma
nova ordem mundial, que nos leve à almejada sustentabilidade da humanidade. São
insustentáveis as contradições econômicas, sociais e ambientais da sociedade contemporânea,
agravadas em função das mudanças climáticas, das guerras, da fome, do
desemprego, do narcotráfico e da violência urbana. Ainda, de maneira
preocupante, aumenta a corrida armamentista e os conflitos regionais, atingindo
o cotidiano das nossas vidas, em escala regional e global.
Portanto, coloca-se como desafio a defesa e ampliação da
democracia - fundamento de novas relações políticas, econômicas e sociais a
favor da vida e da preservação do planeta. A possibilidade desta construção
coletiva tem como base a valorização de cada ser humano, colocando de maneira
inadiável, a necessidade de uma reflexão sobre a efetividade dos nossos atuais
sistemas políticos, econômicos, sociais e ambientais no Brasil e no mundo.
A Conferência de Davos
Entre os dias 20 e 24 deste mês de janeiro, em Davos, na
Suíça, aconteceu mais uma reunião anual do Fórum Econômico Mundial. A
Conferência de Davos é a dedicada à cooperação público-privada, que congrega
lideranças políticas, empresariais e culturais para discutir e elaborar uma
Agenda Global, para debater e procurar soluções em relação às questões
contemporâneas. O tema central deste ano foi “Colaboração para a Era
Inteligente”, cujas discussões giraram em torno dos principais desafios do
cenário internacional, a exemplo das guerras na Ucrânia e em Gaza, colocando-se
a necessidade de um reordenamento do cenário político internacional, a ser
pautado pela multipolaridade, respeito à diversidade política, econômica,
social, cultural e espiritual da humanidade.
A declaração final de Davos sugere soluções voltadas para o
enfrentamento dos conflitos regionais e internacionais em curso, a exemplo do
cumprimento das Resoluções do Acordo de Paris. Portanto, a busca de agendas
comuns para o funcionamento das organizações multilaterais, a exemplo da ONU,
FMI, Banco Mundial, OIT, constitui fundamentos necessários na perspectiva de
resolução dos atuais problemas da humanidade: a exclusão de bilhões de pessoas
da vida política, econômica e social; o direito à moradia, alimentação,
trabalho, renda, saúde, mobilidade, no caminho de uma agenda propositiva que
enfrente os reais problemas econômicos, sociais e ambientais que afetam uma boa
parte da sociedade mundial. Ainda, implementar ações, necessárias e
já conhecidas há décadas, para a melhoria climática do planeta e a
consequente conservação dos seus ecossistemas, a exemplo da Amazônia, cujo
desmatamento, acelerado nos últimos anos, tem colaborado para o aumento da
temperatura regional e planetária.
A COP 30
Sobre os aumentos de concentração da pobreza e da riqueza,
mais uma vez diagnosticados em Davos, assim como os desafios econômicos,
sociais e ambientais do planeta, como nos colocamos? Qual a relação entre a
Agenda de Davos e a Agenda da COP 30, a ser realizada no Brasil neste ano de
2025, no próximo mês de outubro, no Estado do Pará?
A reunião em Davos reiterou temas recorrentes das agendas
globais. Os diagnósticos são preocupantes. Persiste, como imperativo, a
necessidade de contribuição das economias mais desenvolvidas - que mais
poluíram e poluem, a exemplo dos EUA, Europa, China e Rússia, no caminho de
apoiarem medidas mais efetivas que minimizem os efeitos das mudança climáticas,
em sintonia com as resoluções do Acordo de Paris, a favor da sustentabilidade
do planeta, no caminho do enfrentamento da excludente realidade econômica, social
e ambiental de uma boa parte da humanidade que vive nos continentes africano e
asiático, e na América.
Além de Davos, as sociedades mundial e brasileira estão
desafiadas ao enfrentamento dos reais problemas cotidianos, para a superação da
nossa difícil realidade, que exclui a maioria da população das conquistas
sociais modernas. O cotidiano das ruas e das redes sociais apresenta a tragédia
de bilhões de pessoas em todo o planeta, excluídas do direito ao trabalho, à
alimentação, à moradia, à saúde, ao saneamento, à educação, à cultura e à
mobilidade urbana.
Nesta perspectiva, a ciência, aliada aos conhecimentos
ancestrais e à educação, são fundamentos e o caminho para a sustentabilidade
humana no planeta. São elementos estratégicos, imprescindíveis, frente aos
atuais negacionismos e populismos, que constroem suas realidades paralelas e se
retroalimentam. Há espaço para as avenidas da democracia e da diversidade, no
caminho de novas relações políticas, econômicas, sociais, culturais e
ambientais nos planos nacional e internacional, nos blocos continentais e
regionais existentes, envolvendo países e organizações governamentais e não
governamentais, democratizando as relações internacionais em prol desta
sustentabilidade mundial e brasileira, tendo a democracia e a paz como
fundamentos estruturantes desta construção.
A desejada sustentabilidade humana no planeta é um processo
em curso e em disputa política no dia a dia da sociedade contemporânea, no
cotidiano de cada um de nós. A participação da Cidadania é o fundamento desta
almejada sustentabilidade e deve ser perseguida no processo de negociação e
pactuação da Agenda a ser discutida na COP 30 no Brasil. O futuro da Sociedade
e da Democracia deve ser trabalhado modificando as atuais relações
políticas, econômicas, sociais e ambientais nos planos nacional e internacional.
São desafios históricos que continuam atuais para a sociedade brasileira e para
a mundial.
*Da UFBA e da Diretoria do Instituto Politécnico da Bahia
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