Piora da economia, resultante da gastança do governo,
força chefia do órgão a esfriar a atividade para conter inflação
Quando Gabriel
Galípolo foi indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central,
já com a perspectiva de que viesse a assumir a presidência da instituição neste
2025, imaginava-se que sua missão seria muito mais amena.
Naquele maio de 2023, as expectativas mais consensuais eram
que a inflação estivesse
hoje estabilizada em torno dos 4% anuais, dentro da margem de tolerância de 1,5
ponto percentual acima da meta de 3%; que a cotação do dólar rondasse
os R$ 5,20; e que a taxa básica de juros fosse
de 10% ao ano, em trajetória de queda a caminho dos 9%.
Já nesta quinta-feira (2), primeiro dia útil de Galípolo no
comando do BC, o dólar fechou em R$ 6,16, depois de ter passado dos R$ 6,20
pela manhã; a inflação esperada para este ano saltou de 4%, há apenas dois
meses, para perto de 5%; os
juros são de 12,25% e rumam aos 15% —patamar mais alto desde o
longínquo 2006, ainda no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva
(PT).
O agravamento dramático das condições financeiras,
resultante da escalada de gastos da administração petista, legou ao escolhido
de Lula uma tarefa amarga. Será necessário encarecer o crédito para conter
consumo e investimentos, sacrificando a expansão da economia e da renda para
evitar o descontrole dos preços.
Tudo isso será mais eficaz e menos custoso socialmente
conforme o BC disponha de maior credibilidade. O presidente da República e seu
partido, infelizmente, em nada colaboraram para isso.
Na primeira metade do governo foram
incessantes os ataques à autonomia do BC, às metas de inflação e à política
de juros, descritas de modo caricato como um conluio contra anseios populares e
em favor de rentistas.
Mais recentemente, quando o anúncio de um pacote frustrante
de corte de despesas já havia provocado a disparada do dólar, o
Planalto produziu um vídeo constrangedor em que Lula, ao lado de
Galípolo e três ministros, dizia que o economista será "o presidente com
mais autonomia na história do Banco Central".
Ora, a autonomia não é uma dádiva do governante de turno, é
uma previsão da forma de um mandato de quatro anos após a aprovação do indicado
pelo Senado. Faz parte de um arcabouço institucional desenvolvido ao longo de
décadas, que inclui as metas de inflação, a divulgação regular de projeções
oficiais e o regime de câmbio flutuante.
A turbulência já traz custos elevados que vão do
encarecimento de produtos essenciais ao aumento dos gastos com juros da dívida
pública, passando pela perda de mais de US$ 30 bilhões em reservas cambiais no
mês passado.
Para dar fim a essa espiral nefasta, a ação firme e corajosa
do BC é necessária, mas não suficiente. Se o governo não for capaz de
restabelecer um mínimo de confiança em torno de seu programa de reequilíbrio
orçamentário, a política monetária não será capaz de garantir sozinha a
estabilidade econômica.
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