sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

MASSACRES NADA IMPREVISÍVEIS NOS EUA

Editorial Folha de S. Paulo

Ataque em Nova Orleans se soma à média anual de 25 chacinas no país; crimes em geral são cometidos por americanos natos

Há espaço de tempo por demais diminuto entre os abomináveis massacres ocorridos nos Estados Unidos neste primeiro quarto de século. O atropelamento em massa que matou 15 pessoas e feriu dezenas durante a celebração do Ano Novo na célebre Bourbon Street, em Nova Orleans, é apenas o exemplo mais recente.

Qualquer que seja a motivação, sempre espúria em sua essência, cada morticínio dissemina pânico na sociedade e senso de impotência entre autoridades.

Por óbvio não se sabe quando nem onde será o próximo ataque. Mas as estatísticas indicam que ocorrerá em breve —com alta probabilidade de ser desferido por um americano nato cioso do extermínio do maior número possível de inocentes.

Especialistas em segurança pública chegam a classificar tal fenômeno como uma endemia americana, sem claro consenso sobre as razões que a motivam.

A maioria dos massacres registrados nas últimas duas décadas tem em sua origem o acesso facílimo a armas e munições —direito respaldado pela questionável, porém inquebrantável, Segunda Emenda à Constituição.

Dados colhidos pelo jornal The Washington Post desde 2006 mostram ter havido uma média de 25 chacinas a tiros ao ano no país, responsáveis por 2.555 mortes no total. Em 2024, foram 30, acima da média. Tanto luto, sequelas e traumas não abalam o fascínio de parte da sociedade americana pelas armas.

Já em Nova Orleans, as festividades na madrugada do primeiro dia de 2025 transformaram-se em um banho de sangue pela vontade de Shamsud-Din Jabbar, que acelerou uma caminhonete contra a multidão antes de trocar tiros com a polícia local.

O modus operandi revela-se incomum nos EUA. A autoria, entretanto, segue um traço majoritário: a nacionalidade americana. Jabbar era texano nato e servira por 13 anos ao Exército.

O resultado das investigações dirá em qual perfil Jabbar se enquadra. Os massacres no país são executados por supremacistas brancos, fanáticos religiosos e toda sorte de lobos solitários, inspirados ou não no terrorismo do Estado Islâmico.

Na mesma madrugada, um veículo explodiu em frente a um hotel da Trump Corporation em Las Vegas. O FBI, a polícia federal americana, acredita que não haja conexão entre os dois casos.

Ao associar às pressas a tragédia de Nova Orleans à imigração ilegal, Donald Trump —ele próprio alvo de atentado em 2024— preferiu ignorar os fatos em nome de sua cruzada xenófoba.

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