Ano mal começou, e Brasil corre sério risco de repetir em
2025 alta de preços acima de 4,5%, o teto da meta
Em declaração sobre as perspectivas da economia global em
2025, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina
Georgieva, reconheceu o alto grau de imprevisibilidade deste ano devido às
dúvidas a respeito das políticas a serem adotadas pelo novo governo dos Estados
Unidos. Entre as certezas está a pressão inflacionária no Brasil. Tal cenário
deveria ligar todas as sirenes no governo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e no Congresso. A política fiscal irresponsável eleva as incertezas sobre
a trajetória da dívida pública, faz o câmbio disparar e alimenta a alta de
preços. Se o Banco
Central (BC) continuar solitário no combate à inflação, a
tarefa será mais difícil e a situação mais dolorosa para a população.
O índice oficial, o IPCA, está elevado, e a perspectiva é
que siga assim. Desde outubro, o acumulado de 12 meses tem ficado acima do teto
da meta estipulada para o BC (4,50%). Foi dessa forma que a economia fechou o
ano de 2024. Olhando para a frente, os cenários não indicam melhora. O mais
grave é a aparente perda de força da política monetária. É certo que o impacto
de mudanças na taxa básica de juros, a Selic, não acontece de uma hora para
outra. O aperto leva meses para se transmitir pela economia e ser sentido na
estabilização dos preços. Mas é esperado que o anúncio de altas acentuadas
tenha efeito rápido nas previsões. Não é o que tem ocorrido. Em dezembro, o BC
elevou a Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e ficou o aviso de
poder chegar a 14,25% até março. Antes do anúncio, a estimativa de economistas
era de um IPCA de 4,59% em 2025. No levantamento desta segunda-feira, o
percentual estava em 5%.
É possível que o BC, agora sob a
presidência de Gabriel Galípolo, consiga, mais adiante, ancorar as
expectativas. Mas o governo deveria prestar mais atenção nas dúvidas que
alimentam as previsões pessimistas. Uma delas é como reagirá o presidente Lula
quando a economia começar a desacelerar devido ao choque dos juros. O histórico
não é nada bom. Mesmo antes de assumir, a estratégia foi a expansão do gasto
para fazer a roda da economia girar mais rapidamente. Não faltaram estímulos
para manter a atividade em alta, apesar de consequências nefastas, como o
aumento da dívida pública, do dólar e da inflação. Caso esteja mesmo convencido
de que a economia está sobreaquecida e é preciso desacelerar, o presidente terá
de fazer mais que promessas. Em
entrevista ao GLOBO, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario
Durigan, indicou a adoção de novas medidas fiscais em 2025. Uma
repetição do que aconteceu no fim do ano passado pouco ou nada deve ajudar. Em
novembro, o governo enviou ao Congresso um pacote fiscal com cortes tímidos, e,
em seguida, os deputados e senadores conseguiram a proeza de piorar o que já
era ruim.
Na carta enviada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
para justificar o fechamento de 2024 com o IPCA estourando o teto, Galípolo
afirma que o cenário de referência indica uma inflação acima do limite máximo
até o terceiro trimestre. Portanto é grande o risco de mais um ano fora do
intervalo de tolerância. Em 2025, uma nova metodologia será adotada. Se a
inflação ficar fora do teto por seis meses consecutivos, é considerado
descumprimento da meta. Para a população, a possibilidade de alta de preços por
mais tempo num mundo mais imprevisível é um início de ano preocupante.
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