Fim de ciclo de corte na taxa americana indica juros mais
altos em todo o mundo
O encerramento do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, com
a manutenção da taxa básica entre 4,25% e 4,5%, tem um efeito sobre os
juros mundo afora. Isso porque os juros americanos são uma espécie de patamar
mínimo de juros global, explica o economista Thiago Moraes Moreira, professor
do Ibmec-RJ. Como o dólar e os títulos públicos americanos (os Treasures) são
considerados os investimentos mais seguros do planeta, quando a taxa básica da
economia americana se estabiliza em patamar considerado alto para o padrão
local, indica que os juros tendem a ficar mais altos nos demais países para
poderem atrair capital para seus respectivos mercados. No Brasil, a estimativa
de consenso é que a Selic chegue a 15% ao fim do ano, mas já há quem fale até
em 17%, diz Moreira.
- Os juros mais altos são perigosos para a economia global,
inflação com juros altos levam à desaceleração da economia, seja por redução de
investimentos ou do consumo das famílias, ou pelos dois. Se ultrapassarmos os
15% aqui no Brasil haverá uma desaceleração grande da economia, que pode levar
o PIB a crescer 0,5% ou até zero, depois de uma alta que deve ultrapassar 3,5%
em 2024, e o desemprego pode voltar à casa de pelo menos 8%. É difícil competir
com juros reais de 10% e os investimentos serão reduzidos, assim como o crédito
ao consumidor ficará mais caro. Fica difícil convencer alguém a investir,
quando sem risco nenhum um título público lhe garante 10% - diz o economista.
- A política de Trump, de aumentar tarifas, como disse que
fará com Canadá, México e China, e deportação de imigrantes tem um impacto
inflacionário, o que deve manter os juros nos EUA mais altos.
Moreira ressalta que, apesar do discurso de parte do mercado
de que o crescimento da economia vem sendo "anabolizado" pelo gasto
público, até aqui o gasto privado vem crescendo praticamente o dobro do que se
registra no gasto público:
- O mercado tem uma hipersensibilidade às declarações do
governo e pode autorrealizar a profecia de fiscal e inflação descontrolados, se
continuar com essas previsões de juros chegando a quase 20%. A verdade é que
até aqui o governo não se mostrou irresponsável pelo lado fiscal. O gasto que
mais vem crescendo é o privado, 7,5% contra 4% do gasto público. O discurso de
parte do mercado é que a economia está "anabolizada" pelo gasto do
governo, mas esse não é o fato. A Selic, estabelecida pelo Copom, é apenas um
ponto na curva de juros, mas o mercado financeiro forma a chamada “curva de
juros” e pode fazer com que a expectativa de alta cresça e autorrealizá-la.
E o aumento de juros, como ferramenta para conter a
inflação, não é remédio para todos os problemas. No caso dos alimentos, grupo
que mais pesou para que a taxa superasse a meta, é muito pouco afetado pela
alta da Selic. Influenciada por efeitos climáticos mundo afora, quebras de
safra, como aconteceu, por exemplo, com o café, pelo efeito do câmbio, a
inflação de alimentos precisa de outros remédios que não estão no cardápio
do Banco
Central:
- Os antídotos para a inflação de alimentos são outros e
terão de vir do governo, como informou de forma atabalhoada o ministro. Imposto
é um caminho, mas também a discussão de margens com os vendedores, pois a
lucratividade nesse setor é muito relevante. Não à toa o governo andou
conversando com a Abras. O incentivo à maior concorrência nas redes varejistas
de alimentos é uma alternativa - diz Moreira, do Ibmec-RJ.
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