quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

MÁS ESCOLHAS PROJETAM DIFICULDADES NESTE ANO

Editorial Folha de S. Paulo

Ação contra Bolsonaro, gastança sob Lula e farra das emendas elevam riscos, que exigem medidas técnicas dos três Poderes

O ano de 2025, marco do primeiro quarto do século 21, começa sob a perspectiva de desafios não triviais para a política e a economia brasileiras. Compõe esse quadro uma combinação de escolhas infelizes nos dois polos do espectro ideológico, desajustes institucionais e contingências.

A conta da irascibilidade de Jair Bolsonaro (PL) durante o período em que governou o país caminha para ser explicitada no Supremo Tribunal Federal. Espera-se para os meses iniciais do ano uma denúncia do procurador-geral da República contra o ex-presidente por tentativa de golpe de Estado.

A ação que provavelmente se sucederá não deveria desviar-se nem sequer um milímetro do devido processo legal. Uma coisa é apontar o inegável pendor autoritário de Bolsonaro, outra bem diferente é decidir se as condutas apresentadas pela acusação justificam condenação criminal.

Para tanto será necessário assegurar a ampla defesa, observar à risca os ritos processuais e sustentar as decisões em base estritamente técnica. Seria desastrosa uma reincidência da corte no padrão oscilatório que marcou o caso judicial do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Tampouco contribuirá para a normalização institucional a continuidade das ações heterodoxas do tribunal constitucional. O Supremo acaba de renovar a validade do inquérito das chamadas fake news, apesar de promessas de seu presidente de que essa anomalia estaria chegando ao fim.

Do lado petista, o ano que se inicia promete ser de desgaste em razão da opção irresponsável, contrária à praxe, de inaugurar o terceiro mandato de Lula com o pé no acelerador do gasto público. Dólar e juros em disparada, e a inflação em alta, privaram precocemente o governo de alternativas que não sejam custosas.

Manter a gastança precipitará ajuste selvagem pelos preços, o que implica cavalgada da carestia, afetando sobretudo os pobres. Aplicar um freio substancioso na despesa, de longe a melhor saída, reduzirá o impacto social e político da correção, sem necessariamente evitá-lo.

A chegada de Donald Trump à Casa Branca, que aumentará a imprevisibilidade geopolítica e acentuará medidas inflacionárias como a elevação de tarifas de importação e de barreiras à imigração, recomenda a países como o Brasil ainda mais cautela no manejo da politica econômica.

A aberração em que se transformou o regime das emendas no Congresso Nacional também prejudicará a boa condução dos assuntos públicos. A cobrança correta do STF de transparência nos desembolsos mal arranha a essência do problema, que embota a governabilidade no sistema presidencialista.

Por essas razões, 2025 se descortina como um ano de maiores obstáculos do que 2024. Suavizar ou mesmo inverter essa previsão dependerá em boa medida da qualidade e da tempestividade das ações de autoridades e representantes da população.

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