Musk e Zuckerberg turbinam extremismo para defender os
próprios negócios
Big techs buscam apoio político para continuarem a lucrar
com ódio e desinformação
Deu no Financial Times: o homem mais rico do mundo quer
derrubar o governo britânico. Elon Musk está conspirando contra o
primeiro-ministro Keir Starmer. Pretende forçar sua queda antes das próximas
eleições, previstas para 2029.
O dono do X, da Tesla e da Starlink gastou mais de R$ 1,5
bilhão para ajudar Donald Trump a voltar ao poder nos Estados Unidos. Agora
busca expandir sua influência política na Europa. Nos últimos meses,
aproximou-se de diversos líderes de extrema direita. Prometeu conselhos e
dinheiro, não necessariamente nesta ordem.
Musk começou a atacar Starmer no dia em que
ele completou um mês no poder. Era agosto de 2024, e protestos violentos
tomavam as ruas do Reino Unido após o assassinato de três crianças. O governo
trabalhista defendeu a responsabilização das redes sociais pela onda de
desinformação que inflamou o país. Irritado, o bilionário escreveu que os
britânicos estariam a caminho da guerra civil.
Na virada do ano, Musk voltou à carga contra o premiê.
Passou a acusá-lo de ter sido leniente com uma gangue de exploração sexual
quando atuava como promotor. O caso tem mais de uma década, mas virou pretexto
para o dono do X pedir a renúncia de Starmer. Antes de lançar a nova ofensiva,
ele posou com dirigentes do Reform UK, partido nacional-populista que investe
no discurso anti-imigração.
Na maior economia europeia, o dono do X também tabela com a
extrema direita. Virou garoto-propaganda do partido Alternativa para a Alemanha
(AfD), investigado por ligações com neonazistas. “Só a AfD pode salvar a
Alemanha”, tuitou Musk, às vésperas das eleições que definirão o substituto do
chanceler Olaf Scholz. Nesta quinta, ele usou seu megafone virtual para
promover a líder da sigla, Alice Weidel.
Na semana que passou, chefes de governo do Reino Unido, da
Alemanha e da França protestaram contra a interferência de Musk na política de
seus países. O presidente francês Emmanuel Macron disse que o bilionário se
aliou à “internacional reacionária” que tenta minar os pilares da democracia. A
má notícia é que o amigo de Trump não está sozinho.
O dono da Meta, Mark Zuckerberg, acaba de anunciar o fim dos
mecanismos que coibiam as fake news em suas redes. Numa guinada para se alinhar
a Trump, ele atacou as agências de checagem e chamou de “censura” as medidas
pare frear o extremismo. O proprietário do Facebook e do Instagram diz defender
a liberdade de expressão, mas está preocupado em defender o próprio bolso. Ao
bajular o novo inquilino da Casa Branca, busca apoio para barrar a regulação
das plataformas nos EUA e no resto do mundo.
As grandes redes lucram com o discurso de ódio e com a
mentira em escala industrial. Sabem que o radicalismo político atrai
engajamento, o que gera mais dinheiro e mais poder. Como escreveu o professor
Eugênio Bucci, as big techs têm um projeto claro: querem substituir a era da
informação pela era da desinformação.
* * *
Em solidariedade aos parlamentares, a coluna adere à
temporada de recesso para visitar as bases. Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário