Surto de virose no litoral paulista mostra despreparo
público para lidar com a alta temporada
O verão de 2025 já é inesquecível para aqueles que decidiram
viajar ao litoral paulista, e não pela combinação de praia, sol e diversão. Um
elevado volume de casos de gastroenterite, que superlotou os hospitais da
região, tornou-se o símbolo desta alta temporada. Investiga-se também se a
morte de uma mulher do interior paulista que apresentou sintomas de virose após
visitar o litoral está relacionada ao surto de gastroenterite.
Embora ainda não se saiba com certeza o que exatamente levou
ao aumento expressivo de casos, boletins da Companhia Ambiental do Estado de
São Paulo (Cetesb) mostram que a qualidade das águas do litoral paulista deixa
muito a desejar; no relatório de 2 de janeiro, 38 praias foram consideradas
impróprias para banho, condição na qual se enquadram praias com mais de 100
colônias de bactérias para cada 100 milímetros de água.
Sem surpresa, praias como a da Enseada, no Guarujá, e várias
outras em Santos e na Praia Grande figuram na lista. Nessas cidades, a procura
por atendimento médico por pessoas com sintomas como enjoo, febre e diarreia
gerou movimentação bastante acima do normal para o período em Unidades de
Pronto Atendimento (UPAs) e farmácias do litoral. Levantamento da Rádio CBN com
as Secretarias de Saúde da Baixada Santista contabilizou mais de 8,5 mil casos
de gastroenterite na região desde as festas de fim de ano.
A prefeitura do Guarujá notificou a Sabesp para averiguar o
potencial despejo irregular de esgoto na Praia da Enseada, um dos epicentros do
surto de virose. A Sabesp, por sua vez, confirmou a ocorrência de um vazamento
no dia 2, mas negou que isso esteja relacionado aos casos de gastroenterite,
uma vez que eles já vinham sendo registrados bem antes do dia 2.
Por ora, a triste saga do verão 2025 no litoral serviu
apenas para unir esquerda e direita na cobrança por explicações. Tanto a
deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) quanto o deputado estadual Tenente
Coimbra (PL-SP) enviaram ofícios para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
Enquanto aguardam-se explicações, resta evidente que a
região não se preparou para a alta temporada. Uma das justificativas para o
surto seria o fato de que a população desses municípios aumentou em virtude das
festas de fim de ano e do período de férias.
Ora, todos os anos as cidades litorâneas recebem grande
fluxo de visitantes nesta época, razão pela qual já deveriam estar preparadas
para lidar com isso, posto que turistas são importante fonte de renda para tais
municípios.
Outra possibilidade aventada para o surto seria o consumo de
produtos de procedência potencialmente duvidosa nas praias. Mais uma vez,
trata-se de desculpa esfarrapada, pois cabe ao poder público local fiscalizar e
garantir que a venda desses produtos esteja minimamente de acordo com padrões
sanitários.
Seja qual for o motivo, o surto de gastroenterite sinaliza
um inaceitável despreparo no Estado mais rico do País para garantir que seus
cidadãos, em pleno século 21, não mergulhem no século 19 ao tomarem banho de
mar.
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