A mentira não pode se sobrepor à democracia nem ser
plataforma de opressão, tortura e morte de um povo
Cinquenta e nove anos depois da falência do obscurantismo,
uma horda de inconsequentes, movidos a fake news e discursos de ódio, tentaram
reeditar o golpe militar, ocorrido em 31 de março de 1964. Invadiram a
Esplanada dos Ministérios e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso
Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). A abominável ocupação criminosa da
área dos Três Poderes ocorreu em 8 de janeiro de 2023, sete dias após a posse
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou ao terceiro mandato, e do
seu vice, Geraldo Alckmin.
Ontem, em cerimônia para comemorar a vitória da democracia e
tornar a data mais um momento de glória para o país, o presidente Lula reuniu
ministros de Estado, representantes do Congresso Nacional, do STF e das
Forças Armadas. Apesar do evento não ter atraída um grande público, Lula
afirmou que "um ato em defesa da democracia brasileira, mesmo que tenha
apenas uma pessoa, uma única pessoa, numa praça pública, num palanque, falando
em democracia, já é suficiente para a gente acreditar que a democracia vai reinar
neste país".
A luta pela democracia é permanente. Nos
últimos anos, a ultradireita tenta ampliar seu domínio no planeta, e no Brasil
não é diferente. Hoje, 49 dos 193 países reconhecidos pela Organização das
Nações Unidas (ONU) estão sob o comando de ditadores. Um regime que
desqualifica e oprime os cidadãos. Para eles, direitos humanos, liberdade de
expressão, conquistas socioeconômicas e quaisquer outros avanços
civilizatórios são desprezíveis, e a manutenção dessa forma de enxergar o mundo
tem como principal canalizador a disseminação de fake news.
Nesse sentido, o retorno de Donald Trump à Casa Branca, no
próximo dia 20, causa temores. Primeiro porque, também contaminados por
inverdades, apoiadores do republicano protagonizaram a violenta invasão ao
Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e podem ser anistiados. Também pelo recado
que o político reeleito tem dado, agora, às nações. Trump comemorou ontem a
decisão de Mark Zuckerberg, dono da empresa Meta, que agrega Instagram,
Facebook e WhatsApp, de encerrar o programa de checagem da veracidade de
publicações e disse acreditar que a mudança "provavelmente" é em
consequência das ameaças que fez ao CEO.
Zuckerberg, por sua vez, argumentou que impedir quaisquer
publicações seria censura. Por isso, a decisão de "voltar às raízes (...),
simplificar políticas e restaurar a liberdade de expressão". No meio das
explicações, entendeu-se que houve um recado ao Supremo brasileiro, que, ano
passado, impediu a farra de informações inverídicas postadas no X (antigo
Twitter), de propriedade de Elon Musk. O bilionário foi anunciado como chefe do
Departamento de Eficiência Governamental da nova gestão Trump.
Acertadamente, o ministro Alexandre de Moraes tratou, também
ontem, de ressaltar que "as redes sociais não são terra sem lei" e
"só continuarão a operar se respeitarem a legislação brasileira".
Musk, Zuckerberg e outros grandes empresários do ramo precisam entender que o
Brasil não é uma republiqueta. Tem leis. A mentira não pode se sobrepor à
democracia nem ser plataforma de opressão, tortura, morte ou qualquer outro
tipo de crime.
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