quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

SEM NOVO ENSINO MÉDIO, AVANÇO DO ENEM SEGUIRÁ FRACO

Editorial O Globo

Governadores devem acompanhar implementação das mudanças para que tenham chance maior de sucesso

É boa notícia o aumento de 3 pontos na média do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 em relação ao ano anterior. Melhor ainda é a constatação de que as notas em todas as áreas foram superiores às registradas em 2019, antes da pandemia do novo coronavírus. Outro ponto positivo foi o aumento no número de participantes. No ano passado, mais de 4,3 milhões se inscreveram para fazer o Enem, e a presença foi de 73,5%. Em 2023, foram 3,99 milhões de inscritos, com presença de 71,9%. “É ótimo que a nota do Enem tenha aumentado mesmo com a ampliação do número de estudantes”, diz a presidente executiva da ONG Todos Pela Educação, Priscila Cruz. “Muitos são jovens que não tinham no horizonte fazer o Enem ou entrar para uma universidade. Isso só reforça a importância do aumento da nota”.

Embora esses avanços mereçam ser celebrados, são tímidos, e ainda há pontos que demandam atenção. Na comparação com o ano anterior, houve recuos nas notas de matemática, ciências da natureza e ciências humanas. Evidentemente, podem ser oscilações pontuais, mas evidenciam a necessidade de o país acelerar o processo de melhoria da qualidade do ensino. Por isso é urgente a implementação do Novo Ensino Médio. É papel dos governos estaduais colocar a reforma em prática de forma bem estruturada e rápida. Por óbvio, não é possível fazer todas as mudanças de uma vez. O processo é gradual, mas deve obedecer a um cronograma e ser acompanhado de perto pelos governadores. Sem isso, as chances de sucesso são mínimas.

Sancionado em 2017, oito anos depois o Novo Ensino Médio ainda não é realidade em todo o país. No ano passado, depois de discussões intermináveis e sucessivas idas e vindas, o Congresso finalmente aprovou uma revisão da reforma que, em linhas gerais, é positiva.

Os principais objetivos foram mantidos: carga horária ampliada, coordenação maior entre o ensino regular e os cursos técnicos e currículo composto por formação básica (com disciplinas como português e matemática) e itinerários flexíveis (em que os estudantes escolhem disciplinas). No projeto aprovado no ano passado, deputados e senadores removeram obstáculos que estavam dificultando a implementação. Um dos principais era a diminuição da carga horária destinada à formação comum. Feitas as correções nos pontos em que houve consenso, os estados estão agora com todos os instrumentos normativos para colocar em prática o novo modelo.

Para conseguir diminuir o problema da evasão, as escolas precisam ser vistas pelos alunos como um trampolim social e conectadas com a realidade deles. Quanto ao aumento da carga horária, não há questionamento. Esse é o padrão nos países com as melhores experiências. Alunos com dificuldade de aprendizagem têm mais chance de obter mais atenção e ajuda.

O desafio de acelerar a melhoria do ensino é grande e envolve várias frentes. A valorização, o treinamento e o estímulo dos professores são pontos nevrálgicos. Nesse sentido, é positivo o programa do governo de incentivo aos docentes. Diante de tantos desafios, é comum haver quem defenda ser impossível promover uma transformação de vulto na educação brasileira. Isso é um equívoco. Em diferentes regiões do país, há boas experiências em andamento. Com o devido apoio, os estados retardatários precisam recuperar o tempo perdido quanto antes.

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