Infecções pelo H5N1 têm sido brandas, não há registro
de contágio humano, e vacinas estão avançadas
A gripe aviária,
transmitida pela variante H5N1 do vírus influenza, tem preocupado os
epidemiologistas. Entre 2003 e 2023 foram registrados 878 casos no mundo. Só
neste ano, os Estados Unidos já
somam 66 casos em humanos, 11 mil em aves selvagens e 128,9 milhões em aves de
criação. O salto do vírus para mamíferos foi constatado em março pela infecção
de vacas leiteiras e, em seguida, pela contaminação de trabalhadores rurais. Há
913 rebanhos contaminados em 16 estados americanos. O governador da Califórnia,
Gavin Newsom, decretou emergência para facilitar a atuação das agências
governamentais.
Por enquanto, não há registro de transmissão entre humanos.
O contágio pelo leite pode ser evitado pela pasteurização, mas tendências da
medicina alternativa valorizam o leite cru, cuja venda é permitida nos Estados
Unidos. A partir do momento em que o vírus der o salto evolutivo necessário à
transmissão entre humanos, estarão dadas condições para uma pandemia.
Dos 878 casos de H5N1 registrados entre 2003 e 2023, 458
resultaram em mortes, uma letalidade elevadíssima. Quase todos os casos
americanos neste ano foram leves, semelhantes a uma gripe comum, mas um caso
grave detectado na Louisiana se revela preocupante. Cientistas supõem que, para
infectar humanos mais facilmente, o vírus se torna menos agressivo, como
aconteceu com variantes da Covid-19.
Mas, ainda que que o H5N1 cruze a barreira de espécies numa
versão branda, o impacto sobre a saúde pública pode ser relevante. Os novos
casos graves sugerem que haveria pressão sobre os sistemas de saúde. “Os países
devem estar atentos e se preparar com plataformas de diagnóstico adequadas para
fazer mapeamento de casos e, mais que tudo, como já fizeram governos europeus e
os Estados Unidos, começar a montar seus estoques de vacinas”, diz o
virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, coordenador do Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia em Vigilância Genômica de Vírus.
Caso a epidemia se alastre, não há motivo para desespero. O
H5N1 é conhecido, e as pesquisas sobre vacinas estão em estágio avançado. No
Brasil, o Instituto Butantan desenvolveu a sua em 2023. Só espera sinal verde
da Anvisa para começar testes clínicos com humanos. Os casos de contaminação
nos Estados Unidos são um motivo para acelerar a tramitação desses testes.
Em abril, a Anvisa criou regras para registro e atualização
de vacinas contra a gripe aviária. Os laboratórios poderão protocolar registros
que depois precisarão ser apenas atualizados diante de novas variantes. Com
essa aprovação, o Butantan pode adaptar a vacina para a versão do vírus que
estiver circulando. “A ideia é ter pelo menos uma quantidade mínima caso o
vírus comece a se disseminar”, afirma o infectologista e diretor do Butantan
Esper Kallás.
Por enquanto, a situação no Brasil é tranquila. Não houve
surtos entre aves silvestres no segundo semestre, diz Helena Lage, presidente
da Sociedade Brasileira de Virologia. Ela própria, no entanto, afirma que num
mundo globalizado tudo muda rapidamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário