Guerra aos canudos de papel pode soar anedótica, mas
expõe método do republicano
Desde que voltou à Casa Branca, Donald Trump já ameaçou
invadir países amigos, defendeu uma limpeza étnica em Gaza e deixou o mundo à
beira da guerra comercial. Mas nenhuma medida de seu primeiro mês de governo
parece resumi-lo tão bem quanto a ofensiva contra os canudos de papel.
O presidente dos EUA assinou uma ordem executiva para banir
os canudos biodegradáveis. Pregou o retorno aos canudos de plástico, apontados
como vilões da poluição de rios e oceanos. “Esses negócios não funcionam”,
disse, referindo-se aos tubinhos de papel adotados nos últimos anos. “Eles
quebram, eles explodem”, delirou.
A nação mais rica do planeta consome cerca
de 290 milhões de canudos plásticos por dia, segundo estudo citado pela
Associated Press. A mercadoria é descartada em poucos minutos e leva ao menos
200 anos para se decompor. O problema atraiu atenção global em 2015, quando
biólogos filmaram a retirada de um canudo do nariz de uma tartaruga marinha na
Costa Rica. O vídeo mostrou o sofrimento do animal e motivou a adoção de normas
para restringir o material em diversos países.
No ano passado, o governo de Joe Biden anunciou metas para
acelerar a transição do plástico para o papel nos EUA. Empenhado em demolir o
legado do antecessor, o novo presidente convocou a imprensa e revogou a
inciativa.
O ofensiva contra os canudos de papel pode soar anedótica,
mas ajuda a entender o método de Trump. Ele identificou no tema, aparentemente
pequeno, um símbolo eficaz para sua pregação populista contra a regulação
estatal e o chamado politicamente correto.
Dizendo defender o “senso comum”, implodiu uma prática
ecologicamente responsável e incentivou empresas a cortarem despesas às custas
do meio ambiente. “Os canudos são só o começo”, festejou Matt Seaholm,
presidente da associação de lobby da indústria do plástico nos EUA.
A cruzada antiambiental de Trump tem fins lucrativos. Ao
abraçar o negacionismo climático e estimular a exploração indiscriminada de
combustíveis fósseis, ele favorece as petroleiras que ajudam a bancar seu
projeto político. O magnata também deve aproveitar para faturar uns trocados na
pessoa física. Em 2020, ele já vendeu kits de canudos plásticos com o próprio
nome em letras maiúsculas.
O SNI e o adeus a Tancredo
Frei Betto estava ao pé do leito de Tancredo Neves quando o
coração do presidente parou de bater. Ainda no Incor, ouviu o delegado Romeu
Tuma dizer a um coronel do SNI que era preciso manter o arcebispo de São Paulo
longe do funeral.
O frade correu até o orelhão da esquina e ligou para dom
Paulo Evaristo Arns, desafeto histórico da ditadura. Disse ao cardeal que sua
presença no cortejo era muito importante — e ele compareceu, para irritação dos
militares.
No novo livro “Quando Fui Pai do Meu Irmão”, Betto relembra
outros lances da tragédia que faz 40 anos em abril. O SNI tentou barrar o
dominicano, ex-preso político, nos voos que transportaram o corpo de Tancredo
até Brasília e São João del Rei. Nos dois casos, a viúva Risoleta Neves
enquadrou os militares e exigiu a presença do religioso a bordo.
O SNI marcou um gol de honra na missa na Igreja de São
Francisco de Assis. Quando Betto foi ao microfone, a pedido da família, os
arapongas mandaram a antiga Empresa Brasileira de Notícias cortar o sinal
retransmitido às TVs privadas.
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