domingo, 23 de fevereiro de 2025

CRUZADA AMBIENTAL DE TRUMP TEM FINS LUCRATIVOS

Bernardo Mello Franco, O Globo

Guerra aos canudos de papel pode soar anedótica, mas expõe método do republicano

Desde que voltou à Casa Branca, Donald Trump já ameaçou invadir países amigos, defendeu uma limpeza étnica em Gaza e deixou o mundo à beira da guerra comercial. Mas nenhuma medida de seu primeiro mês de governo parece resumi-lo tão bem quanto a ofensiva contra os canudos de papel.

O presidente dos EUA assinou uma ordem executiva para banir os canudos biodegradáveis. Pregou o retorno aos canudos de plástico, apontados como vilões da poluição de rios e oceanos. “Esses negócios não funcionam”, disse, referindo-se aos tubinhos de papel adotados nos últimos anos. “Eles quebram, eles explodem”, delirou.

A nação mais rica do planeta consome cerca de 290 milhões de canudos plásticos por dia, segundo estudo citado pela Associated Press. A mercadoria é descartada em poucos minutos e leva ao menos 200 anos para se decompor. O problema atraiu atenção global em 2015, quando biólogos filmaram a retirada de um canudo do nariz de uma tartaruga marinha na Costa Rica. O vídeo mostrou o sofrimento do animal e motivou a adoção de normas para restringir o material em diversos países.

No ano passado, o governo de Joe Biden anunciou metas para acelerar a transição do plástico para o papel nos EUA. Empenhado em demolir o legado do antecessor, o novo presidente convocou a imprensa e revogou a inciativa.

O ofensiva contra os canudos de papel pode soar anedótica, mas ajuda a entender o método de Trump. Ele identificou no tema, aparentemente pequeno, um símbolo eficaz para sua pregação populista contra a regulação estatal e o chamado politicamente correto.

Dizendo defender o “senso comum”, implodiu uma prática ecologicamente responsável e incentivou empresas a cortarem despesas às custas do meio ambiente. “Os canudos são só o começo”, festejou Matt Seaholm, presidente da associação de lobby da indústria do plástico nos EUA.

A cruzada antiambiental de Trump tem fins lucrativos. Ao abraçar o negacionismo climático e estimular a exploração indiscriminada de combustíveis fósseis, ele favorece as petroleiras que ajudam a bancar seu projeto político. O magnata também deve aproveitar para faturar uns trocados na pessoa física. Em 2020, ele já vendeu kits de canudos plásticos com o próprio nome em letras maiúsculas.

O SNI e o adeus a Tancredo

Frei Betto estava ao pé do leito de Tancredo Neves quando o coração do presidente parou de bater. Ainda no Incor, ouviu o delegado Romeu Tuma dizer a um coronel do SNI que era preciso manter o arcebispo de São Paulo longe do funeral.

O frade correu até o orelhão da esquina e ligou para dom Paulo Evaristo Arns, desafeto histórico da ditadura. Disse ao cardeal que sua presença no cortejo era muito importante — e ele compareceu, para irritação dos militares.

No novo livro “Quando Fui Pai do Meu Irmão”, Betto relembra outros lances da tragédia que faz 40 anos em abril. O SNI tentou barrar o dominicano, ex-preso político, nos voos que transportaram o corpo de Tancredo até Brasília e São João del Rei. Nos dois casos, a viúva Risoleta Neves enquadrou os militares e exigiu a presença do religioso a bordo.

O SNI marcou um gol de honra na missa na Igreja de São Francisco de Assis. Quando Betto foi ao microfone, a pedido da família, os arapongas mandaram a antiga Empresa Brasileira de Notícias cortar o sinal retransmitido às TVs privadas.

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