quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

REERGUER GAZA EXIGIRÁ BEM-ESTAR PARA PALESTINOS E SEGURANÇA PARA ISRAELENSES

Editorial O Globo

Desvario de Trump ao propor ‘Riviera’ no Oriente Médio deve ser visto como início de negociação

Donald Trump começou seu governo fazendo ameaças e lançando ideias estapafúrdias, com o nítido objetivo de obter concessões em negociações. Na terça-feira, ao receber na Casa Branca o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou querer ocupar a Faixa de Gaza, transferir os 2 milhões de palestinos que vivem no enclave, investir na reconstrução da infraestrutura devastada e criar, às margens do Mediterrâneo, uma “Riviera” no Oriente Médio. O desvario depois foi esclarecido. A Casa Branca negou que enviaria tropas e disse que a realocação dos palestinos seria temporária. O conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, informou que o objetivo é pressionar os países árabes a propor soluções para Gaza.

O desafio exige uma resposta que leve em conta dois pontos cruciais: o bem-estar dos palestinos que lá vivem e a segurança de Israel. A ideia de Trump não resolve nenhum dos dois — a população palestina não quer sair de Gaza, e o controle americano traria a grupos terroristas como o Hamas mais recrutas e pretextos para ataques mortíferos. Internamente, seria impraticável para Trump enviar soldados americanos a mais uma aventura militar.

Pelo menos num ponto, ele está certo: reerguer Gaza exigirá investimentos bilionários, colaboração dos países árabes e, sobretudo, a garantia de que o Hamas não voltará a comandar o enclave. Não haverá nenhum futuro para a população que sofreu bombardeios inclementes de Israel ao longo dos últimos dois anos se o grupo terrorista mantiver o poder. Basta lembrar o que aconteceu quando Israel desocupou Gaza em 2005: o Hamas passou a sujeitar a população palestina a seus desígnios, impondo a ditadura cruel que usava hospitais, escolas e mesquitas como instalações militares. Não haverá paz nem reconstrução digna com o Hamas no poder, simplesmente porque o grupo luta para destruir Israel.

Outro erro seria prolongar a ocupação militar israelense, como defendem alas radicais do governo Netanyahu. No passado, o país já manteve tropas em Gaza e no Líbano, sem derrotar os grupos terroristas. A permanência de tropas israelenses em Gaza só contribuiria para corroer ainda mais a imagem de Israel com os desgastes intrínsecos a qualquer ocupação, sem trazer nenhuma garantia de paz duradoura.

A melhor alternativa é a Autoridade Palestina passar a controlar o governo local, com apoio de tropas de Israel, dos países árabes e vigilância internacional sobre os corredores estratégicos, usados por terroristas para contrabandear armas e munição. É fundamental também um programa de investimento externo maciço para reconstruir o enclave. O objetivo do Hamas nunca foi melhorar a vida dos palestinos; o foco era destruir Israel. O auxílio internacional se transformou na extensa rede de túneis usada para esconder armas, proteger terroristas e planejar ataques. Uma Faixa de Gaza voltada para o bem-estar dos palestinos, sem bloqueio israelense, é uma aposta que, mesmo distante, vale a pena. Não transformará Gaza em Riviera, mas poderá resultar num Estado palestino com a Cisjordânia.

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