Desvario de Trump ao propor ‘Riviera’ no Oriente Médio
deve ser visto como início de negociação
Donald
Trump começou seu governo fazendo ameaças e lançando ideias
estapafúrdias, com o nítido objetivo de obter concessões em negociações. Na
terça-feira, ao receber na Casa Branca o primeiro-ministro israelense, Benjamin
Netanyahu, afirmou querer ocupar a Faixa
de Gaza, transferir os 2 milhões de palestinos que vivem no enclave,
investir na reconstrução da infraestrutura devastada e criar, às margens do
Mediterrâneo, uma “Riviera” no Oriente Médio. O desvario depois foi
esclarecido. A Casa Branca negou que enviaria tropas e disse que a realocação
dos palestinos seria temporária. O conselheiro de Segurança Nacional, Mike
Waltz, informou que o objetivo é pressionar os países árabes a propor soluções
para Gaza.
O desafio exige uma resposta que leve em conta dois pontos
cruciais: o bem-estar dos palestinos que lá vivem e a segurança de Israel. A
ideia de Trump não resolve nenhum dos dois — a população palestina não quer
sair de Gaza, e o controle americano traria a grupos terroristas como o Hamas
mais recrutas e pretextos para ataques mortíferos. Internamente, seria
impraticável para Trump enviar soldados americanos a mais uma aventura militar.
Pelo menos num ponto, ele está certo: reerguer Gaza exigirá
investimentos bilionários, colaboração dos países árabes e, sobretudo, a
garantia de que o Hamas não voltará a comandar o enclave. Não haverá nenhum
futuro para a população que sofreu bombardeios inclementes de Israel ao longo
dos últimos dois anos se o grupo terrorista mantiver o poder. Basta lembrar o
que aconteceu quando Israel desocupou Gaza em 2005: o Hamas passou a sujeitar a
população palestina a seus desígnios, impondo a ditadura cruel que usava
hospitais, escolas e mesquitas como instalações militares. Não haverá paz nem
reconstrução digna com o Hamas no poder, simplesmente porque o grupo luta para
destruir Israel.
Outro erro seria prolongar a ocupação militar israelense,
como defendem alas radicais do governo Netanyahu. No passado, o país já manteve
tropas em Gaza e no Líbano, sem derrotar os grupos terroristas. A permanência
de tropas israelenses em Gaza só contribuiria para corroer ainda mais a imagem
de Israel com os desgastes intrínsecos a qualquer ocupação, sem trazer nenhuma
garantia de paz duradoura.
A melhor alternativa é a Autoridade Palestina passar a
controlar o governo local, com apoio de tropas de Israel, dos países árabes e
vigilância internacional sobre os corredores estratégicos, usados por
terroristas para contrabandear armas e munição. É fundamental também um
programa de investimento externo maciço para reconstruir o enclave. O objetivo
do Hamas nunca foi melhorar a vida dos palestinos; o foco era destruir Israel.
O auxílio internacional se transformou na extensa rede de túneis usada para esconder
armas, proteger terroristas e planejar ataques. Uma Faixa de Gaza voltada para
o bem-estar dos palestinos, sem bloqueio israelense, é uma aposta que, mesmo
distante, vale a pena. Não transformará Gaza em Riviera, mas poderá resultar
num Estado palestino com a Cisjordânia.
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