Para ele, a ditadura de 64 nunca existiu
É por isso que Bolsonaro cogita lançá-lo candidato a
presidente da República no próximo ano, uma vez que poderá estar preso e
impedido de concorrer. Afinal, quem puxa aos seus não degenera, embora já possa
ter nascido degenerado.
Tarcísio de Freitas (Republicanos), militar e engenheiro por
formação, costuma usar as redes sociais para comemorar feitos de brasileiros em
competições internacionais. Do tenista João Fonseca, campeão do ATP de Buenos
Aires, ele disse:
“É mais um talento brasileiro despontando para o mundo,
carregando as cores da nossa bandeira”.
Durante as últimas Olimpíadas, a ginasta Rebeca Andrade e a
judoca Beatriz Souza, ambas medalhistas de ouro, também foram homenageadas por
Tarcísio, que ontem parabenizou a escola de samba Rosas de Ouro, campeã do
Carnaval paulistano.
Mas sobre o primeiro Oscar conquistado pelo Brasil com o
filme “Ainda estou aqui”, que conta a história do desaparecimento do
ex-deputado Rubem Paiva à época da ditadura militar de 64, não se leu nem se
ouviu até aqui uma única palavra de Tarcísio.
O mesmo comportamento tiveram outros governadores
bolsonaristas, como Romeu Zema (Novo), de Minas, Ratinho Júnior (PSD), do
Paraná, e Jorginho Melo (PL) de Santa Catarina. Ronaldo Caiado (União Brasil),
de Goiás, aplaudiu o filme.
Os bolsonaristas de destaque silenciaram ou só abriram a
boca para criticar o filme. Bolsonaro sempre defendeu a ditadura militar e,
quando deputado federal, mantinha em seu gabinete uma foto do torturador Carlos
Alberto Brilhante Ustra, de triste memória.
Brilhante Ustra foi comandante do DOI-CODI do Exército em
São Paulo, onde morreram debaixo de pancadas diversos oponentes da ditadura. Ao
dar seu voto pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Bolsonaro
invocou Brilhante Ustra.
O legítimo herdeiro de Bolsonaro, porém, não titubeou em
criticar o filme, e foi além. Atacou duramente Eunice, a viúva de Rubens Paiva,
símbolo da resistência democrática ao regime militar, e ameaçou o ministro
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal.
Em linha com o pensamento do pai e desconectado com a
verdade, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o Zero Três, devoto
confesso de Donald Trump, escreveu nas redes sociais:
“Insurgir-se contra uma ditadura inexistente é fácil, rende
bastante bajulação da ‘elite’ plutocrata, superficial e niilista. Difícil é ter
coragem para se insurgir contra a ditadura real, que está por aí prendendo mães
de família, idosos e trabalhadores inocentes. Ah…, isso exige fibra moral e
coragem para arcar com os altos custos envolvidos”.
E acrescentou, pomposo e arrogante, como se falasse para a
História:
“Esse silêncio de vocês, cúmplices, não será quebrado. Mas o
nosso, com toda firmeza moral, eu quebro, estou disposto a arcar com esse
custo: Alexandre de Moraes, iremos punir você. Acredite, você irá pagar por
toda maldade que cometeu, custe o que custar”.
O pai deve ter babado de satisfação com o garoto que, no
passado, quis ser embaixador do Brasil em Washington, e que agora poderá
sucedê-lo como líder da extrema direita.
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