Mario Vargas Llosa, escritor e Nobel da Literatura, morre
aos 89 anos
Peruano também foi prestigiado com os prêmios Cervantes,
Príncipe de Astúrias das Letras, Biblioteca Breve, o da Crítica Espanhola, o
Prêmio Nacional de Novela do Peru e o Rómulo Gallegos. Suas obras foram
traduzidas para 30 idiomas.
O escritor Mario Vargas Llosa, vencedor
do Nobel da Literatura em 2010, morreu neste domingo (13), em Lima, no
Peru. A morte foi anunciada pelo filho, Álvaro. A causa não foi informada.
"É com profundo pesar que anunciamos que nosso pai,
Mario Vargas Llosa, faleceu hoje em Lima, cercado pacificamente por sua
família", escreveu nas redes sociais.
"Sua partida entristece seus parentes, amigos e seus
leitores ao redor do mundo, mas nos consola saber que ele teve uma vida longa,
múltipla e frutífera, e deixa atrás de si uma obra que o sobreviverá."
"Agradecemos de coração o carinho e o apoio recebidos e
pedimos que sejam respeitadas nossas instruções. Não haverá nenhuma cerimônia
pública. No momento da despedida final, nossos pensamentos estarão com todos
que o leram e o admiraram. Após o adeus em família, seus restos, conforme sua
vontade, serão cremados."
Con profundo dolor, hacemos público que nuestro padre, Mario Vargas Llosa, ha fallecido hoy en Lima, rodeado de su familia y en paz. @morganavll pic.twitter.com/mkFEanxEjA
— Álvaro Vargas Llosa (@AlvaroVargasLl) April 14, 2025
Nascido na cidade de Arequipa, no sul do Peru, em 28 de
março de 1936 em uma família de classe média, foi educado por sua mãe e seus
avós maternos em Cochabamba (Bolívia) e depois no Peru.
Após seus estudos na Academia Militar de Lima, obteve uma
licenciatura em letras e, ainda muito jovem, deu seus primeiros passos no
jornalismo.
Instalou-se em 1959 em Paris, onde se casou com sua tia
Julia Urquidi, 10 anos mais velha, e exerceu várias profissões: tradutor,
professor de espanhol e jornalista da Agence France-Presse.
Anos depois, separou-se de Urquidi e se casou com sua
prima-irmã e sobrinha de sua ex-esposa, Patricia Llosa, com quem teve três
filhos e 50 anos de relação.
Vargas Llosa se divorciou de Patricia após iniciar em 2015,
com quase 80 anos, um romance com uma figura conhecida do mundo madrilenho,
Isabel Preysler, ex-mulher do cantor Julio Iglesias.
Prolífica carreira literária
Vargas Llosa foi um dos grandes protagonistas, juntamente
com o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar, e o
mexicano Carlos Fuentes, do "boom latino-americano", um fenômeno
literário que, nas décadas de 1960 e 1970, tornou os jovens autores conhecidos
em todo o mundo.
Sua longa carreira literária decolou em 1959, quando
publicou seu primeiro livro de relatos, "Os Chefes", com o qual
obteve o Prêmio Leopoldo Alas.
Depois, ganhou notoriedade com a publicação de "A
Cidade e Os Cachorros", em 1963, seguida três anos depois por "A Casa
Verde". Seu prestígio se consolidou com "Conversa no Catedral"
(1969).
Com suas obras traduzidas para 30 idiomas, Vargas Llosa foi
prestigiado com os prêmios Cervantes, Príncipe de Astúrias das Letras,
Biblioteca Breve, o da Crítica Espanhola, o Prêmio Nacional de Novela do Peru e
o Rómulo Gallegos. Obteve a nacionalidade espanhola em 1993.
Admirado por sua descrição das realidades sociais em
obras-primas da literatura, no plano político seus posicionamentos liberais
provocaram hostilidade em um meio intelectual que geralmente tende à esquerda.
"Nós, latino-americanos, somos sonhadores por
natureza e temos problemas para diferenciar o mundo real e a ficção. É por isso
que temos ótimos músicos, poetas, pintores e escritores, e também governantes
tão horríveis e medíocres", disse em 2010.
Naquele ano, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura por
sua "cartografia
das estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e
derrota individual", justificou a real Academia sueca.
"Acredito estar recebendo este prêmio por minha obra
mais do que por minhas opiniões políticas. Mas se minhas opiniões em defesa da
liberdade foram levadas em conta, isso me alegra muito”, disse.
O peruano,
então com 74 anos, disse que gostaria de ser lembrado, antes de tudo, como um
escritor. “Quando escrevo, a política é sempre secundária, a
literatura é algo maior."
Vargas Llosa foi o primeiro escritor a entrar na Academia
Francesa sem nunca ter escrito nada em francês. Eleito pelos
"Imortais" da Academia em novembro de 2021, o escritor
hispano-peruano assumui sua cadeira de número 18.
Vargas Llosa foi aceito quase que por unanimidade pelos
acadêmicos e foi recebido em sua posse, em 2023, pelo "protetor" da
Academia, o presidente francês, Emmanuel Macron.
O escritor também era membro da Real Academia Espanhola,
assim como da peruana e sócio-correspondente da Academia Brasileira de Letras
(ABL).
O autor peruano dizia que queria continuar escrevendo até o
último dia de sua vida e cumpriu sua palavra com a publicação de obras como
"O Herói discreto", ou "Tempos Ásperos", sobre a agitada
história recente da Guatemala, que lhe rendeu o Prêmio Francisco Umbral de
Romance.
Escritor premiado... polêmico na política
Quando jovem, Vargas Llosa se sentiu seduzido por Fidel
Castro, mas em 1971 rompeu com a Revolução Cubana por causa do caso do poeta
Heberto Padilla, forçado pelo regime a fazer uma humilhante
"autocrítica" pública.
Foi candidato à presidência do Peru em 1990. Era o favorito
até aparecer o então desconhecido agrônomo Alberto Fujimori, que foi eleito.
Depois de seu fracasso eleitoral, voltou às letras, de onde — disse o escritor
— nunca deveria ter saído.
Nos últimos anos, atacava o populismo, "a doença da
democracia", que inclui o chavismo e o castrismo, a extrema direita e a
esquerda radical europeia e o nacionalismo independente.
Teve uma estreita amizade com Gabriel García Márquez, que
terminou abruptamente em um incidente confuso que ambos preferiram não tocar.
"Deixe que os biógrafos cuidem desse assunto", disse Vargas Llosa
sobre o assunto.
* Com informações da agência France Presse.
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