A busca por respostas rápidas sobre o pontificado de Leão
XIV pode resultar em mais incompreensão e reducionismo, precisamente os termos
criticados pelo Sumo Pontífice em seus primeiros dias no trono papal
Recém-escolhido para ocupar o trono de Pedro, o papa Leão
XIV já emitiu sinais relevantes de sua visão a respeito da Igreja Católica. Na
primeira missa realizada como Sumo Pontífice, na Capela Sistina, o sucessor de
Francisco proferiu palavras de forte teor espiritual. Ao mesmo tempo em que
criticou a ditadura do materialismo, traduzida pelo culto ao dinheiro, à
tecnologia, ao poder e ao prazer, Leão XIV ressaltou as dificuldades do
cristianismo de propagar a fé em meios tão inóspitos. Ressaltou, ainda, a incompreensão
até mesmo sobre o Cristo, vítima de um reducionismo que ofende e distorce a
personificação do filho de Deus.
Em suas primeiras palavras como líder espiritual de 1,4
bilhão de fiéis, Leão XIV reiterou a missão da Igreja em um mundo marcado por
guerras, divisões e egoísmo. E deixou claro que tem consciência da cruz que
carrega à frente de uma instituição que, apesar da "grandiosidade de seus
edifícios", tem desafios a superar. "Deus me confiou este tesouro
para que, com a sua ajuda, eu possa ser seu administrador fiel em benefício de
todo o Corpo Místico da Igreja. Ele o fez para que ela seja cada vez mais
plenamente uma cidade sobre o monte, uma arca de salvação navegando pelas águas
da história e um farol que ilumina as noites deste mundo", disse Leão XIV
em sua homilia no Vaticano.
Ainda é preciso tempo para saber em detalhes como o novo
bispo de Roma pretende lidar com questões contemporâneas dentro e fora dos
muros do Vaticano. Não se sabe ao certo, por exemplo, qual será a postura do
líder católico quanto à maior participação das mulheres nos assuntos da Igreja.
Do mesmo modo, há dúvidas sobre o posicionamento petrino em relação à
comunidade LGBTQ , ou ainda aos divorciados. No tocante às relações
internacionais, é razoável presumir que o sucessor de Pedro se colocará como um
contraponto a líderes mundiais autocratas, que usam o poder e a ambição
política como instrumentos de dominação. Mas a busca por respostas rápidas
sobre o pontificado de Leão XIV pode resultar em mais incompreensão e
reducionismo, precisamente os termos criticados pelo Sumo Pontífice em seus
primeiros dias no trono papal.
O que é certo dizer é que a eleição de Leão XIV confirma a
vontade da Igreja Católica, com o respaldo de seus fiéis, de prosseguir com o
legado de Francisco. E esse movimento é de enorme relevância no momento em que
a hostilidade, o unilateralismo e a desigualdade prevalecem entre as nações. Em
resposta a essa intenção, o novo pontífice ressaltou o compromisso de dar
continuidade ao movimento pastoral que tanto marcou a trajetória de Francisco,
com especial atenção aos desvalidos. Ademais, o cardeal Robert Prevost envia
uma poderosa mensagem ao escolher o nome de Leão XIV, em homenagem ao líder que
inaugurou a doutrina social católica para os tempos modernos, em meio ao forte
impacto provocado pela Revolução Industrial e seus avanços tecnológicos.
Ontem, em reunião com os cardeais, Leão XIV deu mais um
sinal de como pretende atuar: com humildade. Disse contar com a colaboração dos
irmãos católicos à frente da Igreja. E confia em Deus para cumprir sua missão.
Pois, sem Ele, "nada é válido, nada é santo", citando Paulo VI.


Nenhum comentário:
Postar um comentário