Por votos de Bolsonaro, governadores se associam a chantagem
de Trump
Presidenciáveis, Tarcísio e Caiado tentam culpar Lula por
tarifaço articulado pelo filho do capitão
Na tarde em que extremistas de direita invadiram e
depredaram as sedes dos Três Poderes, o governador do Distrito Federal estava
fora do ar. Ibaneis Rocha não atendeu o telefone enquanto a multidão de verde e
amarelo destruía os palácios e urrava por golpe e ditadura. Mais tarde,
escreveu a um amigo que estava tirando uma soneca.
Responsável pela segurança pública em Brasília, Ibaneis
ignorou alertas de que os bolsonaristas preparavam atos violentos. Também
rejeitou ajuda da Força Nacional de Segurança, oferecida na véspera pelo
Ministério da Justiça. O emedebista foi afastado pelo Supremo por “omissão
dolosa”, mas conseguiu voltar ao cargo dois meses depois. Nesta quinta,
reapareceu no noticiário como anfitrião de um encontro de governadores.
Chefes do Executivo de nove estados
reuniram-se na casa de Ibaneis. O pretexto era discutir estratégias para lidar
com o tarifaço imposto por Donald Trump. Na prática, foram afinar o discurso
para defender a família Bolsonaro.
Escalado como porta-voz do grupo, Tarcísio de Freitas
atribuiu o ataque americano a uma “questão de imprudência” do governo federal.
“A gente acabou indo por um caminho muito ruim, que acabou agredindo um
parceiro histórico do Brasil”, disse, sem corar. Antes da reunião, o governador
de São Paulo foi visitar Jair Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar a 15
minutos dali. Desta vez, evitou posar com o boné vermelho de Trump.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, também tentou culpar
o Planalto pelo tarifaço articulado pelo filho do capitão. “Se o presidente
Lula não quer conversar e a ele interessa a crise, a nós, governadores, não.
Não queremos conviver com alguém que se acha no direito de fechar o Brasil e
penalizar o setor produtivo nacional”, afirmou.
Na semana em que bolsonaristas impediram o Parlamento de
funcionar, Caiado sugeriu que Câmara e Senado deveriam ceder ao motim e
anistiar os golpistas. “Nunca vi o Congresso tão acovardado”, discursou.
Se depender dos governadores de direita, a Casa Branca
conseguirá tudo o que quer. Mauro Mendes, de Mato Grosso, pregou submissão às
exigências de Trump. “Não adianta nós aqui, na dimensão que nós temos,
querermos peitar o cara”, disse. Ele ainda acusou a diplomacia brasileira de
cometer “erros gigantescos” na negociação das taxas. Talvez preferisse ver o
Brasil de joelhos diante da agressão americana.
Antes de defender Bolsonaro, os governadores defendem seus
próprios interesses. Querem se posicionar como herdeiros dos votos do capitão.
Dos nove participantes do encontro, quatro cultivam ambições presidenciais.
Além de Tarcísio e Caiado, estavam presentes Romeu Zema, de Minas Gerais, e
Ratinho Júnior, do Paraná.
Essa turma não pode renegar o ex-presidente, mas deveria
pensar melhor antes de se associar à chantagem contra o país. No fim de julho,
os governadores boicotaram uma reunião convocada pelo vice-presidente Geraldo
Alckmin para discutir a negociação com os EUA. Quando a conta das tarifas
chegar, ninguém poderá alegar que estava tirando uma soneca.


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