Pior momento de ex-presidente desde 2022 dá ao petista
chance de recuperar imagem, e até Centrão manda recados para conversar
Na gangorra Lula-Bolsonaro a que a política brasileira
permanece presa, o presidente está neste momento num dos pontos mais altos do
ano, enquanto o capitão amarga a maior dificuldade desde que perdeu a eleição,
em 2022.
Lula tem sido altamente beneficiado pelos ventos, até as
lufadas mais improváveis. A viagem aos Estados Unidos para a abertura da
Assembleia Geral da ONU foi das mais proveitosas deste mandato, com a
inesperada “química” com Donald Trump como ápice de uma agenda que o colocou
naquele lugar que ele adora ocupar: do “cara” cortejado pelos chefes de Estado,
visto como voz sensata num momento de instabilidade global.
Enquanto viajava, o céu clareou para o
governo também no plano doméstico. As manifestações de domingo ajudaram a
enterrar a PEC da Blindagem, a que ele se contrapôs desde o primeiro momento, a
ponto de ficar irritado com o flerte de alas do PT e da esquerda com a
estapafúrdia ideia de “casar” sua votação e a de uma “anistia light” para
Bolsonaro e os demais condenados por tentativa de golpe.
O Senado
virou um aliado estratégico, com Davi Alcolumbre e Renan Calheiros
pilotando a ofensiva para fazer contraponto público a Hugo Motta e Arthur Lira.
Ao arquivar a blindagem e avançar com a proposta de isenção do Imposto de Renda
para quem ganha até R$ 5 mil alternativa à relatada por Lira, os senadores
acabaram esvaziando duas manobras da Câmara de uma vez: a obstrução da votação
do IR em nome da anistia e a desidratação da proposta do governo, tirando dela
as fontes de compensação para a renúncia fiscal. Caso o Centrão e o PL insistam
nisso, haverá o projeto da dupla Renan Calheiros-Eduardo Braga à disposição do
governo.
Pesquisas de opinião e até o termômetro das buscas no Google
mostram que a boa fase de Lula se traduz em números. Levantamento Pulso Brasil,
do Ipespe, mostrou que a aprovação ao governo chegou a 50%, superando a
desaprovação, de 48%. Lauro Jardim mostrou em sua coluna que o discurso na ONU
resultou no pico de buscas pelo nome do presidente neste ano.
Sem blindagem, com a anistia tendo virado um nó quase
impossível de desatar e com a família Bolsonaro em transe, sem se entender
sobre a necessidade de indicar agora um candidato a presidente, até o Centrão
perdeu todo aquele ímpeto de deixar o governo. Antonio Rueda, presidente do
União Brasil, tem mandado recados de que quer conversar com Lula. Movimento
semelhante teria sido feito pelo presidente da outra metade da recém-criada
federação, Ciro Nogueira, do PP.
Caso se confirme o afastamento do Centrão da direita
bolsonarista, a situação de Jair, Eduardo e do restante do clã poderá se
agravar ainda mais. Os desentendimentos entre Bolsonaro e o filho Zero Três,
que, desde que chegou aos Estados Unidos, só agravou a própria situação e a do
pai, são reflexo da constatação de que a ideia de anistia perdeu força à medida
que a Câmara se desmoralizou com a PEC da Blindagem.
Motta parece ter percebido que permanecer refém dessa agenda
minará qualquer possibilidade de recuperar sua credibilidade. Deixado para trás
por Alcolumbre, com quem vinha se dando relativamente bem, a ele só resta agora
acelerar o projeto do IR e pressionar o governo para que arbitre a corrida em
favor da proposta em andamento na Câmara — afinal, é a original do Executivo.
O tal projeto sem pé nem cabeça da dosimetria — duas semanas
depois que surgiu na pauta ninguém faz ideia de que texto terá, em que crimes
mexerá e propondo exatamente o quê — vai ficando tão desmoralizado quanto a PEC
da Blindagem, a ponto de nem o relator designado, Paulinho da Força, ter alguma
ideia do que acontecerá com ele.
Todo esse cenário adverso deverá fazer com que Tarcísio de
Freitas, que chegou a se expor além da conta para obter a unção de Bolsonaro
como candidato, recolha o time até que a maré ruim para a direita passe e a
lufada de sorte de Lula arrefeça.


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