Realmente estamos num país economicamente muito
complicado
É sabido que a variação do Produto Interno Bruto (PIB) no
terceiro trimestre deste ano foi muito baixa, de 0,1%, conforme noticiado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 4 de dezembro, dia em
que publiquei meu artigo da primeira quinta-feira do mês, escrito na
quarta-feira. Publico também na terceira quinta e só agora pude tratar dessa
variação do PIB, tema sempre interessante.
Nos dois trimestres anteriores, o
crescimento foi de 1,4% no primeiro e 0,4% no segundo. Ou seja, a tendência de
queda é clara. Nos três anos anteriores, o PIB cresceu perto de 3% no ano, mas
a previsão do mercado é de algo próximo de 2% para o PIB de 2025 e de 2026.
Como Lula será candidato, terá de se explicar quanto a essa queda. Ele
enfatizará os 3%, mas essa taxa tampouco é grande coisa. O Brasil deveria
procurar crescer 4% ou mesmo 5%, mas nem o Executivo nem o Legislativo federais
parecem se preocupar com isso. Desde os anos 80 o País vem crescendo pouco,
ficando para trás entre seus pares no grupo dos países em desenvolvimento.
Aliás, o Brasil acaba de sair da lista das dez maiores economias do mundo,
passando à 11.ª posição. Em vez de caminhar para a frente, estamos andando para
trás.
Essa é uma questão estrutural, porque não se altera
rapidamente. Nesse período pós1980, a taxa de investimentos em formação bruta
de capital fixo, como em novas ou ampliadas indústrias, escolas, hospitais,
estabelecimentos comerciais e infraestrutura caiu bastante, em particular no
setor público. Ele foi o maior responsável pela queda desses investimentos, ao
optar pelos benefícios sócioeleitorais. No total do País, a taxa de
investimentos em capital fixo foi de 17,3% do PIB no terceiro trimestre e a taxa
de poupança bruta foi ainda menor: 14,5% do PIB. A taxa de investimentos
deveria estar próxima de 25%. Quem vai encarar essa queda geral e lamentável?
2025 é um caso particular. Candidatíssimo, Lula expandiu
gastos governamentais desde o início do seu governo. Acabou gerando inflação, e
o Banco Central até exagerou na taxa Selic com que se dispôs a
enfrentá-la. 15% ao ano? Quem vai tomar dinheiro emprestado confiando na
rentabilidade de seu empreendimento para pagá-lo? Se você toma dinheiro
emprestado a juros para investir num negócio, é preciso que ele renda o
suficiente para pagar o empréstimo, os juros e ainda renda mais um pouco, o que
seria o lucro do empreendimento. Até o próprio Ministério da Fazenda reconheceu
que a política de juros desacelerou a economia: “O consumo das famílias
desacelerou, refletindo o recuo no consumo de bens duráveis e não duráveis e a
redução no consumo de semiduráveis e de serviços (...) A desaceleração está
associada ao desaquecimento dos mercados de trabalho e de crédito no terceiro
trimestre em resposta aos impactos defasados da política monetária restritiva”,
disse a Secretaria de Política Econômica ( Folha de S. Paulo).
As variações do PIB brasileiro, em geral, seguem ciclos ou
“voos de galinha” em que um avanço se esgota pela limitação dos investimentos.
Em 2025, a taxa de juros precipitou esse esgotamento a taxas menores.
O relatório completo do IBGE pode ser encontrado no site do
instituto, procurando por Contas Nacionais Trimestrais Indicadores de Volume e
Valores Correntes. Ele é muito rico em informações e publica séries de números
de várias décadas atrás, como a do PIB. Entre esses dados estão os setoriais
mostrando, por exemplo, que os setores que mais cresceram foram os de
transporte, armazenagem e correio, indústrias extrativas, informação e
comunicação, construção e atividade imobiliária. Com variação negativa, aparecem
atividades financeiras, seguros e serviços relacionados, eletricidade e gás,
água, esgoto e atividades de gestão de resíduos. Passando ao consumo, achei
interessante constatar que o das famílias também ficou em 0,1%, mas o do
governo subiu 1,3% no trimestre. Parece-me que isso é mais uma evidência da
gastança governamental.
Voltando à encrenca do baixo crescimento, creio que o País
vai demorar a sair dele, se um dia isso ocorrer. Não há conscientização nem da
sociedade nem dos Poderes Executivo e Legislativo quanto ao assunto nem quanto
às suas causas. Em 2027, o Brasil precisaria de um presidente disposto,
primeiro, a colocar a casa do governo em ordem na questão fiscal e seu sucesso
o colocaria na história nacional. Mas Lula, até aqui o favorito em 2026, mais
provavelmente vai procurar criar um sucessor petista para a eleição de 2030,
beneficiá-lo com mais medidas populistas e a festa vai continuar.
Pode até haver uma crise financeira pelo excesso de
endividamento do governo, via continuidade dos déficits públicos. E então seria
um salvese quem puder generalizado.
De minha parte, irei me defendendo e sei que não faltarão
notícias econômicas para digerir e comentar. Conto com a paciência dos
leitores. Há quem diga que o Brasil tem um excesso de economistas, mas
realmente estamos num país economicamente muito complicado. •


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