A que nível desceu o
debate político. O Brasil não se envolve mais em discussões sobre plataformas,
soluções, caminhos a seguir. Nada construtivo. Prefere o xingamento entre facções
distintas nesse embate polarizado, à direita e à esquerda. Seus proeminentes
líderes atiçam e participam ativamente do bate-boca. Eles próprios
estabeleceram assim o nível rastaquera, invariavelmente rude e ignorante da
luta ideológica. Lula, o comandante condenado dos petistas, o escroque das
finanças públicas que não perde, jamais, a verve um tanto quanto tosca com
pitadas de blague, disse que o País não pode ser governado por esse “bando de
maluco”.
Bolsonaro, que
deveria ter ficado calado, preservando o rito cerimonioso do posto que ocupa,
tascou de lá a resposta no estilo apoquentado que já o marcou:”pelo menos não é
um bando de cachaceiros”. Ficamos assim então, entre malucos e cachaceiros.
Cada um falando para a sua claque. Ambos mostrando o misto de despreparo e
condutas equivocadas que trouxeram o Brasil até o atual e lastimável estágio de
indigência de ideias. As reações desbocadas só servem para cevar o ódio digital
que explodiu nos últimos tempos.
Os haters
partidários estão na ordem do dia. E curiosamente, de sua parte, a esmagadora
maioria da sociedade mostra rejeição veemente à prática da disseminação da
intolerância. Tanto que seus promotores, seja ele Bolsonaro ou Lula, foram
perdendo popularidade na mesma proporção em que se enfronhavam por essa trilha.
Curioso contrassenso: logo aqueles que buscam, ou buscaram, se perpetuar no
poder por meio de condutas populistas não demonstram o menor feeling para os
reais anseios da população. Vamos nos ater, por vez, ao atual mandatário e aos
inúmeros – diários digamos assim – gestos de insensatez administrativa que
estão a colocar suas ambições de reeleição no extremo oposto da vontade do
eleitorado.
Será que ele e o seu
“bando de maluco” acharam mesmo razoável o estímulo à homofobia e ao turismo sexual,
incentivando gringos a vir para cá pegar mulher, gay não porque o capitão não
quer e não vai permitir? Que diabos de chefe da Nação é esse que ofende, ao
mesmo tempo, boa parte dos extratos sociais que estão sob sua tutela? E o que
dizer da investida contra a diversidade na forma de proibição de um comercial
do Banco do Brasil para as camadas jovens? Como explicar o ministro da
Educação, Abraham Weintraub, recém conduzido à vaga após gestão caótica do
antecessor, falar de corte nas verbas de universidades públicas que, nas
palavras dele, promoverem “balbúrdia” nos campus?
Lembrando que a tal
algazarra nada mais seria que a abertura dessas instituições à livre
manifestação dos alunos. Talvez com o endosso superior, o MEC parece promover
de maneira abjeta a ideia de uma “lei da mordaça” nas faculdades. Só faltava
essa. No mundo dos gurus tresloucados, de filhos com sensores verbais
belicistas e ministros barbeiros, sobejamente despreparados, Bolsonaro encarnou
de forma primorosa códigos de desprezo à democracia e de quebra sistemática do
respeito à individualidade humana. Encaminhou ao Congresso um projeto que
dispensa de punição o produtor rural disposto a atirar em invasores de terra —
mesmo o garoto pilhado ali roubando galinhas ou arrancando uma fruta do pé de
manga.
Estamos prestes a
abrir uma longa temporada de licença para matar. Barbárie pode ser o passo
seguinte. Em tempo: por que investir mesmo em filosofia ou sociologia? Esse
papo cabeça é coisa de esquerdopata maluco — perdão, cachaceiro. Tira os
recursos dessas bobagens! O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ainda
encaminhou uma contribuição relevante à era dos extremos com o plano de
demonizar a qualquer custo a preservação ambiental. Lógico! Somente
ambientalistas seguidores de Lula e do blábláblá rançoso do barbudo pensam na
ladainha de salvar a Amazônia. Os “ecochatos” saíram de moda. Está dessa
maneira resumida a discussão. Repleta de estampas partidárias, preconceitos
ideológicos, crendices rasteiras e distorção de enfoque em qualquer plataforma
minimamente relevante para o desenvolvimento nacional.
Caso tenha viés
programático identificado com Lula não serve aos bolsonaristas e vice-versa.
Onde foi parar a sensatez e o interesse maior da Nação? Lula e Bolsonaro, no
afã de protagonizarem quem sabe um terceiro turno imaginário, alimentam
mutuamente fantasmas e biscates políticos. Assim se desenrola a disputa no
tabuleiro Brasil. Na base do maniqueísmo. Matando-se uns aos outros, malucos e
cachaceiros pregam a guerra incessante para o triunfo final. Os petistas
trabalham agora para evitar a qualquer custo a aprovação da Reforma da
Previdência. Bolsonaro, por sua vez, como fanfarrão incorrigível, já disse a
aliados que se a reforma passar será reeleito tomando chope na piscina. E os
brasileiros que se acostumem às bravatas.
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