A famosa entrevista de Leila Diniz ao semanário O
Pasquim, em 1969, fez 50 anos outro dia e foi assunto dos jornais, que não
tiveram espaço para reproduzi-la na íntegra. Nem precisavam. Ela está na
internet, completa, com os palavrões mais puros da língua substituídos pelos
asteriscos, como saiu no jornal, e com a franqueza e tranquilidade de Leila.
Nenhuma mulher foi tão livre. Nenhuma foi tão ofendida. E nenhuma tirou tudo
isso tão de letra, sem se fazer de vítima.
Leila gostava de sexo, gostava dos homens e gostava de si
mesma. Ia para a cama com quem lhe agradasse e só com esses. Os que pensaram
que ela estava à disposição —os poderosos e ricaços em geral, habituados a
pagar por seus troféus— se enganaram feio. Um exemplo é a história do general
que a assediava. Quando Leila lhe disse que desistisse, ele foi grosso: “Mas você
dá pra todo mundo!”. E ela: “Eu dou pra todo mundo. Mas só pra quem eu
quero”.
Hoje as feministas a põem entre as suas, mas as daquele
tempo não gostavam dela. Diziam que ela “fazia o jogo dos homens”. Os militares
a ameaçavam. Leila foi boicotada pela televisão e passou apertos. Não se
conhecem queixas de sua parte. Talvez achasse que era o preço a pagar.
Quando se vê hoje sua foto na capa do Pasquim,
de toalha enrolada na cabeça, pode-se perguntar “Por que essa toalha?”.
Simples. Antes de ir para a entrevista, em Ipanema, Leila foi à praia dar um
mergulho. De lá, seguiu direto para o apartamento de Tarso de Castro, onde a esperavam
seus entrevistadores: Tarso, Jaguar, Sérgio Cabral (pai), Luiz Carlos Maciel,
Tato Taborda e o fotógrafo Paulo Garcez.
Ao chegar, Leila pediu para tomar uma chuveirada. Deram-lhe
uma toalha. Tomou, voltou para a sala e fez as fotos e a entrevista vestida com
sua saída de praia e a toalha na cabeça, sem pose, sem maquiagem. Tinha 24
anos. Era a antiestrela, a antivamp. Apenas uma mulher com sua verdade.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen
Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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