Bolsonaro apoia fritura de Regina Duarte e fala em
dificuldades dela
BRASÍLIA Na última semana, com o aval de Jair
Bolsonaro, aliados do presidente deram início a um processo de fritura
de Regina Duarte, com o objetivo de fazer com que ela peça demissão do
cargo de secretária especial da Cultura antes mesmo de ter completado dois
meses na função.
Na noite desta terça, na portaria do Alvorada, Bolsonaro
criticou o distanciamento de Regina, que está trabalhando de casa em São Paulo,
e afirmou que a secretária tem dificuldade na condução da pasta.
“Infelizmente a Regina está trabalhando pela internet ali e
eu quero que ela esteja mais próxima. Uma excelente pessoa, um bom quadro, é
também uma secretaria que era ministério, muita gente de esquerda, pregando
ideologia de gênero, essas coisas todas que a sociedade, a massa da população
não admite e ela tem dificuldade nesse sentido”, disse o presidente.
Bolsonaro, porém, negou que esteja insatisfeito com o
trabalho da secretária. “Quem falou que ela sai? Você acredita na imprensa? Eu
não acredito”, disse, ao ser questionado sobre a situação. “Eu queria que ela
estivesse em Brasília para conversar mais com ela. Só isso. Mais nada. Eu sou
também apaixonado pela namoradinha do Brasil.”
Regina também tem sido vítima de fogo amigo de membros da
secretaria que permaneceram da gestão passada e que, na avaliação deles, não
têm sido prestigiados por ela até o momento.
Integrantes do governo e do setor cultural que apoiaram a
escolha da atriz para o cargo disseram ainda, sob condição de anonimato, que a
atuação de Regina vem sendo decepcionante.
A
atriz tomou posse no dia 4 de março, depois de uma longa negociação com a
TV Globo, que pôs fim a um contrato de mais de cinco décadas.
Ela havia aceitado a proposta para integrar a equipe de
Bolsonaro no fim de janeiro, substituindo Roberto
Alvim, demitido depois de fazer um vídeo em que parafraseava o discurso de
um ministro da Alemanha nazista.
Bolsonaro já disse a aliados que espera que parta da própria
Regina uma decisão de deixar o governo. Ele também deu carta branca para que
seus apoiadores critiquem a secretária.
Mesmo com a pressão, e de pessoas próximas verem em suas
publicações nas redes sociais um sinal de esgotamento, a atriz tem resistido.
Ela tem dito a aliados que fica no governo até quando o
presidente quiser e tem afirmado que confia em Bolsonaro e que fará medidas no
setor cultural.
Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria Especial
da Cultura informou que “Regina Duarte segue trabalhando, reunindo-se com a
equipe, representantes do setor cultural, determinada a fazer seu melhor pela
cultura, sempre alinhada com o presidente Jair Bolsonaro”.
Desde que chegou ao cargo, Regina não fez anúncios
contundentes para o setor cultural. Ela vem sendo cobrada pelo meio artístico
pela liberação de recursos para o setor num momento de dificuldade.
Aos 74 anos, Regina integra o grupo
de risco da Covid-19 e
foi desaconselhada a manter a rotina de viagens para Brasília. Desde o fim de
março ela está trabalhando de São Paulo.
No período, foram só duas medidas anunciadas pela pasta —a
flexibilização de prazos para editais e alterações de políticas de reembolso de
shows e eventos que foram suspensos por causa da crise.
Não houve liberação de recursos, como vem sendo demandado, por exemplo, com o descontingenciamento do Fundo Setorial do Audiovisual.
Não houve liberação de recursos, como vem sendo demandado, por exemplo, com o descontingenciamento do Fundo Setorial do Audiovisual.
Incomodou a classe artística o fato de a atriz ter dito em
reunião com ministros da Cultura na Unesco, na semana passada, que o governo
incluiu a cultura entre os trabalhadores que terão direito ao auxílio
emergencial de R$ 600.
Os profissionais da área ficaram de fora do benefício.
Um projeto de congressistas da oposição foi aprovado para
incluir trabalhadores do meio artístico entre beneficiários, mas Bolsonaro
avisou que não deve estender o programa a nenhuma categoria.
Segundo a secretária de Cultura do Pará, Úrsula Vidal, que
preside o fórum de secretários e dirigentes estaduais de Cultura, as medidas
anunciadas até aqui por Regina não suprem as necessidades do setor e não
atingem todo o país.
Ela defende mais investimento e explica que em vários
estados foram feitos editais que estão pendentes da liberação de recursos
federais.
Na Secretaria de Cultura, Regina enfrenta dificuldades
operacionais como falta de equipe e de autonomia.
Embora a pasta tenha sido transferida formalmente do
Ministério da Cidadania para o do Turismo, parte da estrutura que presta
assessoramento ainda não foi deslocada.
A secretária também vive uma queda de braço com o presidente
da Fundação
Palmares, Sérgio Camargo.
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