Congresso acumula 32 pedidos de impeachment e sete de CPIs
para investigar Bolsonaro
BRASÍLIA – Apesar da aproximação do governo com líderes do
Centrão para tentar se “blindar”, partidos da oposição e de centro aumentaram
nos últimos dias a ofensiva contra o presidente Jair Bolsonaro no Congresso. Ao
menos sete pedidos de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) estão na fila
para serem abertos e os requerimentos de impeachment se acumulam na mesa do
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nesta quinta-feira, 21, mais um
foi apresentado, totalizando 32 – o que o torna recordista de pedidos em 17
meses de governo, como mostrou o Estadão.
Um dos pedidos de CPI mais avançados é o encabeçado pelo
Cidadania, que tem como foco a investigar as acusações, feitas pelo ex-ministro
da Justiça Sérgio Moro, de que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal
para proteger aliados. “Aqui no Senado já temos quase todas as assinaturas
necessárias”, afirma a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), sem, no entanto,
revelar quantos faltam. Para ser criada, é preciso o apoio de 27 parlamentares.
Na Câmara, onde são necessárias 171 assinaturas, o deputado
Arnaldo Jardim (SP), líder do Cidadania, diz não ver contraposição entre a
investigação parlamentar e a que é conduzida pela Procuradoria-Geral da
República (PGR) sobre o caso. “São esforços que se somam”, disse.
Nos bastidores, a expectativa é que a abertura de uma
comissão sobre as acusações de Moro tem potencial para ser tão ou mais
explosiva do que a CPI dos Correios, que em 2005 apurou denúncias relacionadas
ao processo do mensalão, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Por esse
motivo, o governo tem atuado para conter o avanço das assinaturas e evitar que
uma investigação neste momento pode se tornar uma “CPI do fim do mundo”,
fragilizando ainda mais o presidente.
Caso criado, o colegiado poderá solicitar depoimentos e ter
acesso a diversos documentos do governo federal que uma comissão normal da
Câmara ou do Senado não teria. Em 2005, a CPI foi criada para investigar as
denúncias de corrupção nas estatais, mas o foco acabou virando para o mensalão.
Sob pressão de aliados e após sofrer sucessivas derrotas
políticas no ano passado, Bolsonaro passou a distribuir cargos aos partidos do
Centrão em troca de apoio no Congresso, ressuscitando a velha prática do “toma
lá, dá cá”. Até agora, Progressistas, Republicanos e PL já foram contemplados.
Como revelou ontem o Estadão, até mesmo a liderança do governo na Câmara deve
ser transferida para um indicado do bloco.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) é autor de um dos
pedidos de CPI, apenas na Câmara. Ele diz ter coletado 101 assinaturas até o
momento e cita as sessões virtuais, em que parlamentares não precisam estar
presencialmente em Brasília, como um obstáculo. “No plenário a gente faz corpo
a corpo, pede um a um, por requerimento na frente do parlamentar e entrega a
caneta. Argumenta e pronto. A distância é duro”, disse. O deputado Aliel
Machado (PSB-PR) diz ter 120 assinaturas para o mesmo pedido. “Nossa
expectativa é de conseguir todas as assinaturas em até 20 dias.”
O PSOL fez o requerimento no fim de abril e até o momento
conseguiu 80 assinaturas. Há ainda pedidos da Rede, PSDB e PT. “Estou
confiante, o apoio a Bolsonaro, dentro da Câmara, tem diminuído bastante.
Lembrando que hoje temos o apoio de partidos de centro e direita que querem o
afastamento do presidente”, disse o líder do PT, Enio Verri (RS).
Impeachment
Nesta quinta-feira, partidos de oposição protocolaram um pedido coletivo de
impeachment contra Bolsonaro. A diferença, agora, é que siglas, movimentos sociais
e associações se uniram para fazer pressão pela saída do presidente através de
um documento único. Os outros pedidos haviam sido apresentados individualmente
por parlamentares.
No pedido, a oposição denuncia Bolsonaro com base em três
pontos principais. Um deles foi o apoio ostensivo do presidente e sua
participação direta em manifestações antidemocráticas contra o Congresso e o
Supremo Tribunal Federal durante a pandemia do novo coronavírus; outro são as
suspeitas de interferência política na Polícia Federal; e os pronunciamentos
feitos em cadeia nacional contra o isolamento social, recomendado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e entidades médicas como forma da conter a
propagação da covid-19.
Em apelo ao presidente da Câmara para que aceite o pedido de
impeachment, parlamentares de partidos como PT, PSOL e PCdoB fizeram um evento
no Salão Nobre da Casa para apresentar a denúncia contra Bolsonaro. Estavam
presentes a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), o senador Rogério
Carvalho (PT-PR), o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a líder do PSOL na Câmara,
Fernanda Melchionna (RS).
Nenhum comentário:
Postar um comentário