O Brasil começou a semana sem ministro da Saúde. A julgar
pelas opções na praça, pode ser melhor continuar assim. A saída de Nelson Teich
abriu uma corrida desenfreada pelo cargo. Há gente disposta a rasgar o diploma
de medicina para chegar lá.
Jair Bolsonaro já definiu o perfil do novo ministro. Quer
alguém que sorria na foto enquanto ele dá as ordens. A busca por um fantoche
afunilou a disputa entre dois grupos de candidatos. Os militares, treinados
para obedecer, e os cloroquinistas, que topam receitar pílulas mágicas na
pandemia.
Há quatro dias, o general Eduardo Pazuello despacha como
ministro interino. Ontem ele passou no primeiro teste de fidelidade. Em reunião
da OMS, omitiu a gravidade da crise no Brasil e disse que o governo federal
busca o diálogo com estados e municípios. Seria bom se fosse verdade, mas não
é.
O presidente já encarregou Pazuello de autorizar o uso de
cloroquina em pacientes com sintomas leves da Covid. O autógrafo aumentará suas
chances de ser efetivado. Como não é médico, ele não corre o risco de ter o
registro cassado por charlatanismo.
Entre os civis, desponta Nise Yamaguchi, a Doutora
Cloroquina. Em campanha para virar ministra, ela se especializou em dizer o que
o presidente quer ouvir. No domingo, a oncologista fez oração e chorou com um
youtuber governista. Ontem declarou que aceitaria um convite de Bolsonaro. Nem
precisava.
Preterido na sucessão de Luiz Henrique Mandetta, o
negacionista Osmar Terra ressurgiu das cinzas após a queda de Teich. Em abril,
ele garantiu que a Covid mataria menos de mil brasileiros. O país já perdeu
mais de 16 mil vidas para a doença, mas o deputado quer voltar ao governo para
errar novas previsões.
No fim de semana, a militância bolsonarista lançou mais um candidato: Italo Marsili, devoto do guru Olavo de Carvalho. Ele já comparou o presidente a Jesus Cristo, chamou os ministros do Supremo de “vagabundos” e definiu o Sars-Cov-2 como “uma porra de um viruszinho”. Pelas ideias e pelo palavreado, arrisca ganhar a preferência do capitão.
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