“Bolsonaro vem aí! O Brasil vai endireitar e o Brasil vai mudar de
verdade.”
A entusiasmada declaração do deputado
Onyx Lorenzoni (DEM-RS),
compartilhada em redes sociais, é do dia da oficialização da candidatura do
presidente eleito. O evento ocorreu no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio
de Janeiro, em 22 de julho.
Registros da Câmara mostram que Onyx,
que assumirá a Casa Civil, pediu e obteve reembolso dos cofres públicos por
passagens de ida e volta de Brasília para o aeroporto Santos Dumont, nesta
data, em um valor de R$ 3.720.
Ao todo, há no sistema da Câmara informação de reembolso para Onyx de
mais de 70 bilhetes cuja origem ou destino são aeroportos do Rio e São Paulo,
somando R$ 100 mil.
Desde 2017, ele integra o grupo de parlamentares que coordenou
a pré-campanha e a campanha de Bolsonaro.
As regras da cota de atividade parlamentar —verba que congressistas têm
para atividades do dia a dia— não permitem o uso para fins eleitorais.
A cota é “destinada a custear gastos exclusivamente vinculados ao
exercício da atividade parlamentar”, segundo ato da Mesa Diretora.
Os dados da Câmara indicam que Onyx utilizou dinheiro público também no
momento mais dramático da campanha: a facada
em Bolsonaro em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro.
Há reembolso ao deputado no valor de R$ 469 por uma passagem aérea com
saída do aeroporto Presidente Itamar Franco, o mais próximo da cidade mineira,
para Congonhas, em São Paulo, nesse dia.
No dia seguinte, 7, Onyx deu entrevista coletiva na porta do hospital
Albert Einstein, em São Paulo, para onde o então presidenciável foi
transferido.
A Câmara registra reembolso para o deputado de outros quatro bilhetes
nos dias 6, 7 e 8 de setembro. De São Paulo para Porto Alegre, de Porto Alegre
para o Rio, do Rio para São Paulo e, por fim, de São Paulo de volta a Porto
Alegre.
As viagens de Onyx para São Paulo e Rio que foram reembolsadas pela
Câmara se tornaram mais frequentes à medida que a campanha se intensificava, a
partir de julho. Uma equipe de coordenadores de sua campanha trabalhava em São
Paulo.
As duas cidades também se tornaram QG da campanha porque o então
candidato ficou 23
dias internado no Einstein, em setembro. Quando teve alta, foi para sua
casa no Rio, onde ficou até o fim da eleição.
Em outro exemplo, Bolsonaro se reuniu entre o primeiro e o segundo
turno no Rio com membros da União Democrática Independente (UDI), partido
chileno de direita. Onyx também participou.
Há registro de reembolsos de passagens neste dia do então parlamentar
de Porto Alegre para o Rio e depois do Rio para Brasília. O valor total foi de
R$ 2.700.
Há ainda passagens de assessores do deputado para acompanhá-lo em
viagens ao Rio ou a São Paulo.
Um dos principais discursos do novo governo é o da diminuição de gastos públicos. Onyx é um dos divulgadores desse lema.
Um dos principais discursos do novo governo é o da diminuição de gastos públicos. Onyx é um dos divulgadores desse lema.
Em entrevista coletiva na semana passada, ele disse que abrirá mão de
seu cartão corporativo e comentou também sobre viagens
em avião da FAB (Força Aérea Brasileira).
“Eu vou abrir mão do meu cartão corporativo. Mas acabar com ele ainda é
uma coisa que vai ser discutida. Aquela coisa de pagar jantar, pagar vinho,
pagar uísque não sei quantos anos, nesse governo não vai ter não”,
afirmou.
“Eu vou dar meu exemplo pessoal. Desde que eu fui nomeado ministro da
transição, eu poderia ter usado avião da FAB, eu nunca fiz isso”, disse.
Onyx foi questionado pela Folha sobre a utilização de
dinheiro da Câmara para deslocamentos fora das regras permitidas pela Câmara,
mas não respondeu até a publicação da reportagem.
Bolsonaro também usou sua cota parlamentar para custear viagens pelo país
em 2017 e, no primeiro semestre deste ano, para participar de eventos em que
era mencionada sua pré-candidatura à Presidência.
Na época, seu chefe de gabinete afirmou que o deputado não estava em
campanha “seja para qual cargo for” e que as despesas ressarcidas pela Câmara
“foram realizadas em consonância com os preceitos legais e regimentais.”