O blog Sou Chocolate e Não Desisto reproduz a entrevista do ex-governador do Ceará, Adauto Bezerra, concedida ao jornal O Povo em outubro deste ano, após as eleições. Aos 84 anos, com vários mandatos de deputado estadual, federal e 35 anos após ter assumido como governador do Ceará, Adauto Bezerra continua firme e forte. É um ícone da política cearense.
O POVO - Vamos começar a entrevista já falando sobre o senador Tasso Jereissati?
Adauto Bezerra - Eu poderia dar uma ideia? Por que não começamos lá do passado?
OP - Claro. Pois por qual parte o senhor quer começar?
Adauto – Comecei minha vida pública quando fui eleito pela primeira vez em 1958.
OP – Qual era o partido?
Adauto - UDN (União Democrática Nacional). Aí vieram os governos Parsifal Barroso, Virgílio Távora, Plácido Castelo, veio César Cals, o Adauto Bezerra, Virgílio de novo, Gonzaga Mota...
OP – Aí veio a eleição que o senhor disputou com o Tasso, em 1986.
Adauto – Lembro que quando saí do governo fui deputado federal. Vim ser vice do “Totó” (ex-governador Gonzaga Mota, 1983-1987).
OP – Como o senhor virou político?
Adauto – No meu caso, foi um acaso. Eu era tenente e meu irmão Humberto também. Servíamos em Recife. A campanha era a de 1954. Meu pai foi vereador, presidente da Câmara de Juazeiro do Norte. O candidato à época era meu padrinho José Geraldo da Cruz. Em maio, plena campanha, meu pai teve um infarto. Foi fulminante, ele morreu. Daí, o Zé Geraldo, que era o prefeito, estava em Recife e foi à minha procura e do Humberto. “Perdi a minha campanha, meu compadre acaba de morrer e não tenho mais pra onde sair. Talvez tenha até que desistir”. Eu e Humberto conversamos: “vamos honrar o compromisso do pai”. A vitória foi maravilhosa. Como éramos gêmeos, viramos “Os Bezerras”, “Os meninos”, “Os tenentes” que ganharam a eleição. Aí começou o nome a entrar na onda da especulação.
OP – Quantos anos tinha?
Adauto – 28 anos. Era primeiro tenente. O Zé Geraldo, eleito prefeito e empossado, venho transferido para Fortaleza e ele me pediu para ajudar e eu ser o ponto de contato dele (em Fortaleza) para a prefeitura. No final disse “meu afilhado, você vai ser deputado. Juazeiro não tem deputado”. Já tinha sido promovido a capitão, 29 anos, meu nome cresceu na cidade. Não tinha experiência. Pra surpresa minha fui o mais votado de Juazeiro.
OP – A que o senhor atribui ter sido o mais votado?
Adauto – Meu pai. “É o filho do Zé Bezerra”. Comprei um Jeep 1954. Rodei todo o Cariri, distrito por distrito, só voltava à noite. Geralmente ia fardadinho. O Jeep parava, eu ficava em pé. Daqui a pouco tinha 20 pessoas e eu dava o recado. A UDN elegeu 16 e fui o oitavo mais votado. Na segunda eleição, já fui o mais votado do Estado. Na terceira, mais votado. Na quarta, o mais votado. Na escolha para governador, veio o Petrônio Portela (político piauiense) sondar quais seriam os melhores candidatos para levar ao presidente Geisel. Era 1974. Fui escolhido. A comunicação foi por telefone.
OP – A comparação pode parecer esdrúxula, mas o senhor vê alguma semelhança na carreira política dos irmãos Adauto e Humberto e dos irmãos Cid e Ciro?
Adauto – Pode até parecer. É que eu e o Humberto somos iguais em tudo. Às vezes, num almoço, eu com meu prato e ele afastado, quando terminamos, o que estava no meu prato estava no dele. Somos irmãos quase siameses. Eles às vezes destoam. Você não vê que o Ciro é mais língua solta? Ao passo que o Cid é calmo, tranquilo, sereno, ouve muito, fala pouco. É o comportamento de cada um.
OP – Qual é a sensação de perder uma eleição?
Adauto – Sempre tive uma vida pensando no melhor e também no pior. Sabendo subir a escada degrau por degrau, e sabendo que depois do último degrau você tem que descer. Tem que saber a hora certa. Quando não sabe, o próprio tempo se encarrega de dizer. Tive 32 anos de mandato, deputado federal, estadual, governador e vice-governador. Dei a minha cota. Outro veio. Veio o Tasso. E faço justiça: até a minha época, a política era mais de clientelismo.
OP – O senhor aceita a crítica?
Adauto – Eu fiz, fiz. É autocrítica. Vamos raciocinar. Você é um prefeito, mora a 400 km de Fortaleza e quer falar com o governador. É barrado, não entra. Nunca fiz isso, mandava entrar. Podia atrasar, ficava esperando, mas atendia. E todos pediam um empregozinho. Era a professora, o delegado, servente, vigia, essas coisas. O Tasso fez uma inovação. “Sou administrador, cada prefeito cuide de sua administração e eu vou fazer a minha”. Ficou meio distante, se isolou. Vamos reconhecer, ele foi um bom governador, um bom senador. Não posso deixar de reconhecer.
OP – O senhor votou nele?
Adauto – A minha idade... (Risos) Eu fui dispensado.
OP – Era o momento de Tasso ter sido alijado de um cargo público?
Adauto – Não. Acho que ele é muito jovem para dizer “vou desistir, não quero mais, vou cuidar dos meus netos”. Eu não diria isso. Ele pode aparecer de novo na crista da onda e voltar a ser governador, senador. Pra que dizer isso?
OP – O senhor acha que ele disse isso por mágoa?
Adauto – Ele começou com 60 e poucos por cento e caiu, seguiu numa linha de descida. Ele sempre foi muito ligado aos Ferreira Gomes. E no final os dois não votaram nele. Deve ter ficado com algum ressentimento. O próprio Lúcio também, poderia estar unido. Mas isso é um direito de todos. Ninguém quer ficar subordinado a vida inteira. Quer autonomia. Isso é natural de toda atividade.
OP – O Tasso perdeu para o Lula?
Adauto – Foi.
OP – É histórico na política do Ceará quando o Gonzaga Mota passa para o outro lado e resolve apoiar Tasso. Seria similar a hoje?
Adauto – Eu era o vice-governador e disse muitas vezes “Gonzaga Mota, você é governador porque o Virgílio indicou seu nome. A força era dele”. “Mas Adauto, eu quero ter meu partido, quero ser um chefe político também”. “É um direito seu, mas não dá para você conviver sem rompimento?”. “Mas o Virgílio não me dá espaço”. “Fique à vontade, eu fico com o Virgílio porque comecei com ele e vou começar com ele”. “Mas Adauto, poderíamos ficar nós dois”. “Não, se você quiser ficar, vamos ficar os três”. Ele dizia: “faço todo acordo com você, não quero é com o Virgílio no meio”. “Então você não me terá porque não vou abandonar o Virgílio”. Meu pai começou com o pai do Virgílio, comecei com o Virgílio, por que eu iria largar esse homem? Não havia perigo.
OP – Que leitura o senhor faz desse cenário, onde está se consolidando um grupo muito forte politicamente, o dos Ferreira Gomes?
Adauto – O pessoal diz que o ciclo de poder não ultrapassa 20 anos. Quando se chega aos 20 anos de poder, tem 20 de realizações. Não passou 20 anos de graça, porque foi julgado 20 anos. Aí chegou a época de não ser mais reeleito. Acabou? Não. As obras vão falar. Tasso não é um homem para voltar a ser enclausurado. O que faltou? Comunicação.
OP – O senhor chegou a manter contato com o Tasso?
Adauto – Não telefonei porque poderia pensar “o Adauto me telefonar na hora da minha derrota?”, “será que é vingança do Adauto dizer isso, porque eu o derrotei?”. Não se trata disso. Olha o que falei, grande governador, grande senador. Acho que não era a hora da substituição dele. Ele ainda tem muito o que fazer. Chegou a hora de descer a escada.
OP – E o que o senhor acha dos novos senadores?
Adauto – Peço a Deus que eles (José Pimentel e Eunício Oliveira, eleitos) se comportem muito bem, que pelo menos cheguem ao que o Tasso chegou, por ter representado muito bem o Estado. E o Cid, digo a vocês, ninguém melhor do que ele para governar o Estado atualmente.
OP – Se o senhor tivesse votado nessa eleição, teria sido nele?
Adauto – Com toda certeza. Quer ver o telegrama que mandei pra ele? (Pede à secretária o telegrama. Quando o gravador é religado, começa contando uma história ocorrida em sua sala). Veio um deputado aqui, tive pena dele. Ô baixinho pra trabalhar.
OP – Quem é?
Adauto – Heitor Férrer (deputado estadual reeleito, do PDT). Esse rapaz chegou aqui com um pacotinho de santinhos na mão. Um por um, entregando. “Mas Heitor, o que é isso?”. “Minha campanha é essa, não tenho dinheiro, não tenho nada. Tudo que consegui até agora foram R$ 12 mil”. Aí dei uma ajuda pra ele. Esse menino pulou (levanta as mãos), “coronel, o senhor me salvou”. É um rapaz sério, bom deputado. É de oposição, mas não é por oposição. Dá o fato.
OP – Quem mais o senhor ajudou?
Adauto - Meu sobrinho José Arnon (deputado federal reeleito, do PTB).
OP – O Cid veio pedir ajuda?
Adauto – Não.
OP – O Lúcio Alcântara veio?
Adauto – Estou meio distante dele. Não veio, não.
OP – Marcos Cals apareceu?
Adauto – Quero muito bem àquele rapaz. Deveria ter sido preparado para ser o candidato, mas o pegaram de última hora e jogaram dentro do rio que só tinha piranha. (Exibe o telegrama enviado a três candidatos e pede que seja lido).
OP – (O primeiro foi para Cid Gomes) “Sua reeleição é fruto de um trabalho feito com inteligência, espírito público, honestidade e competência. Parabéns”. (O segundo foi para Heitor Férrer) “Mais uma vez seu trabalho é reconhecido pelo povo que você representa com seriedade, espírito público, honestidade e competência. Parabéns”. (O terceiro, para Tin Gomes, vice-prefeito de Fortaleza, eleito deputado estadual, do PHS). “Faço votos que seu espelho na Assembleia seja meu grande amigo João Frederico”.
Adauto – Era o pai dele, foi meu colega deputado e era um grande deputado. É isso. Puxei saco de alguém aqui?
OP – Quando foi acusado de fazer parte das “forças do atraso” (em 1986), como se sentiu?
Adauto – O Ciro era o mais cáustico sobre isso. O Tasso também usou. Eu aguardei...
OP – Preferiu ouvir calado?
Adauto – Eu aguardei... (faz uma pausa) e esperei o tempo passar. Mas um dia, lá no meu apartamento, chega o Ciro. Foi pedir para eu fazer parte do apoio ao irmão dele, o Cid. “Vou apoiar”. Na primeira eleição do Cid (ao governo estadual, em 2006).
OP – Qual foi sua reação?
Adauto – “Vou apoiar, vou trabalhar. Rapaz muito bom”. E trabalhei muito (principalmente na região do Cariri). Não guardo ressentimento de nada. A vida é curta, você tem que pensar no melhor, fazer o bem. Vou ficar com rancor e ódio? Aquilo faz mal a mim.
OP – O senhor deixou de ajudar quem o criticou?
Adauto – Nunca entrou uma pessoa aqui para dizer “coronel, me dê uma ajuda para comprar um remédio” e eu não dar. Quer saber quantas pessoas eu abasteço com remédio? (Volta a chamar a secretária). Chega doente, pra fazer cirurgia, comprar remédio, mas eu dou o remédio. Não dou o dinheiro. Chegam pessoas que todo mês a gente dá remédio pra elas. (Pergunta para sua secretária, Tercimar) É você que compra?
Tercimar – Sou eu que compro. E o senhor que paga (risos).
Adauto – Tem um bocado.
Tercimar – No mínimo quatro semanalmente.
Adauto – Tem até mulher de deputado. É mensalidade mesmo. Porque se a gente não der, morrem. Todos são casos de câncer.
Tercimar – Vêm pedidos de ajuda, de gás, passagens...
OP – Parece que o senhor ainda não deixou de ser governador?
Adauto – (Risos) Não. A minha sala é cheia toda vida?
Tercimar – Constantemente. Agenda, então, lotada.
OP – Quando o senhor encontrou com o Ciro, lembrou a ele que tinha sido chamado de força do atraso? Ele pediu desculpas?
Adauto – Não, nunca pediu desculpas. Para mim o assunto nunca existiu. O assunto que ele levou lá era eu apoiar o irmão dele.
OP – Em algum momento teve vontade de revidar?
Adauto – A única coisa que eu e meu irmão temos um pouco de diferença é o temperamento. Ele me chama de “irmã Paula”, porque tudo que vem aqui eu procuro ajudar. Ele não. Eu não fui atrás dele, ele veio à minha procura.
OP - Como avalia o governo Lúcio?
Adauto – O Lúcio? (Pausa) É o seguinte: o Lúcio é inteligente. Como senador, bem melhor que como governador. Porque governador tem que ter decisão. Certo ou errado, quem decide é o governador. O Lúcio é mais “vamos deixar, vamos ver, se for possível a gente faz”. Não é meu sistema.
OP – E a Era Lula?
Adauto – O Lula foi e é um bom presidente. O Lula fez a estabilidade econômica do País. O Lula fez com que o empresário pudesse trabalhar com mais tranquilidade. Os bancos do Nordeste e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) puderam injetar mais recursos gerando mais riqueza e mais emprego. Ninguém pode negar, foi um bom presidente.
OP – Quais são seus afazeres, normalmente?
Adauto – Às sete e meia estou na Santa Casa. Às 9h30min aqui (no Bic Banco). Saio ao meio-dia. Vou pra casa almoçar. Às duas, volto e dou o segundo expediente aqui. Às cinco e meia, a massagista vai lá ou vou na academia. Ou então vou caminhar.
OP – Na Beira Mar?
Adauto – Beira Mar. Mas não levo segurança comigo, não.
OP – Vai só?
Adauto – Vou. Quem quiser pegar um velho de 84 anos pode vir. Não vou correr (risos). Só vou pedir “não precisa bater, o que você quer...”.
OP – O senhor não tem medo de ser sequestrado?
Adauto – Eu? De jeito nenhum. Não adianta, querendo sequestrar não há quem evite.
OP – Coronel, tenho curiosidade num assunto bastante delicado para sua família.
Adauto – Não, tudo bem.
OP – É a sobre a morte de sua sobrinha Ana Amélia (assassinada no Paraguai, em agosto de 2002). O episódio foi fatalidade, tentativa de sequestro? Houve algo mais além do que veio a público?
Adauto – As Polícias do Paraguai e daqui apuraram. Mas chegaram à conclusão que quiseram parar o carro para roubar. Tentativa de assalto. Quando meteram o tiro, era para o carro parar e fazer o assalto, mas acertou a menina.
OP – Aceitaram como fatalidade?
Adauto – Fatalidade.
OP – A família contratou alguém para investigar lá?
Adauto – Se tem sabido quem era, cabôco tinha morrido. Tinha. Trazia pra cá, ia fazer o enterro bonito dele.
OP – Chegaram a dizer alguma vez que o senhor estava em lista de sequestrável?
Adauto – Eu? (risos) A Polícia Federal pegou uma gravação entre pistoleiros. Um dizia pro outro: “Ninguém vai se meter com os coronéis. Porque eles são bons e não tem problema nenhum. Ninguém pode mexer lá com eles”. Foi a notícia que me chegou.
OP – Alguém pensou em sequestro, mas outro descartou logo.
Adauto – Sou muito amigo do Mainha (Ildefonso Maia Cunha, condenado por homicídios no Ceará, que hoje cumpre pena em regime aberto). Muito amigo não, conheço o Mainha. Nos apertos ele vem aqui. Ou vai em Guaramiranga. Não é muito melhor se ter uma fonte de informação como o Mainha do que ter um inimigo como o Mainha? Sabe como ele se identifica (à secretária)? Professor Diógenes.
OP – Como compara a criação de seus primeiros filhos e do filho mais novo, de nove anos?
Adauto - Os mais antigos, eu cometi um erro grande, porque me dediquei demais à política e esqueci um pouco a criação deles. Com esse agora, não. Ele é muito ligado a mim. Ele viajou e, para cada dia, deixou uma mensagem pra mim. No café da manhã está lá a mensagem dele. Não é bom?
OP – O senhor se sente bem tendo sido pai já na terceira idade?
Adauto – É um atestado vivo que tenho para mostrar que ainda estou firme (risos).
OP – O senhor bebe ou fuma?
Adauto – Não bebo nem fumo. A gente vai levando, o tempo passando, não sinto nada. Quase morri. Fiz uma cirurgia, aí tive medo.
OP – Cirurgia de quê?
Adauto – Fui às bodas de ouro do Ivens Dias Branco (empresário). Ele lá serviu um vinho muito bom. Eu talvez tenha exagerado. Fui dormir, duas da manhã acordei com isso (descreve uma palpitação cardíaca mais acelerada). “Silvana (esposa), abra a janela, não tô me sentindo bem. Ligue para o doutor Cabeto” (cardiologista Carlos Roberto Martins Rodrigues). Ele disse que eu tinha o átrio muito acelerado, “vai ficar na UTI. Está 98% entupido no braço direito e 75% no esquerdo. O senhor não pode mais sair do hospital”.
OP – Quando foi isso?
Adauto – Há dois anos. No dia 16 de outubro. “Vai ter que operar”. Eu disse: “Cabeto, vamos pra São Paulo?”. Ele falou que eu não podia sair daqui porque na viagem de avião, eu não suportaria. Nesse período de espera você apavora um pouco. Aí eu disse “Cabeto, eu queria ir lá em casa, escrever. Queria fazer um testamento”. “Não tem problema, chama o cartório”.
OP – Teve medo de morrer?
Adauto – Ora, mas... Foi o (pessoal do) Cartório Machado. Chegou lá, eu disse o que queria. Botei uma (ponte) mamária e uma safena.
OP – O que a gente não perguntou que o senhor acha que deveria ter sido perguntado?
Adauto – Esta é uma pergunta muito boa (risos). O que eu me esqueci? (mais risos) Olha, a vida é muito curta. Você pensa que 84 anos... eles se passaram sem eu sentir que passaram. E o que me resta é muito pouco, então... olhe para o vizinho, veja o que pode estar faltando, dê uma ajuda. Se ele caiu, dê a mão. Humildade. Ninguém pode ser arrogante, prepotente. Porque as coisas acontecem. Quando você menos espera pode estar em cima de uma cama, desenganado, a qualquer hora pode desaparecer e o que você leva? Será que leva? A vida termina aqui? E a outra? Fernando Pessoa já dizia: A vida é uma grande reta, mas lá na frente é uma curva. O corpo fica na curva e o espírito continua. Para onde é que vai?
OP – O senhor tem medo de viajar nessa curva?
Adauto – Não tenho porque sei que tenho que ir mesmo. O que peço a Deus é para não ser aquele doente prostrado, que viva na mão dos outros, dando trabalho. Se for, acabou. Às vezes eu penso em ser cremado, não sei pra quê enterro.
PERFIL
José Adauto Bezerra nasceu em 3 de junho de 1926, em Juazeiro do Norte, 20 minutos depois do irmão gêmeo Humberto. Ambos seguiram carreira militar e, de volta ao Ceará, entraram na política. Adauto foi deputado estadual (1958-1975). Foi indicado governador pelo presidente Geisel (1975-1978). Formou a tríade dos coronéis-governadores, com Virgílio Távora e César Cals. Foi deputado federal (1979-1982) e vice na chapa com o governador Gonzaga Mota. Em 1986, perdeu a disputa ao governo para Tasso Jereissati. Na era Collor, presidiu a Sudene (1990-1991).
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