segunda-feira, 31 de outubro de 2016

VOU APERTAR, MAS NÃO VOU ACENDER AGORA

Do UOL
O senador José Medeiros (PSD-MT) afirmou nesta segunda-feira (31), durante sessão no plenário do Senado, que parte dos estudantes que estão participando das ocupações em escolas pelo Brasil está motivada apenas pelo uso de drogas. Ele disse ainda que os alunos estão sendo liderados por militantes de partidos de esquerda.
Após discursar em favor da MP 746, que prevê uma ampla reforma do ensino brasileiro, e da PEC 241, que limita um teto de gastos públicos ao governo federal, o senador teve um bate-boca com os colegas do PT, Fátima Bezerra (RN), Lindbergh Farias (RJ) e Gleisi Hoffmann (PR).
"Olha, eu vou te falar uma coisa. Esses meninos que estão aí na escola, boa parte, tem uns lá que é para fumar maconha. Estão indo lá para fumar maconha e matar os outros. Que acabaram de matar um, acabou de morrer um", declarou Medeiros, referindo-se à morte do estudante Lucas Eduardo Araújo da Mota, na última segunda-feira (24).
"Não vi senadora Fátima subir lá [ao púlpito do Senado] e lamentar a morte daquele estudante. Alguns meninos daqueles lá estão usando droga sim, porque morreu um. Isso a polícia que diagnosticou", insistiu Medeiros. "Então os pais que estão deixando os seus filhos lá, os seus filhos estão correndo risco de vida".
A declaração de Medeiros indignou o trio de senadores petistas, que chamaram de "absurdo" e desrespeito". Mas o parlamentar do PSD prosseguiu e afirmou que os estudantes estão sendo guiados por militantes de partidos de esquerda.
"Outra parte daqueles estudantes estão ali levados por aqueles chamados 'jovens de 40 anos' dos partidos, do novo PT, né. Porque, o PT como está perdendo aí, estão querendo fugir da marca do PT. Tem petista macho ainda que usa estrelinha, mas outros estão indo aí pro puxadinho. Mas o que eles fazem? Levam as crianças pra lá, pra dentro da escola. É um absurdo o que a gente está vendo nesse momento", disse Medeiros.
"Você chega para os meninos, para boa parte deles, 'você sabe por que você está aqui?'. 'Ah, é que eu sou contra a PEC do ensino'. 'E o que diz ela?'. 'Eu não li'. Boa parte deles. Essa que é a verdade", acrescentou o senador.
A senadora Fátima Bezerra pediu a palavra e criticou José Medeiros. "Não repita mais isso. Não venha mais aqui agredir estudantes", retrucou a petista, que ainda acusou o colega de não ter participado, horas antes, da audiência pública da Comissão de Direitos Humanos em que a estudante Ana Júlia Ribeiro voltou a discursar. Na semana passada, ela ficou famosa por seu discurso na Assembleia Legislativa do Paraná.
Estudantes ocupam escolas em todo o país, sobretudo no Paraná, desde o início de outubro. Eles protestam contra a reforma do ensino médio pela Medida Provisória (MP) 746 e o estabelecimento de teto para os gastos públicos nos próximos 20 anos, previsto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241.
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A VEREADORA OCTAGENÁRIA

Maria de Lourdes Beserra de Souza, mais conhecida como Dona Lourdes do Santa Quitéria, ocupa um gabinete na Câmara Municipal de Curitiba há 12 anos. Em 2017, ela segue no ofício como a candidata mais velha eleita no Brasil: no dia 3 de dezembro, completa 89 anos de idade, feliz e disposta. “Em todos esses anos de Câmara, não faltei nenhum dia, nunca me atrasei ou justifiquei. Então, é a prova de que eu tenho saúde e estou bem, né?”
O interesse pela política sempre existiu, embora a primeira candidatura tenha vindo apenas quando já estava aposentada, após 30 anos de trabalho como telefonista. “Eu trabalho desde os 12 anos. Depois que me aposentei fui para casa e, como moro sozinha, minha vida ficou assim meio monótona, muito parada. Então, resolvi me candidatar e para minha surpresa já na primeira vez consegui me eleger. E estou aqui até hoje!”, conta.
O resultado não foi por acaso. Dona Lourdes já fazia ações para a comunidade há muito tempo. Entre as iniciativas, uma que mantém até hoje e a qual foi ampliada com o cargo de vereadora: o resgate da cidadania. Ela busca certidões de nascimento, de óbito, de casamento, no Brasil inteiro.  “Esse ano mandei trazerem um documento do Amazonas, custou R$ 300”, conta ela, que faz o trabalho com o próprio dinheiro, pois o gabinete não tem verbas para isso.
Em seu mandato, a parlamentar do PSB (Partido Socialista Brasileiro) prioriza a justiça social e a defesa dos direitos dos trabalhadores e excluídos da sociedade. Dona Lourdes explica que sua atuação é voltada aos bairros, à cultura popular e, principalmente, ao acesso à educação e à saúde. “O resto vem junto. E sem documento de nascimento ou casamento, por exemplo, ninguém consegue nada” – por isso a dedicação ao resgate da cidadania, projeto do qual fala com muito carinho. “Tem dias que atendo mais de 20 pessoas. Eles me procuram muito para essa busca de certidão.”
Em seu mandato, a parlamentar do PSB (Partido Socialista Brasileiro) prioriza a justiça social e a defesa dos direitos dos trabalhadores e excluídos da sociedade. Dona Lourdes explica que sua atuação é voltada aos bairros, à cultura popular e, principalmente, ao acesso à educação e à saúde. “O resto vem junto. E sem documento de nascimento ou casamento, por exemplo, ninguém consegue nada” – por isso a dedicação ao resgate da cidadania, projeto do qual fala com muito carinho. “Tem dias que atendo mais de 20 pessoas. Eles me procuram muito para essa busca de certidão.”
Mãe de duas filhas e avó de oito netos, a vereadora se sente admirada e apoiada pela família. “Tive duas filhas, uma é falecida. Foi um golpe muito grande em minha vida a forma como ela se foi. Mas temos que aceitar o que vem pra gente. Meus netos me apoiam bastante, porque a minha idade também conta muito.”
Falando em idade, a vó Lurdes afirma que seus 88 anos são sinônimo de competência e não de incapacidade. “O importante é ser tratada com respeito e eu sempre senti isso, nunca me incomodou”, diz Dona Loudes com sua fala mansa e objetiva, em que se vê uma mulher que não deixa de fazer nada por conta do tempo. Há um cartaz com frases de Madre Teresa de Calcutá, logo na entrada de seu gabinete, que diz: “O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra. Construa assim mesmo. Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode não ser o bastante. Dê o melhor de você assim mesmo”.
Marília Dissenha, TRIP
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INDICADOR DE JUSTIÇA

Pouco antes de se completar um ano da tragédia provocada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana-MG, começa a esboçar-se a punição dos culpados deste que é um dos maiores crimes ambientais da história. No dia 20 de outubro, o MPF denunciou 4 empresas e 22 pessoas. As acusações são de crime ambiental e penal. Foram 19 mortes, centenas de famílias desabrigadas, prejuízos econômicos e sociais incalculáveis e um rastro de poluição no percurso do rio Doce. A punição tem que ser exemplar e, ainda assim, será apenas o início de uma justiça que ainda estará longe de ser completa.
Os procuradores afirmam que os acusados estavam conscientes da gravidade da situação e permitiram o rompimento das barragens por “ações e omissões”. Dizem também que o crime foi motivado pela “ganância desmedida das empresas por lucro”.
Aqui está a principal dificuldade para a justiça plena: o lucro como justificativa para suspender limites éticos. A função social da propriedade, os direitos difusos, o patrimônio público, o equilíbrio ambiental, tudo isso tem sido classificado como despesa que deve ser cortada para garantir o maior lucro possível. Por essa lógica, a lei também é vista como um empecilho; tem que ser mudada ou burlada.
A tragédia da nossa civilização é a inclusão da vida – inclusive a vida humana – nesse rol de despesas indesejáveis. Eis porque é tão longo o caminho a ser percorrido.
A completa justiça exige, além da punição, a reparação dos danos – o que às vezes é impossível ou leva muitos anos – e, principalmente, uma mudança nos valores e no comportamento que propiciaram o crime. Essa mudança ainda enfrenta, no Brasil, enormes entraves. No governo de Dilma, tanto na legislação quanto na ação dos órgãos fiscalizadores, vivemos um grande retrocesso que seu ex-vice e agora sucessor parece pretender continuar e aprofundar.
Vejamos, justamente, o caso da mineração. Projetos de novos marcos regulatórios tramitam no Congresso sem qualquer consulta à sociedade, nem mesmo à comunidade científica, enfrentando os protestos das comunidades e movimentos sociais. Tratam de criar mais facilidades às empresas mineradoras e não trazem novidades quanto à segurança social e ambiental. Consagram uma visão atrasada e insustentável de um setor da economia pelo qual o Brasil constituiu-se como uma colônia e pode continuar sendo – agora, colonizando a si mesmo e aos seus habitantes.
O que pensa sobre isso o “novo” governo? Os dirigentes do Ministério das Minas e Energia, quando se pronunciam sobre o assunto, dizem que a questão institucional precisa ser repensada “em favor do desenvolvimento”. O governo acha que o PIB do setor pode crescer, se for criado o que pensa ser um ambiente de “confiança para os investimentos”. Pretende mudar o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) e nada diz do Conselho de Mineração, há anos sem representação da sociedade.
A verdadeira confiança, tanto de investidores quanto da sociedade, só acontecerá se o Brasil não for uma “terra das oportunidades” para o lucro rápido indefensável e passar a ser um país de leis estáveis e voltadas para a segurança socioambiental, com ganhos que sejam sustentáveis e admiráveis. Um país que cuida do seu patrimônio e não dá “jeitinho” para favorecer interesses escusos. Um país onde não haja a certeza da impunidade retroalimentando o ciclo vicioso dos crimes contra pessoas, patrimônio histórico e meio ambiente.
O mesmo dilema acontece na questão do licenciamento ambiental. Retrocessos nos últimos anos e ameaças de mais retrocessos. O ministro Sarney Filho vê-se em meio a pressões do próprio governo, de sua base parlamentar e, mais recentemente, da Fiesp, com quem se reuniu há duas semanas. Todos querem uma maior desregulamentação, diminuição no poder de ação dos órgãos fiscalizadores, licenças sem senões, ou seja, suspensão de tudo o que consideram entraves ao “desenvolvimento”. Usa-se a desejável busca por agilidade dos processos como pretexto para rebaixar a qualidade do licenciamento.
Nesse ambiente político e institucional, a punição do crime cometido em Mariana pode representar o início de um novo momento. Não é, ainda, uma operação Lava-Jato socioambiental, mas já pode ser um bom indicador para mostrar que o país não aceita mais a cultura da impunidade.
O Brasil só tem a ganhar abandonando o falso dilema entre ecologia e economia. A Justiça pode ajudar a corrigir ideias, normas e posturas que dão suporte e abrigo ao crime ambiental. Tenho defendido a proposta de que crimes ambientais como os de Mariana sejam considerados hediondos. Os crimes cometidos pela Samarco contra a população de Mariana, o patrimônio público, a economia e o meio ambiente foram de tamanha gravidade e magnitude que estão a exigir, também, uma versão das “dez medidas” que o MPF propõe para o combate à corrupção. Não tenhamos dúvida: corrupção e devastação andam juntas e uma alimenta a outra.
Há poucos dias, uma amiga me mostrou o rap Chuva Ácida do compositor Criolo, que traz consigo uma história interessante. O rap foi composto há 20 anos, quando o autor ainda nem era conhecido, para um concurso sobre meio ambiente. Foi gravado em seu primeiro disco, há dez anos, relançado agora com mudanças em algumas letras. Segundo ela, Criolo relançou seu primeiro disco com mudanças porque viu que tinha, no início de sua carreira, preconceitos que ofendiam mulheres e minorias e ele diz que precisava fazer uma reparação, pois mudou e aprendeu muito nesses dez anos. Manteve a música sobre meio ambiente porque continua atual e acrescentou uma introdução exatamente sobre a tragédia de Mariana, além de fazer shows para ajudar as vítimas.
O artista aponta um caminho: aprender, rever seus erros, corrigir-se, mudar. A atualidade de seu protesto ambiental é, infelizmente, uma medida da falta dessa autocrítica e dessa mudança em grande parte do mundo da política e da economia. Enquanto não buscarmos, com sinceridade, a justiça em nossas relações com a natureza e com todas as pessoas, não sairemos do atraso. Mesmo que chamemos esse atraso de progresso, crescimento ou desenvolvimento.
Marina Silva, ex-senadora e fundadora da Rede Sustentabilidade, foi ministra do Meio Ambiente e candidata à Presidência da República em 2010 e em 2014.
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UMA CONEXÃO SUSPEITA

Da ISTOÉ
As investigações sobre o patrimônio oculto do ex-presidente Lula ultrapassaram as fronteiras do Brasil. Depois de identificarem ligações do ex-presidente com imóveis suspeitos em solo nacional, como o tríplex no Guarujá, o sítio em Atibaia e uma cobertura em São Bernardo do Campo, procuradores do Ministério Público Federal (MPF), integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato, apuram se uma mansão em Punta Del Este, no Uruguai, pertence a Lula. A investigação foi iniciada em agosto. O esquema seria semelhante ao adotado pelo petista para as outras propriedades utilizadas por ele no Brasil. No modus operandi tradicional, os imóveis ficam registrados em nome de empresários amigos. Em troca de benesses e tráfico de influência no governo ou fora do País, Lula se transforma no dono real desses imóveis, com poder para deles usufruir quando bem entender, determinar quem entra e sai e até mesmo promover caríssimas reformas, mesmo que oficialmente as propriedades não figurem em seu nome. O que ISTOÉ revela agora é que essa prática se repetiria no Uruguai. Neste caso, a mansão – segundo colaboradores do Ministério Público Federal que estiveram em Punta Del Este – pertenceria a uma offshore ligada ao empresário Alexandre Grendene Bertelle, um dos donos da indústria de calçados Grendene e que, no Uruguai, é proprietário de um sem-número de casarões – entre os quais uma suntuosa casa na rua paralela à do imóvel suspeito de ter ligações com Lula – e sócio de empreendimentos bem-sucedidos como o Hotel e Cassino Conrad.
A casa que motiva a investigação da Lava Jato possui um terreno de 7,5 mil metros quadrados e fica localizada na Calle Timbó, conhecida por Villa Regina, com valor estimado em US$ 2 milhões, segundo corretores locais. A mansão adota o estilo de chalé suíço, com uma escadaria de acesso à residência. O que mais chama a atenção é a grande área verde da propriedade, que cerca toda a edificação. A reportagem de ISTOÉ esteve no local na última quarta-feira 26. A mansão está vazia. Outras moradias da região, reduto de endinheirados da América Latina que escolhem o local para passar temporadas de veraneio, são ocupadas apenas por caseiros.
As informações sobre a possível propriedade de Lula no país vizinho foram transmitidas ao MPF por um conhecido colaborador. Ele fora responsável pelas denúncias que levaram à deflagração da Operação Lava Jato. Daí a sua confiabilidade. No mesmo dia em que entregou documentos à Lava Jato, esse delator narrou que vários ônibus de excursão, responsáveis por conduzir comitivas de brasileiros pela paradisíaca Punta Del Este, passam defronte a casa de Calle Timbó e dizem, sem pestanejar, que a propriedade pertence a Lula. Em duas dessas visitas monitoradas, os turistas brasileiros demonstraram revolta ao receberem a informação. Um deles chegou a fotografar a casa de dentro do ônibus. Na última semana, o procurador destacado para investigar o caso disse à ISTOÉ que se encontra na fase de coleta de provas. Ele não descarta a possibilidade de pedir a colaboração do governo uruguaio. Na Procuradoria da República, a investigação está sendo tratada com total discrição. A avaliação é de que, se no Brasil já é difícil caracterizar a ocultação de patrimônio quando ele figura em nome de terceiros, em Punta del Este, no Uruguai, torna-se ainda mais complicado puxar o fio desse intrincado novelo. Haja vista que lá os imóveis, em geral, ficam escondidos em offshores, dificultando o rastreamento. Procurada por ISTOÉ, a assessoria de Lula repetiu uma versão já conhecida. Disse que o ex-presidente não tem nenhuma casa ou conta no exterior e que todas as propriedades dele estão em São Bernardo do Campo e são devidamente declaradas.
Mais um mecenas?
Se o triplex do Guarujá está em nome da OAS de Léo Pinheiro, o sítio de Atibaia no de Fernando Bittar e Jonas Suassuna e a segunda cobertura de São Bernardo no de um primo do pecuarista José Carlos Bumlai, o mecenas de Lula na mansão de Punta Del Este seria o bilionário Alexandre Grendene. O empresário do ramo calçadista mantém relações com Lula – e com os políticos de um modo geral. Durante o governo do petista, Grendene obteve empréstimos subsidiados do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no valor de R$ 3 bilhões. Esses empréstimos estão sendo investigados pelo Ministério Público Federal de Novo Hamburgo (RS). Só para a compra da Vulcabrás, o BNDES emprestou R$ 314 milhões para a Grendene. Os irmãos Pedro e Alexandre Grendene participaram também em 2008 de um negócio para implantação de usinas de açúcar e álcool no valor de R$ 1,8 bilhão, com dinheiro do governo. Integraram a negociação, além dos Grendene, a Odebrecht, o empresário André Esteves (Banco Pactual) e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo íntimo de Lula.
Há outro significativo elo entre o empresário e Lula. Grendene foi um dos empresários que doaram parte dos R$ 10,8 milhões que custearam o filme “Lula, o filho do Brasil”, inspirado na trajetória do ex-presidente petista e dirigido por Fábio Barreto. Ele também colaborou com o “Fome Zero”, carro-chefe da política social do petista no início do primeiro mandato – uma espécie de embrião do Bolsa-Família. Ainda no primeiro governo petista, o guitarrista Lenny Kravitz doou sua guitarra para o programa de combate à pobreza, que leiloou o instrumento em maio de 2005. O empresário Pedro Grendene pagou R$ 322 mil pela guitarra, uma cobiçada Epiphone Flyng V preta autografada, mas o episódio, como tantos outros envolvendo o PT, terminou na Lava Jato. A força-tarefa passou a investigar o destino da renda obtida com os instrumentos. Análise de e-mails de Bumlai, amigo de Lula, mostrou que houve uma disputa entre a ONG Ação Fome Zero e o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome pelo direito dos recursos levantados com os leilões. Em resposta à ISTOÉ na quinta-feira 27, a assessoria de Grendene disse que ele estava no exterior. Um assessor da diretoria da empresa afirmou, no entanto, que a história de que Grandene seria uma espécie de testa-de-ferro do ex-presidente petista no Uruguai não “passa de um absurdo completo”.
O sítio e a cobertura
Nos últimos dias, a Lava Jato fez novas descobertas acerca do patrimônio oculto de Lula. No caso do sítio de Atibaia, um dos maiores amigos do ex-presidente na área empresarial, Alexandrino Alencar, ex-executivo da Odebrecht, revelou detalhes da reforma do imóvel feita pela empreiteira durante processo de delação premiada em Curitiba. O executivo era um dos porta-vozes de Lula dentro da empresa. Era o amigo das viagens feitas por Lula à América Latina e África à bordo de jatinhos da Odebrecht.
Na negociação de sua delação com a Justiça do Paraná, Alexandrino confirmou que a Odebrecht participou de um consórcio junto com a OAS e o pecuarista José Carlos Bumlai, para reformar o sítio de Atibaia. Segundo ele, a Odebrecht iniciou a reforma em outubro de 2010, quando Lula ainda era presidente. A empreiteira ficou responsável pelas obras de um anexo às quatro suítes do sítio. A propriedade está em nome de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, e Lula, mais uma vez, nega ser dono do local. A Polícia Federal, no entanto, não tem dúvidas de que o sítio é mesmo do ex-presidente.
Em outra frente, a força-tarefa da Lava Jato deu início esta semana a uma investigação sobre uma segunda cobertura que Lula ocupa no edifício Green Hill, em São Bernardo do Campo. O Ministério Público Federal investiga se o imóvel, localizado ao lado da primeira cobertura de Lula, foi adquirida com dinheiro da Odebrecht. Em dezembro de 2010, Glaucos da Costamarques, primo do pecuarista José Carlos Bumlai recebeu R$ 800 mil da DAG Construtora, investigada pela PF por ter sido usada pela Odebrecht para negócios ilícitos. Com o dinheiro, Glaucos comprou a cobertura vizinha de Lula e a alugou para o ex-presidente. O petista garante que pagou aluguéis e que os mesmos encontram-se declarados em seu Imposto de Renda. Somente em 2015 pagou R$ 51,3 mil a Glaucos. Os procuradores suspeitam que tudo tenha sido feito para ocultar o verdadeiro dono do imóvel. Na realidade, o próprio Lula. A história se repete.
Saint-Tropez latina
Punta Del Este, no litoral Sul do Uruguai, onde está localizada a mansão alvo de investigação da Lava Jato por possíveis ligações com Lula, é considerada a Saint-Tropez da América do Sul. Praias paradisíacas, cassinos de luxo, hotéis suntuosos. Uma cidadezinha de 10 mil habitantes, mas que no verão reúne os novos ricos do mundo todo e muitos milionários brasileiros, provocando congestionamentos de Mercedes-Benz e Ferraris nas ruas da cidade.
Os carros são conduzidos de São Paulo para lá – a distância é de 1.900 Kms – pelos motoristas, enquanto os patrões percorrem o trajeto de avião. As mansões de veraneio de milhares de dólares ficam vazias o ano todo, mantidas por caseiros que se recusam a falar com jornalistas, e só são ocupadas na alta temporada.
Foi nesse cenário bucólico que Lula foi descansar logo que se elegeu presidente pela primeira vez em 2002. Jornalistas locais relataram que o petista descansou na casa de um amigo em Punta Del Este por alguns dias. Gostou do que viu.
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ABC SEM PT

Com o insucesso dos dois únicos candidatos do PT no ABC paulista, ambos prefeitos que tentavam a reeleição, o partido não vai administrar prefeituras no seu berço político a partir de janeiro de 2017 – um fenômeno que acontece pela primeira vez desde 1982. Dos quatro municípios da região que tiveram segundo turno, dois elegeram prefeitos do PSDB, um do PSB e um do PV. Nas outras três cidades que formam a região do ABC, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, o partido também não elegeu prefeitos.
São Bernardo do Campo, a maior cidade do ABC, escolheu ontem Orlando Morando (PSDB). Ele obteve 59,94% dos votos válidos contra 40,06% de Alex Manente (PPS).
Morando disse que uma das suas primeiras medidas será fazer uma reforma administrativa, com imediata redução do número de secretarias e de cargos comissionados, e acabar com regalias como carro oficial. “Todos aqueles petistas que vieram do Brasil inteiro e que estão em cargos comissionados vão retornar para suas cidades de origem.”
O prefeito eleito de São Bernardo do Campo creditou a derrota do PT no ABC à alta taxa de desemprego. “O PT ganhou representação política nacional, porque representou os trabalhadores e se tornou o partido que mais gerou desemprego no País. São Bernardo tem 18% da população desempregada enquanto no Brasil é 12%”, disse.
Em Santo André, os eleitores escolheram Paulo Serra (PSDB) para administrar a cidade nos próximos quatro anos. O tucano obteve 78,21% de votos e venceu a disputa contra 21,79% do atual prefeito, Carlos Grana (PT). O petista ficou, praticamente, com o mesmo número de votos do primeiro turno. Secretário de obras e serviços públicos da gestão municipal petista até o meio de 2015, Serra deixou o PSD e entrou para o PSDB no ano passado.
Ele disse que se “surpreendeu muito” com o número de votos que teve, porque não esperava votação tão expressiva. Para ele, o PT errou “por trair a confiança” do eleitor. “É um partido que foi criado com princípios éticos, numa gestão que seria com participação de todos e, na prática, não foi isso que se verificou. A gestão tem que ser para todos”, afirmou.
Mesmo com a derrota, Grana usou tom otimista ao falar com militantes no diretório municipal do PT. Disse que é preciso ficar atento a essa “onda de direita que tomou conta do País”. Como nova oposição, pediu que petistas e partidos aliados se articulem para que não haja retirada de direitos. Ele ainda disse que PT não foi partido criado só para disputar eleição, mas também para mudar a sociedade.
“Precisamos reconstruir nossa relação com a sociedade. Recuperar a credibilidade e não vejo outro forma a não ser recuperar os princípios que nortearam a criação do partido”, afirmou.
Em Diadema, onde o PT elegeu o primeiro prefeito da sua história (Gilson Menezes, hoje no PDT, em 1982), Lauro Michels (PV), foi reeleito com 57,7% dos votos válidos, derrotando o candidato Vaguinho, do PRB, com 42,3% dos votos.
Em Mauá, Átila Jacomussi (PSB) foi o mais votado. Ele obteve 64,47% dos votos válidos contra 35,53% do atual prefeito, Donisete Braga (PT). “Esta cidade iniciou uma nova era”, disse Jacomussi após a vitória. / COLABOROU ANDRÉ ÍTALO ROCHA
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A GRANDE DELAÇÃO

Da Veja
VEJA desta semana mostra as dimensões superlativas e o potencial explosivo da delação premiada de 75 executivos da empreiteira Odebrecht, incluindo seu ex-presidente Marcelo Odebrecht. 
Distribuído em mais de 300 anexos – 300 novas histórias sobre a corrupção no Brasil –, o acordo a ser assinado com o Ministério Público envolve os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, o atual, Michel Temer, tucanos de alta plumagem, como José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin, peemedebistas fortemente ligados a Temer, como o senador Romero Jucá e o ministro Geddel Vieira Lima, e os dois principais nomes do PMDB no Rio de Janeiro: o prefeito Eduardo Paes e o ex-governador Sérgio Cabral. 
As revelações na delação da empreiteira, que faturou 125 bilhões de reais em 2015 e reuniu 400 advogados para costurar o acordo, levam procuradores da força-tarefa da Lava Jato a constatar que “se os executivos comprovarem tudo o que dizem, a política será definida como a.O. e d.O. — antes e depois da Odebrecht”. O sempre comedido juiz federal Sergio Moro também dá dimensão da turbulência que se aproxima ao comentar: “Espero que o Brasil sobreviva”.
Leia a reportagem completa na edição desta semana de VEJA que já está nas bancas.
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domingo, 30 de outubro de 2016

SE ENTREGA, CORISCO

Artigo de Fernando Gabeira
Renan Calheiros, no passado, perdia cabelos mas não perdia a cabeça. Agora, ele ganhou cabelos mas perde a cabeça, com frequência. Recentemente, disse que o Senado parecia um hospício e afirmou que ajudou a senadora Gleisi Hoffman no seu embate com a Lava-Jato. Hoje, sabemos que ordenou varreduras em vários pontos estratégicos ligados aos senadores investigados pela roubalheira na Petrobras.
E Renan perdeu a cabeça de novo, chamando um juiz federal de juizeco e o ministro da Justiça de chefete de polícia. Sua polícia legislativa funciona como uma espécie de jagunços de terno escuro e gravata, a serviço de alguns coronéis instalados no Senado. Quando combatemos Renan e o obrigamos a deixar o cargo de presidente, os jagunços já estavam lá. Como o Brasil vivia num estado meio letárgico, tivemos de enfrentar a braço os jagunços de Renan para garantir a transparência de uma reunião sobre seu destino.
O sono brasileiro não é mais tão profundo como na época. Ainda assim, Renan sequer foi julgado pelos crimes de que era acusado na época. São as doçuras do foro privilegiado. Agora, ele quer que o foro privilegiado, que já era uma excrescência para deputados e senadores, estenda-se também aos seus jagunços. E que o espaço do Senado seja um santuário para qualquer quadrilha que tenha, pelo menos, um parlamentar como membro.
Talvez Renan esteja desesperado. Mas essa hipótese ainda precisa ser confirmada. Há sempre alguém que se acha o verdadeiro guardião das leis e se dispõe a defender Renan e o Senado, independentemente desse contexto bárbaro que presenciamos há anos. O próprio Gilmar Mendes, cujas posições são respeitáveis, saiu em defesa de Renan, sugerindo que a polícia não deveria entrar ali. Mas o que fazer quando a própria polícia do Senado comete uma delinquência? A resposta das pessoas que não foram atingidas pela Lava-Jato, mas se incomodam com o sucesso da operação, é sempre esta: falem com o Supremo. No caso do Renan, sob investigação em 12 processos diferentes, e sempre na presidência do Senado, o que significa falar com o Supremo?
Estamos falando com o Supremo há anos. Ele manda grampear senadores adversários, como fez com Marconi Perillo, orienta a agressividade e a truculência de seus jagunços contra deputados. Até hoje, para ele, o Supremo é apenas o cemitério de seus processos.
Renan, Gilmar Mendes e todos os defensores desse absurdo não conseguem me convencer que é preciso pedir licença ao Supremo para punir jagunços que usam equipamentos do Estado, diárias pagas pelo governo, para fazer varreduras na campanha de Lobão Filho, no Maranhão. Varreduras inclusive sob supervisão do genro de Lobão Filho, um homem chamado Marcos Regadas Filho, acusado de sequestro e mencionado no assassinato do blogueiro Décio Sá.
A diversão desse personagem para qual os jagunços trabalharam é usar o helicóptero para dar voos rasantes no Rio Preguiça em Barreirinhas, aterrorizando banhistas e pescadores.
— Foge, meu preto, que isso é vendaval — ouvia-se o grito dos pescadores
O halo protetor do Supremo não se limita aos bandidos do Congresso, mas aos seus jagunços e cúmplices regionais. A Lava-Jato não é infalível. Está sujeita a críticas como todas as atividades de governo. Não se deve usar o êxito da Lava-Jato com intenções corporativas, inclusive num momento de crise econômica como a nossa. Até aí, tudo bem. Mas negar à PF o direito de entrar no Senado quando o crime está sendo cometido pela própria polícia parlamentar, isso me parece um absurdo. O foro privilegiado tem sido uma espécie de escudo para os bandidos eleitos. Se o espaço onde atuam torna-se também um santuário para todos os que trabalham lá, teremos não só a impunidade de indivíduos mas a liberação de espaços especiais para o crime.
Nas campanhas que fiz contra Renan, desenhamos um cartaz dizendo: “se entrega, Corisco”. Isso foi há muito tempo. Seus crimes não foram punidos na época. Ainda me lembro das imagens das boiadas se deslocando no sertão para fingir Renan que era um grande criador. Os crimes não apenas deixaram de ser punidos. Aumentaram exponencialmente ao longo dos anos, ancorando-se inclusive na pilhagem da Petrobras.
Eduardo Cunha foi preso. Não tinha mais mandato. Se Renan continuar solto, é apenas porque tem um. É justo cometer crimes em série, sob o escudo de um mandato parlamentar? Renan está nervoso porque percebe o crepúsculo de um sistema de impunidade tecido pela audácia dos coronéis e a inoperância do Supremo. A evolução do país o levou a perder a cabeça, algo raro no passado. Espero que não chegue a arrancar os cabelos e ouça o meu conselho de anos atrás: se entrega, Corisco.
Artigo publicado em 30/10/2016 no Segundo Caderno do Globo
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O GRILEIRO DOS JARDINS

O maior desmatador da história recente da Amazônia é filho de um rico e tradicional pecuarista de São Paulo. Ele próprio operava sediado no bairro dos Jardins, na capital. Até ser preso, comandava um esquema sofisticado de desmatamento, grilagem e falsificação no Pará, que contava até com profissionais de geoprocessamento para enganar os satélites de monitoramento. Denunciado por índios, o caso levou a recente operação conjunta entre o Ibama, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Receita Federal, revelando detalhes sobre como hoje se organiza o crime na expansão da fronteira agropecuária amazônica.
Operação Kaypó
Era fevereiro de 2014. Luciano Evaristo, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, chegava à garagem da sede da instituição em Brasília e conseguia ouvir um burburinho alto vindo do escritório. Dentro de seu gabinete, pintados para guerra, mais de trinta índios kayapós esperavam por ele com arcos e flechas. Luciano teve o cuidado de pedir que depositassem as armas antes de começarem a conversa.
O Plano Básico Ambiental (PBA) do licenciamento da rodovia BR-163, que liga Cuiabá (Mato Grosso) à Santarém (Pará), dá aos kayapós da Terra Indígena Mekrãgnoti, o direito a receber recursos do Governo para compensação de impactos decorrentes da obra. Em 2014, desconfianças do Governo de que os índios estariam desmatando no entorno da Mekrãgnoti levou a retenção desta verba. Os índios não eram os culpados pelo desmatamento, mas eles sabiam quem era. Foram até Brasília a procura de Luciano Evaristo para denunciar um criminoso.
“A conversa foi dura”, relembra Luciano. Tão logo os kayapós se foram, ele tratou de levantar as imagens de satélite da região em busca das áreas alvo das denúncias. “Não achei nada nos satélites que indicasse operação de desmatamento em larga escala.” Ainda assim, resolveu confiar nos índios. Luciano desembarcou em Mekrãgnoti em abril de 2014. Lá, um grupo de lideranças kayapós se uniu à equipe de fiscalização do Ibama. Usando um sistema de radioamadores para repassar informações entre si - sinal de telefone celular não pega - os índios já haviam mapeado a localização de acampamentos de desmatadores na floresta.
Encontraram 18 acampamentos. Somados, foram embargados 14 mil hectares. “A maior área já encontrada pelo IBAMA aberta por empreitada de um só infrator ambiental na floresta amazônica”, conta Luciano. A ação ficou conhecida como Operação Kayapó. Presos 40 trabalhadores, logo muitos começaram a falar. Um mesmo nome, então, se repetia. Começava aí a investigação que uniu instituições e resultou, pela primeira vez, na prisão de um chefão do crime operando na floresta.
O milionário das motosserras
O maior desmatador da história recente da Amazônia é filho de um pecuarista milionário de São Paulo. Antônio José Junqueira Vilela Filho – o AJJ Vilela, vulgo Jotinha, nasceu e cresceu em um império bovino montado pelo pai, Antônio José Junqueira Vilela. Junto com a família, Jotinha operava um esquema sofisticado que envolvia desmatamento em série, grilagem de terras públicas, lavagem de dinheiro, falsificação e trabalho escravo no Pará.
O nome de Jotinha começou a circular pelas páginas de embargos do Ibama no Pará nos idos de 2009, embora ligado a áreas desmatadas menores. Foi entre 2012 e 2014, revelam as investigações, que as motosserras de Vilela Filho trabalharam sem descanso. Ao serem presos, ele e seus parceiros acumulavam denúncias de destruição que somavam 30 mil hectares de floresta no município de Altamira (PA), área equivalente ao território de cidades como Fortaleza, no Ceará, ou Belo Horizonte, em Minas.
A operação Rios Voadores, que prendeu a quadrilha, foi deflagrada em 30 de junho de 2016, após dois anos de quebras de sigilo bancário e interceptações telefônicas. No dia D, contou com um efetivo de 95 policiais federais, 15 auditores da Receita e 32 servidores do Ibama, distribuídos pelos estados de Pará, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. A Justiça Federal de Altamira expediu 52 medidas judiciais, entre 15 prisões preventivas e mandados de busca e apreensão.
Jotinha, primeiro considerado foragido, apresentou-se à Justiça uma semana depois. Dias após a operação, escutas telefônicas interceptaram Ana Luiza Junqueira Vilela Viacava, irmã de Jotinha, que passava férias nos Estados Unidos, coordenando de longe a ocultação e destruição de provas contra o irmão. Ana Luiza foi presa ao desembarcar de viagem. Os três filhos de Antônio José Junqueira Vilela - Jotinha, Ana Luiza e Ana Paula - todos acusados de participar do esquema, são figurinhas fáceis da noite paulistana. A família circula entre celebridades e políticos. Na Internet é possível achar menções a eles em colunas sociais, frequentando eventos exclusivos e recebendo vips para festas em mansões no bairro dos Jardins, de classe média alta em São Paulo. Ana Luiza leva o sobrenome Viacava do marido Ricardo. A família Viacava é de igual peso na história da pecuária brasileira e seus patriarcas são amigos de longa data. Ricardo Viacava, além de cunhado, era o braço direito de Jotinha na operação criminosa.
Vilela Filho é hoje o homem que recebeu o maior valor em multa aplicada a um só infrator ambiental – R$ 119,8 milhões, somadas em dez autos de infração referentes à Operação Rios Voadores. Ele é acusado de movimentar o equivalente a R$ 1,9 bilhão entre 2012 e 2015, em operações ilegais. Legou à sociedade, segundo os cálculos do Ibama, um prejuízo ambiental estimado em R$ 420 milhões.
Raio-x de um crime exemplar
O esquema comandado por Vilela Filho chama a atenção pela sofisticação. A quadrilha tinha núcleos bem definidos. Em campo ficavam os agenciadores de mão-de-obra ilegal. A etapa de desmatamento era custosa. Eremilton Lima da Silva, vulgo Marabá, era um dos chamados gatos, responsável por arregimentar pessoas para trabalharem no campo. Ele aparece na investigação recebendo valores que superam 170 mil reais em nome de sua esposa, Laura Rosa Rodrigues de Souza. Os irmãos Jerônimo Braz Garcia e Bruno Garcia, sócios na empresa Jerônimo Máquinas, também faziam parte do esquema. Chegaram a receber 500 mil reais por um só serviço de “limpeza”, conforme consta no inquérito.
As equipes nos acampamentos eram sempre de dez pessoas, com funções bem definidas – um cozinheiro, um meloso, responsável pela manutenção de motosserras, e oito motosserristas. Todos trabalhavam sem dias de folga e eram pagos apenas ao final do serviço. Caso o Ibama os flagrasse, receberiam nada. Luciano nunca esqueceu do primeiro acampamento que encontrou: “Chamou a atenção o trabalho escravo e degradante. Eu lembro que abri um balde que eles usavam para armazenar carne e o gás metano praticamente voou na minha cara, parecia que ia explodir. A carne estava podre”.
Os núcleos de desmatadores operavam em todas as fases do típico processo de abertura de floresta. Primeiro retiravam as árvores maiores e mais valiosas – o chamado corte seletivo. A venda ilegal de madeira era uma das atividades com a qual lucrava Jotinha. Na sequência, as áreas eram completamente desmatadas. Entravam em cena os tratores e “correntões”, cabos de aço que devastam em série. Em seguida vinha o fogo. Queimadas eram repetidas até que a área estivesse “limpa”.
Completo o ciclo de devastação, plantava-se capim, muitas vezes com o uso de aviões agrícolas. Por último chegava o boi. Dependendo da aptidão do local, algumas destas áreas eram vendidas ou arrendadas para terceiros, que iriam explorá-la mediante aluguel. Outras permaneciam em posse da quadrilha, em geral para criação de gado. O processo era otimizado: enquanto em algumas áreas a mata começava a ser derrubada, outras estavam em plena produção e umas tantas sendo vendidas ou arrendadas.
Em São Paulo, empresas de fachada serviam para que o grileiro movimentasse as altas quantias de dinheiro que iam para financiar a atividade ilegal de desmatamento, ou servir de crédito para atrair compradores das terras griladas. Entravam em cena as irmãs Ana Luiza e Ana Paula e o cunhado de Jotinha, Ricardo Viacava, que transferiam as quantias entre si e entre as empresas. A principal delas era a Sociedade Comercial AJJ, com sede na alameda Santos, bairro dos Jardins, área rica e tradicional da cidade de São Paulo.
“O interessante deste caso é que, como existia muito dinheiro disponível para a operação, o desmatamento acontecia muito rápido. Era um programa bem organizado, para ser feito no mínimo de tempo possível e evitar a fiscalização ambiental”, conta Higor Pessoa, Procurador do Ministério Público Federal no Pará, responsável pelo caso.
Burlar a fiscalização envolvia núcleos ainda mais aprimorados de atuação. Profissionais de geoprocessamento trabalhavam de escritórios no Pará e no Mato Grosso analisando imagens de satélite. Eles acumulavam duas funções. A principal era a de forjar Cadastros Ambientais Rurais (CAR). O CAR é um cadastramento eletrônico instituído pelo governo que tem como objetivo auxiliar na gestão das florestas brasileiras dentro de áreas privadas. Na prática, o CAR é o primeiro cadastro obrigatório a todos os proprietários rurais do país, salvo as sucessivas prorrogações de prazo que enfrenta.
A quadrilha de Jotinha sabia ler o sinal dos tempos e, para facilitar a compra e venda de terras, mantinha o CAR das áreas griladas em dia. O núcleo de geoprocessamento produzia o recorte perfeito dos perímetros abertos, que seriam cadastrados em nome de posseiros. Tomavam cuidado para que nenhuma área aparecesse ao satélite em sobreposição a outras anteriormente embargadas pelo Ibama.
Vinha então o núcleo dos “laranjas”, pessoas que emprestavam o nome para constar nos cadastros ambientais declarados pela quadrilha. Apareceram como proprietários membros da família Vilela Junqueira, seus cúmplices e funcionários das empresas de fachada. Até mesmo o contador de Jotinha virou dono de fazenda. “Foi fácil chegar ao Vilela, ele deixava este tipo de rastro”, comenta Paulo Maués, coordenador da operação Rios Voadores pelo Ibama.
Havia ainda função mais ousada para os homens por trás dos computadores: tentar enganar o olho do Governo brasileiro. Para isso, recorriam às imagens de satélite usadas pelos agentes de fiscalização, as quais qualquer cidadão tem acesso, para analisar o próprio rastro e orquestrar a operação de desmatamento. Entre as táticas, deixar em pé árvores de porte alto, capazes de enganar os sensores dos satélites. O indicativo das queimadas era controlado de perto, para que nenhum fogo ficasse aparente. Procuravam agir em períodos nublados, quando os satélites são cegos pelas nuvens, para agirem incólumes.
A sorte de Luciano Evaristo foi ter confiado nos índios.
Crime e castigo
A certeza da impunidade é citada como o motivo que levou um jovem de família rica de São Paulo a se dedicar com tanto esmero a operar ilegalmente em plena Amazônia. “É uma questão cultural mesmo", diz Higor Pessoa. "O pai do Vilela Filho foi um grande desmatador e nunca aconteceu nada com ele. Mas eram outros tempos”, complementa o Procurador.
Atribui-se ao patriarca da família Junqueira Vilela, Antônio José, a visão de que seria uma raça de gado recém-chegada da Índia, o Nelore, que iria melhor se adaptar às condições brasileiras e representar o futuro do pecuária de corte do país. Ele acertou nesta e em outras empreitadas, como por exemplo a de melhoramento genético de bois, atividade a qual se dedica nos últimos anos com muito sucesso. Assim como não lhe faltou visão de negócio, tampouco careceu de terras para colocá-las em prática. Chegou ao então inóspito Mato Grosso no final da década de 1970, aos 20 anos de idade. A grilagem de terras para venda e a criação de boi na Amazônia foram suas principais atividades desde sempre. Com elas fez fortuna e fama no meio pecuário brasileiro.
A pecuária também estava no sangue de Jotinha. O grileiro sabia como usar as regras do jogo para driblar qualquer cerco. Graças a acordos de mercado, é mais difícil hoje para um frigorífico adquirir carne de gado criado em áreas embargadas. Difícil, mas longe de ser impossível. Prática comum, Jotinha lançava mão do chamado "esquentamento de boi" - vendia o gado como se fosse oriundo de fazendas regularizadas, usando o nome de terceiros. Entre os acusados de participar deste esquema está Eleotério Garcia, o Panquinha, que atuava como intermediário no processo fraudulento.
Outras movimentações, no entanto, eram menos cuidadosas. Ao menos um frigorífico, o Redentor, no Mato Grosso, teve profissionais autuados na operação por envolvimento na compra de gado de áreas sem procedência garantida. Estão ainda sob investigação os grupos Amaggi - do atual Ministro da Agricultura, Blairo Maggi -, Bom Futuro e a JBS, acusados de realizarem transações financeiras com a quadrilha que somaram R$ 10 milhões entre 2012 e 2015. A JBS é signatária de acordos com o Ministério Público Federal e com o Greenpeace, no qual se compromete a rastrear toda a carne que adquire da Amazônia. A investigação sobre o envolvimento destas empresa ainda está em curso.
Graças ao trabalho conjunto com a Polícia, Receita e Ministério Público, foi possível acrescentar ao rol de crimes, além do ambiental, os de falsificação de documentos, formação de quadrilha e trabalho escravo. Esse conjunto propiciou a prisão de Jotinha. Crime de desmatamento, sozinho, literalmente não dá cadeia a ninguém. As penas em geral são baixas e, quando pego o desmatador em flagrante, sai mediante fiança. Jotinha, ele mesmo, provavelmente nunca encostou a lâmina de uma motosserra em um tronco. Quando muito, são pegos destruindo a floresta os trabalhadores pobres, vindos de municípios pequenos do Norte e trabalhando em condições análogas à escravidão. “Foi a primeira vez que eu vi uma ação conjunta desmembrar todo o aparato de um grileiro de uma só vez”, afirma Luciano Evaristo. "Esta operação descortinou como funciona a engrenagem do crime organizado no processo de ocupação da Amazônia", acrescenta Higor Pessoa. Ele garante que as investigações sobre o caso continuarão até pelo menos o final deste ano. "Ainda haverá mais denúncias", antecipa o procurador.
Jotinha segue preso na Penitenciária do Tremembé, em São Paulo. Um inquérito que apura sua ligação com uma tentativa de assassinato, arquivado por falta de provas, pode ser reaberto. Ele é acusado de comandar uma emboscada contra a trabalhadora sem-terra Dezuíta Assis Ribeiro Chagas, em maio de 2015, na região do interior de São Paulo, conhecida como Pontal do Paranapanema.
Essa reportagem foi originalmente publicada pelo ((o))eco, site feito pela ONG Associação O Eco, trabalho de uma rede de jornalistas e especialistas, muitos voluntários e outros que trabalham em tempo parcial.
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O DEBATE À ESQUERDA

Alberto Aggio, O Estado de S.Paulo
Dentre os vários ensinamentos que a história e a sociologia política nos legaram está a noção de que “conceitos são palavras em seus contextos”. Tanto mais se o conceito em questão guarda uma polissemia construída historicamente. É esse precisamente o caso da noção de “esquerda”, assimilada como um conceito que, no plano político, deve ser pensado de maneira relacional. Assim, em relação à esquerda talvez não se deva buscar nem uma normativa fora da história nem uma suposta evolução conceitual que derive em significados absolutos e imutáveis.
Olhando historicamente, é constatável que a esquerda pode, muitas vezes, estar ausente ou ser muito rarefeita num determinado sistema de forças políticas, tornando difícil sua identificação. Não é incomum que a esquerda se mostre dividida em vários grupos, sem que se possa dizer qual deles é mais representativo ou autêntico. Também não são poucas as ocasiões em que a esquerda se expressa como uma força antagônica ao sistema social, ou como conciliatória no sistema político, não se descartando até mesmo uma combinação, às vezes surpreendente, entre ambas. Desnecessário dizer, portanto, que estamos diante de um universo de possibilidades quase infinito.
Em função da crise vivenciada pelo PT e do debate que está provocando, nota-se que não raro emergem equívocos de interpretação a respeito dos problemas de identidade da esquerda. Por vezes vemos predominar nas intervenções de intelectuais e políticos um reiterado dogmatismo, ao se sugerirem diversos invólucros para abrigar o que seria uma “verdadeira esquerda”, como uma espécie de Graal capaz de dirigir as massas que, em tese, estariam dispostas a se manter vinculadas ao PT ou ao que vier a emergir da sua crise.
Há problemas de diagnóstico no enfrentamento da crise do PT e dos destinos da esquerda brasileira. Além do corporativismo, do personalismo e do reconhecimento do que agora se chama de “reformismo fraco” promovido pelo lulismo, justificadamente levantados, há questionamentos mais amplos a respeito da visão totalitária presente em parcelas da esquerda, da sua inclinação ao adesismo e, por fim, do seu viés populista.
A retomada do tema do totalitarismo dá a impressão de um recuo no tempo. É curioso observar que a parcela da esquerda brasileira que há anos rechaça práticas do totalitarismo seja desconsiderada no debate, especialmente aquela que assumiu como central a perspectiva da “democracia como valor universal”. Imaginava-se que o PT também havia cumprido esse percurso, mas depois se percebeu que entre seus dirigentes havia mais retórica do que convicção nessa direção. De resto, felizmente, a esquerda que valida práticas totalitárias é, entre nós, residual. Surpreende, contudo, termos de retornar a tal ponto para pensarmos numa “reconstrução da esquerda”. Talvez esse seja um forte indicativo das limitações intelectuais que esse campo sofre para avaliar o fracasso do petismo e os desafios do futuro.
O mesmo se dá com tema do adesismo, uma ideia banal presente no imaginário esquerdista. Trata-se de uma definição de esquerda a partir do seu status antissistema, de sua eterna vocação anti-institucional. Suspeita-se da incorporação da esquerda ao sistema da democracia representativa e da afirmação de uma “esquerda de governo”, quer como líder de uma coalizão, quer como um dos partidos coligados de um governo democrática e constitucionalmente instituído. Esse fantasma martiriza a esquerda por se temer uma identificação com a social-democracia ou com um “reformismo” que busque soluções positivas por meio de reformas institucionais, de programas sociais universalistas e de transformações culturais democráticas e emancipadoras. Na velha linguagem, o que há é o temor de que a esquerda administre o capitalismo, como se essa fosse a questão definidora no nosso tempo. Novamente há um retorno a uma abordagem antiga, tornando inviável um diagnóstico mais preciso da crise e dos elementos teóricos que devem ser mobilizados para a reconstrução da esquerda, especialmente diante de um cenário de ruínas deixado pelo petismo e de um contexto mundial cheio de sobressaltos e riscos para o País.
O populismo, por fim, é um problema mais profundo. Trata-se de um conceito fracassado na interpretação da história latino-americana. Contudo o que chamamos hoje de populismo, vindo da esquerda ou da direita, ultrapassa suas origens, fronteiras e seus marcos históricos de referência, manifestando-se essencialmente, e em perspectiva, como uma política de rechaço à democracia. Para se afirmar como “antielitista” o populismo mobiliza o conceito de “democracia iliberal” para relativizar seu rechaço aos sistemas democráticos do nosso tempo. Caracterizado como ideologia ou apenas como uma retórica, o fato é que a contraposição entre populismo e democracia indica que não poderá haver uma esquerda democrática que compactue ou coqueteie com o populismo. As experiências recentes do bolivarianismo, que arrasaram a economia da Argentina e da Venezuela, comprovam tal evidência.
No Brasil, esse problema é visto de soslaio e se perde num escapismo que não consegue dar conta de explicar que as razões do fracasso do PT repousam mais no colapso do esquema mafioso de poder e de uma política econômica desastrosa do que da imposição de um “populismo orgânico”. O PT, de bom grado, deixou-se assenhorear por Lula e hoje vive para defendê-lo. Sendo impossível deslocar seu protagonismo, Lula passou a ser um poderoso obstáculo para que a esquerda, a partir do petismo, se reinvente no País.
O debate em torno do futuro da esquerda brasileira deve ser mais exigente e se pôr à altura dos desafios do nosso tempo, buscando um novo lugar no mundo para o Brasil, e não se pautar por um catálogo antigo dos pecados cometidos pela esquerda histórica.
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sábado, 29 de outubro de 2016

MENTIRAS ELEITORAIS

Da ISTOÉ
As mais recentes pesquisas revelam que a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (MG) chega na reta final absolutamente indefinida. Depois de promover uma campanha marcada pela agressividade e pela absoluta falta de compromisso com a verdade, o candidato do PHS, Alexandre Kalil, ex-presidente do Clube Atlético Mineiro, passou a última semana contabilizando uma enorme perda de votos. De acordo com o Ibope divulgado na quinta-feira 27, ele perdeu dois pontos percentuais das intenções de voto em apenas sete dias. Kalil e o tucano João Leite estão em empate técnico. O primeiro, segundo o Ibope, soma 39% e Leite cresceu para 36%. “É natural que logo depois do primeiro turno houvesse um crescimento da candidatura de Kalil devido ao seu maior tempo de exposição no horário eleitoral nesse segundo turno. Mas, nos últimos dias, o eleitor passou a verificar que o candidato é uma fraude montada por marqueteiros”, analisa o cientista político André Ventura. De fato, na última semana, ficou claro que os fatos desmentem as falas do candidato do PHS. Ele não consegue sequer explicar de onde vêm os recursos destinados à sua campanha e até esconde o fato de receber “clandestinamente” o apoio do PT.
Nos debates do segundo turno, o tucano desafiou Kalil a explicar a origem de R$ 2,2 milhões que ele próprio destinou à sua campanha. Trata-se de uma quantia enorme para o dono de duas empreiteiras que se encontram atoladas em dívidas, até com a Prefeitura de Belo Horizonte, e que colecionam uma série de processos por continuamente desrespeitar os direitos trabalhistas, inclusive tomando recursos dos funcionários e não repassando-os ao FGTS e ao INSS, como denunciaram diversos antigos empregados. Em sua declaração de Imposto de Renda, apresentada à Justiça Eleitoral, Kalil declarou ser dono de um patrimônio avaliado em R$ 2,7 milhões, incluindo sociedade em alguns imóveis, quatro motos Harley Davidson, um Mercedes e um Land Rover. Como poderia, então, alguém que tem um patrimônio de R$ 2,7 milhões doar, em espécie, R$ 2,2 milhões para a campanha? Quando indagado por João Leite, Kalil nada respondeu. Assessores, no entanto, fizeram chegar a jornais e rádios de Belo Horizonte que o candidato do PHS havia vendido um imóvel para obter os recursos declarados no TSE. Na quarta-feira 26, ISTOÉ perguntou a Kalil qual seria a origem dos recursos. No email encaminhado à campanha, a reportagem questiona que imóvel teria sido vendido, qual o valor da venda, o nome do comprador e o cartório em que fora registrada a negociação. Até o fechamento dessa edição, nenhuma resposta havia sido dada. Na quinta-feira, procuradores do TRE de Minas afirmaram à ISTOÉ que, nos próximos dias, independentemente do resultado da eleição, Kalil e o PHS terão que justificar a origem dos R$ 2,2 milhões. “As contas da campanha precisam ser transparentes e o eleitor tem que saber de onde vem o dinheiro gasto pelos candidatos”, disse o procurador. “Ele pode até vencer a eleição, mas se não comprovar a legalidade da campanha corre o risco de não tomar posse”.
DESESPERO NO QG
Segundo os especialistas em eleições, além da falta de argumentos convincentes, as falsas explicações são fatores que levam à perda de votos. No início da semana passada, ficou público que as empreiteiras de kalil há anos não pagam o IPTU e somavam uma dívida milionária exatamente com o a Prefeitura que ele pretende administrar. Kalil, então, admitiu ser devedor, mas afirmou que havia acabado de saldar a dívida no valor de R$ 120 mil. A mentira tem perna curta e a versão durou poucas horas. Na quinta-feira, o site Oantagonista.com mostrou que um levantamento feito no Tribunal de Justiça de Minas, onde correm processos contra kalil e a Erkal Engenharia, revela que as dívidas do candidato com o fisco de BH são superiores a R$ 1,2 milhão, valor muito maior do que os R$ 120 mil que o candidato diz ter pago.
A divulgação da pesquisa do Ibope na noite da quinta-feira colocou o QG de Kalil em estado de alerta. Segundo os próprios estrategistas do PHS, o candidato pode estar sofrendo o mesmo processo que derrotou o candidato Celso Russomano, do PRB, em São Paulo. Durante boa parte da campanha, ele liderou a disputa, mas viu sua candidatura ruir rapidamente quando ficou comprovado o desrespeito com os direitos trabalhistas em um bar que manteve em Brasília. Com Kalil a situação é ainda mais grave. O candidato se apresenta como um gestor competente. Sua situação no Judiciário , porém, indica que ele está mais para rei das bravatas do que para prefeito de uma capital. Pesquisas feitas em cartórios e órgãos públicos, incluindo a própria Prefeitura de Belo Horizonte, mostram que as dívidas de kalil e suas empresas somam R$ 35,6 milhões. São números de um gestor competente? Dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional apontam que as empresas do candidato têm R$ 18,8 milhões inscritos na dívida ativa da União, valor referente ao não pagamento de contribuições previdenciárias e ao FGTS. Ou seja, suas empresas descontam a contribuição dos trabalhadores e não repassam ao governo. Isso é atuação de administrador honesto? Pesquisas feitas em cartórios e na Prefeitura de BH mostram que as empresas de Kalil devem mais R$ 16,7 milhões a fornecedores privados e de IPTU. Quem faz isso com as finanças pessoais, o que poderá fazer com os recursos públicos?
MAU PATRÃO
Documentos obtidos por ISTOÉ mostram que, além de mau pagador, Kalil é mau patrão. Suas empresas, a Erkal e a Fergikal, respondem a 143 processos trabalhistas. Nos últimos anos, foram condenadas em 65 reclamações por descumprirem de diversos itens da CLT, inclusive por não permitir que os funcionários tivessem acesso a água potável e banheiro. “Diversos ex-funcionários têm feito declarações sobre as péssimas relações trabalhistas de kalil e isso certamente vai tirar-lhe votos”, disse à ISTOÉ um dos assessores da campanha de Russomano em São Paulo. Dois desses trabalhadores são Geraldo Moreira e Geraldo da Silva. Eles estão com os salários atrasados por meses e não recebem férias nem décimo terceiro. No horário eleitoral, Adriana Madureira, outra funcionária de Kalil que trabalha na área de recursos humanos, afirmou que a “inadimplência com os trabalhadores é norma nas empresas de Kalil”. O candidato diz que ela mente. Os processos e documentos públicos mostram que Kalil mente.
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AS CONTAS SECRETAS DA IGREJA UNIVERSAL

Da ISTOÉ
Desde 1999, um inquérito na Procuradoria da República investigava as relações de líderes da Igreja Universal do Reino de Deus com duas empresas – a Cableinvest Limited e a Investholding Limited –, ambas com sede nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal britânico localizado no Caribe. Seis anos depois, a quebra do sigilo fiscal da igreja é pedida ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Cláudio Fonteles. O objetivo é investigar a existência de um esquema nos moldes da lavanderia montada por PC Farias.
Para a Procuradoria da República, há indícios de que o esquema foi utilizado para a compra da TV Record do Rio, em 1992, e de outras emissoras. As duas offshore (as subsidiárias criadas em paraísos fiscais para fugir da cobrança de impostos) enviaram dinheiro ao Brasil, por meio de operações irregulares, para a conta bancária de bispos da Universal e também de “laranjas”. Documentos da Receita Federal comprovam essas transações. As remessas e recebimentos totalizam US$ 18 milhões (R$ 44,6 milhões) e comprovariam a evasão de divisas.
ISTOÉ teve acesso a parte da documentação que deu início às investigações e levou o procurador Fonteles a pedir a quebra de sigilo. A revelação mais explosiva é a identidade de um dos donos das empresas Cableinvest e Investholding. Por trás da operação em Cayman estaria Marcelo Crivella, um economista carioca de 43 anos, filho de Matilde Bezerra, irmã de Edir Macedo, o principal líder da igreja. Crivella é bispo da igreja e foi eleito senador pelo PL do Rio, em 2002. Segundo o relatório da Procuradoria Geral da República de maio de 2003, ao encaminhar o caso para o STF, as investigações realizadas pela Interpol constataram que um dos acionistas da Cableinvest é Crivella. Agora, com a quebra de sigilo, os bancos podem liberar extratos que comprovarão quem é o dono das empresas. Nos papéis obtidos por ISTOÉ, aparecem a assinatura do senador, reconhecida por um cartório de São Paulo.
Esses documentos foram recolhidos por ex-dirigentes que tinham acesso à contabilidade da igreja, a contratos de compra e venda (de emissoras de rádio e tevê, imóveis e até de uma aeronave), além de declarações de Imposto de Renda de líderes da Universal. Crivella já depôs este ano na Polícia Federal do Rio e negou ser dono das empresas.
O império – A Igreja Universal está hoje em mais de 80 países, de acordo com seus líderes. Mas, para alcançar esse crescimento, deixou rastros pelo caminho: enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, compra da Record através de laranjas, acusações de curandeirismo e charlatanismo, chutes na imagem de uma santa e dissidências. Mas nada se compara a essas denúncias. Segundo a Procuradoria, há evidências de como funciona o esquema de lavagem de dinheiro da igreja. Ele passa por uma triangulação entre doleiros no Brasil, as empresas de offshore nas Ilhas Cayman e bancos de investimento no Uruguai. Numa pequena mostra do esquema, ISTOÉ comprovou que, em 76 contratos, entre fevereiro e outubro de 1992, as duas empresas emprestaram US$ 6,3 milhões aos bispos, pastores e seletos simpatizantes da Universal. Entre outros negócios, esse dinheiro serviu para justificar a compra da TV Rio. Os empréstimos têm um prazo de cinco anos para ser quitados, mas não há definição quanto ao número de parcelas nem data do início de pagamento. Nesses contratos, por exemplo, Alba Maria da Costa, então diretora de várias empresas do grupo Universal, recebeu um total de US$ 843 mil em dez contratos. Outros R$ 56 milhões (valores atualizados), em operações já comprovadas pela Receita Federal, foram parar nas contas de chefes da igreja, como os bispos Honorilton Gonçalves, responsável pela superintendência executiva da Rede Record; João Batista Ramos da Silva, deputado federal (PFL-SP) e ex-presidente da Record; e Carlos Rodrigues, deputado federal (PL-RJ) e hoje rompido com a Universal. Rodrigues chegou a ter um aumento em seu patrimônio de 15.000%.
O senador Crivella é figurinha fácil em processos que correram na Receita e no Ministério Público. Em 1990, ele e outros testas-de-ferro da Universal compraram a TV Record de Franca (SP), oficialmente, por Cr$ 45 milhões (hoje cerca de R$ 1,2 milhão). O dinheiro, como em outras aquisições do tipo, foi emprestado pela própria igreja. Na investigação de sonegação de impostos, a Receita, depois de quatro anos de trabalho, registra em seu relatório que os “empréstimos (foram) efetuados sem qualquer acréscimo, configurando-se em verdadeira doação”.
As provas do esquema de lavagem de dinheiro mostram o poder de Crivella sobre as ações das duas empresas de Cayman. Em um comunicado enviado aos diretores da Cableinvest, em nome dos “proprietários beneficiários” da empresa, Crivella autoriza o então presidente do Banco de Crédito Metropolitano (que pertencia à igreja e passou a chamar-se Credinvest), o executivo Ricardo Arruda Nunes, a movimentar “uma nova conta bancária com o Union Chelsea National Bank”. Crivella não está sozinho nesta operação. Outro brasileiro que aparece como sócio das empresas de Caymam é Álvaro Stievano Júnior. A trajetória de Stievano no reino da Universal é pouco sutil. Depois de passar pela diretoria do banco de Macedo, tornou-se diretor da New Tour Turismo, também de propriedade da igreja. Em comum com os dois cargos, o manuseio de dólares.
A dupla dinâmica assina, como acionistas e diretores da Investholding Ltd., outros dois documentos importantes, nos quais revelam suas relações com a empresa. “Eu, abaixo-assinado, sendo acionista e diretor da Companhia, por meio deste, designo Robert E. Axford ou, na sua ausência, Richard E. Douglas ou, na sua ausência, Ian A. N. Wight, ou, na sua ausência, Anne Mervyn para ser meu procurador (a ter minha procuração) para votar por mim e em meu interesse, para me representar em toda reunião anual da diretoria”, dizia a procuração. “Em cada compromisso permanecerá com totais poderes até revogação por parte do designador (abaixo-assinado) por escrito à companhia.” O documento dava poderes para votação na aprovação do balanço anual, reeleição de diretores e “outros assuntos sobre os quais o designado tenha recebido instruções expressas do designador”. Na ata da primeira reunião dos diretores da Investholding, no escritório da sede da empresa, em George Town, capital das Ilhas Cayman, ficou registrado que os dirigentes da empresa Robert Axford e Adrian Hammond seriam detentores de uma única ação da companhia cada um. Também que Axford ficaria como presidente, Crivella como diretor-vice-presidente e Stievano, diretor-secretário. Posteriormente, foi registrado o pedido de demissão dos diretores Axford e Hammond. O curioso é que o nome de Crivella aparece acima do nome do presidente da Investholding num relatório de reunião da empresa. Pelo menos até 1995, a mesma Investholding detinha cerca de 50% das ações do banco de Macedo.
Vaivém – O caminho de volta do dinheiro ao Brasil também está esmiuçado: os recursos transferidos para Cayman vinham sendo depositados em agências do Banco Holandês, em Montevidéu no Uruguai. Os dólares eram depositados em agências do Holandês nos Estados Unidos que repassavam o montante à agência de Montevidéu, além de uma operadora de câmbio uruguaia, a Cambio Val. Lá, os dólares eram convertidos em cruzeiros, com isenção de impostos, e enviados à filial brasileira, nas contas das duas empresas. Pelo menos US$ 7,5 milhões chegaram ao Brasil através do Banco Holandês e outros US$ 10 milhões por intermédio da Cambio Val, conforme registram dezenas de boletos. O certo é que o dinheiro recolhido em mais de dois mil templos da Universal voltaram ao Brasil sem pagar imposto e foram para a conta de alguns poucos escolhidos. Essas irregularidades serão apuradas agora pelo STF. E podem abalar o império do bispo.
*Valores convertidos pelo dólar de agosto de 1998, quando surgiram as denúncias
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CRIVELLA CRIVELLOU

Da VEJA
Passada uma semana, a Polícia Civil do Rio de Janeiro ainda não sabe como explicar. Como VEJA revelou na semana passada, o senador Marcelo Crivella, candidato à prefeitura do Rio pelo PRB, foi preso há 26 anos e, durante todo esse tempo, guardou a documentação do caso em sua casa. Guardou até os negativos das fotos tiradas na delegacia em 18 de janeiro de 1990. A Polícia Civil, até agora, não faz ideia de como o material deixou os arquivos policiais, o que é proibido por lei.
Também não sabe explicar outro mistério perturbador: como os registros reapareceram há seis meses em um sistema oficial de buscas? A família do delegado João Kleper Fontenelle, que morreu em 2012, reagiu indignada à explicação de Crivella de que ganhara tudo — o inquérito e as fotos — de presente do próprio delegado. “Pôr a culpa em alguém que já morreu e não pode se defender é muita falta de escrúpulos”, afirmou a filha de Fontenelle, Flávia, que cogita processar o bispo licenciado.
Líder das pesquisas às vésperas da eleição, Crivella tentou conter os danos com uma tática que desafia o bom-senso: mudou por completo a versão do que dissera em conversa gravada com VEJA. De tão inusitado, o método merece um verbo em homenagem ao criador: Crivella crivellou. Em um vídeo, disse: “Vou esclarecer. Nunca fui preso”. Tentou pulverizar, numa única frase, uma fila de evidências: 1) o registro de ocorrência 023/1990, em que foi autuado por invasão de domicílio; 2) a fiança de 450 cruzados novos (hoje 320 reais) que pagou para sair da cadeia; e 3) sua própria voz dizendo, no áudio postado no site de VEJA: “Fiquei preso na carceragem da 9ª DP lotaaaaaaada de gente”.
No mesmo vídeo, crivellou uma segunda vez. Disse que sua única intenção na ida ao local da discórdia era “consertar um muro que ameaçava desabar”. No inquérito que o próprio Crivella cedeu a VEJA, pessoas que estavam no terreno afirmam que ele chegou com pé de cabra e homens armados para expulsá-las. Na entrevista à revista, o bispo ainda disse: “Fiquei revoltado” e “arrebentei aquela cerca”. É natural que um candidato queira desviar-se de um noticiário desfavorável, sobretudo às vésperas da eleição. É difícil compreender, no entanto, as razões que o levam a desmentir a si próprio. Talvez por isso Crivella tenha cancelado as entrevistas de que participaria na semana passada. Talvez temesse crivellar de novo.
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A AMARGA DERROTA PETISTA

Da ISTOÉ
Ex-prefeito duas vezes de Recife, João Paulo era a grande aposta do PT para eleger pelo menos um segundo prefeito de capital (o único eleito é o de Rio Branco), sobretudo porque Pernambuco é a terra natal do ex-presidente Lula.
Além disso, de 2000 a 2008 os recifenses escolheram o PT para governar a cidade. Porém, segundo pesquisas divulgadas na semana passada, ele praticamente não tem chance.
O Datafolha apurou que o petista receberá 41% dos votos válidos, contra 59% dados ao prefeito Geraldo Julio (PSB), que deve ser reeleito neste domingo.
Para o cientista político Antônio Lavareda, o fraco desempenho de João Paulo é um eco do esgotamento político sofrido pelo PT.
Especialistas concordam que a crise econômica, o impeachment de Dilma Rousself e a Lava Jato criaram barreiras para mais uma eleição de qualquer nome da legenda petista. E. L.
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RECORDANDO RACHEL DE QUEIROZ

Hoje, 29 de outubro que se comemora o Dia Nacional do Livro, fez-me lembrar de uma história da escritora cearense, Rachel de Queiroz, relatada em sua autobiografia Tantos Anos, escrita por Rachel e sua irmã caçula, Maria Luiza de Queiroz, em 1998.
Rachel de Queiroz, a pioneira cearense – primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, 1977 – conhecida pelas belas histórias contadas em suas obras, o carinho que tinha pelas palavras, seja nas crônicas, nas peças de teatro ou nos romances, ela era uma mulher à frente do seu tempo. Até na politica Rachel de Queiroz enveredou e teve uma vida intensa.
A consagrada carreira de escritora e jornalista, parte dos brasileiros já conhece, mas, na política é desconhecida pela maioria da população brasileira. Rachel se tornou membro do Partido Comunista ao lado de amigos de sua geração, uma turma politizada e ‘comunizada”, como relatou ela na autobiografia Tantos Anos, de 1998. Foi presa duas vezes.
Em 1931, após passar dois meses no Rio de Janeiro – tinha ido receber o Prêmio Graça Aranha, dado a O Quinze – Rachel volta ao Ceará, com credenciais do Partido Comunista, já politizada e com a missão de promover e reorganizar o Bloco Operário e Camponês, movimento político o qual ela tinha participado.
Rachel passou a fazer parte do Partido Comunista, mesmo sem ter feito uma ficha, assinado alguma ata. Aliás, não se podia deixar nenhum rastro de papéis, livros ou qualquer tipo de documento, a polícia era brutal e se pegasse algum vestígio, levava todos para a cadeia: às pessoas e os papéis. Com a chegada de Getúlio Vargas ao Rio, a polícia ficou mais feroz.
Em 1937, com a decretação do Estado Novo de Getúlio Vargas, os livros de Rachel de Queiroz foram proibidos e, num fato marcante, várias de suas obras acabaram queimadas em praça pública em Salvador (BA), junto a livros de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, todos classificados de subversivos.
O desligamento do Partido Comunista aconteceu após ela ver censurado pelo próprio Partido o romance João Miguel. No romance João Miguel, ‘campesino’ bêbado, matava outro ‘campesino’. O aviso: só permitiria a publicação da obra, se Rachel fizesse as modificações apontadas pelo presidente do Partido Comunista. Segundo o Partido, a trama era carregada de preconceitos contra a classe operária.
Jamais se curvou as imposições feitas a sua obra, Rachel de Queiroz não aceitou as tais modificações exigidas pelo Partido Comunista, pegou o original que tinha datilografado e saiu em disparada, como relatado por ela no capítulo O Rompimento, da autobiografia Tantos Anos.
Em sua obra Caminho de Pedras (1937), Rachel trata desse momento político que viveu no Partido Comunista, porque fazer política na década de 20, ser comunista era muito perigoso. A ideia de comunismo era distorcida e alguém que ousasse se apresentar como comunista pagaria um preço alto, até com a própria vida.
Rachel de Queiroz faleceu dormindo em sua rede, em sua casa no Rio de Janeiro, em 4 de novembro de 2003.
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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

DÓRIA E O PROSECCO DERRAMADO

Ricardo Soares, DOM TOTAL
No dia primeiro de janeiro de 2017 muita gente acredita de verdade que vai começar um admirável mundo novo em muitas prefeituras do Brasil quando na verdade na maioria delas tudo  será como antes. Os mesmos velhos desmandos, os mesmos maus hábitos, as mesmas trocas de favores, o mesmo clientelismo , o mesmo toma lá, dá cá.
Mesmo em São Paulo, a maior de nossas cidades, tem gente que crê de verdade que a chegada de João Dória ao poder mudará os trilhos da história municipal quando na verdade o futuro prefeito é apenas a mais completa tradução da contradição onde se elege como "novo" aquilo que tem de mais velho. Mais uma gargalhada da história para aqueles que não conhecem história.
Na sua aristocracia rural depois convertida em urbana e industrial  São Paulo deu ao país muita gente boa mas aberrações politicas como Jânio, Ademar de Barros  e outras figuras exóticas e bizarras como o recém todo poderoso Gilberto Kassab, o falso anódino. Isso sem falar no abominável poeta e empreiteiro de mesóclises Michel Temer, aquele que é sem nunca ter sido.
Antes de achar graça na ironia dos fatos que se repetem como paulistano da gema me intriga muito essa mania dos meus conterrâneos em se considerar a vanguarda da nação quando escolhemos sempre variações sobre o mesmo tema para nos desgovernar. Senão no municipio no Estado como vemos há muito tempo com os tucanos que  ocupam a gaiola do Palácio dos Bandeirantes e sujam todos os poleiros.  João Dória, nesse contexto, é a nova "avis rara" saída dessa estufa de maldades e não vem para brincar não. Vem com sede, posando de democrata, para desconstruir tudo aquilo que seu antecessor conseguiu fazer.
Não adianta lamentar o prosecco derramado. Dória veio e tem planos de ficar muito mais. Tem caras ambições manipulando as emoções baratas dos pobres de direita que pululam nas periferias. Encontra um país em mau estado e promete ( mesmo que não o faça explicitamente) consertar o Brasil a partir do "exemplo" paulistano.  Não dou um real furado por esse discurso do novo prefeito e desejo de coração que ele não erre tão feio assim o alvo ao prometer ser o Messias que todos sabemos que ele não poderá ser. Os amigos certos de Dória, aqueles a quem ele sempre bajulou e pelos quais intercedeu, estarão aí firmes e fortes a sorrir dentes lindos para as fotos ao lado do nosso novo alcaide. Resta saber em quanto tempo vão cariar ainda mais a arcada da urbe paulistana tão maltratada pela desigualdade que nem de longe Dória parece preocupado em consertar.
Ricardo Soares é escritor e jornalista. Publicou 7 livros e dirigiu 12 documentários. Escreve às segundas e quintas no DOM TOTAL. É autor do blog Todo Prosa
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A DEGOLA DE RENAN

Renan Calheiros foi informado de que o próximo assunto da pauta do STF é a denúncia contra ele por recebimento de propina da Mendes Júnior, em 2007.
Ele vai se tornar réu.
Para evitar o constrangimento de ser afastado do comando do Senado, ele pediu ajuda a Michel Temer para adiar a sessão de 3 de novembro, quando o STF deve decidir que réus não podem ocupar a presidência de uma das Casas.
Michel Temer não foi capaz de ajudá-lo. Alexandre de Moraes também não.
Foi por esse motivo que Renan Calheiros pediu a degola do ministro. Para evitar a sua degola.
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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

CRIVELLA, O DISSEMINADOR DE PRECONCEITO

RIO - O candidato à prefeitura do Rio pelo PRB, senador Marcelo Crivella, afirmou em discurso em uma festa no apartamento do empresário Ricardo Rique, em Ipanema, que o seu plano "é cuidar da zona sul", a "vitrine" da cidade. Em vídeo divulgado na internet pelo coletivo Mídia Ninja, que é crítico à candidatura do senador, Crivella diz que por ser "evangélico" tem mais condições de convencer "classes mais populares" desse plano.
"Eu posso prestar um grande serviço. Pelo meu perfil, por eu ser evangélico, por eu ter grande penetração nas classes mais populares, poderei explicar a eles de maneira legítima o nosso plano, que é de cuidar da zona sul. E dizer ao povo lá de trás, vaciná-los, para não vir aquele discurso que desconstrói a política, que o Crivella ganhou com os pobres para fazer pelos ricos. Não. Isso aqui é a nossa vitrine", afirma o candidato no vídeo. Rique repudiou o conteúdo  do vídeo  e afirmou que sua casa foi invadida pelos autores, já  que a festa era particular. Por meio de assessores, Crivella afirmou que o vídeo foi “editado”.
Até o inicio da tarde desta quarta-feira, 26, o vídeo tinha 640 mil visualizações na página do coletivo no Facbook. O encontro de Crivella com empresários ocorreu em 13 de outubro, no apartamento de Rique, endereço famoso pelas festas que o empresário promove para amigos como o empresário Ricardo Amaral e as atrizes Luiza Brunet, Guilhermina Guinle e Christiane Torloni.
No vídeo, segundo assinalado pela Mídia Ninja, Crivella é cumprimentado por Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), condenado por improbidade administrativa. Em 2013, Pagot perdeu os direitos políticos por oito anos e está impedido de firmar contratos com o poder público.
Ele também é processado por improbidade administrativa por acumular direção de empresa privada e cargo de secretário parlamentar do Senado. O anfitrião, Rique, é apresentado como condenado por corrupção passiva a oito anos de prisão. "Crivella, a pessoa que vai cuidar das pessoas... corruptas", encerra o vídeo.
Rique disse que fez a festa a pedido do empresário Ricardo Amaral. "Não sou político. Fiz o evento a pedido do meu irmão Ricardo Amaral para o Crivella debater suas propostas. Não vou nem votar. Invadiram minha casa, já que não era evento público", afirmou Rique. "Invadir uma residência é demais. Fico triste, mas não devo nada a ninguém."
O empresário afirmou que não houve qualquer confusão nem percebeu a presença de nenhum penetra na festa. Ele também não notou que estavam sendo filmados. "Estava na minha casa para ouvir proposta de um candidato. Não era nada de mais para virem com toda malícia. Por isso não percebemos nada."
Ele disse ainda que a condenação que sofreu ocorreu há 14 anos. "Eu era suplente do deputado federal Armando Abílio. Era obrigado a assinar emendas dele. Já está sendo provado que eu fui boi de piranha ali porque o processo é de R$13 mil. Está tudo sendo provado e esclarecido. Meu patrimônio dispensa receber R$ 13 mil de ambulância", afirmou o empresário, que está em Nova York. A assessoria de Crivella ainda não se pronunciou sobre o vídeo.
Outro lado. A assessoria de Crivella afirmou que o vídeo publicado pela Mídia Ninja foi editado. "O candidato Marcelo Crivella esteve num evento de campanha e não pode ser responsabilizado pela lista dos convidados. Não pode também pré-julgar ninguém. Quanto ao discurso, a fala é óbvia. A Zona Sul atrai turistas, paga impostos altos e deve ser vista 'com especial cuidado' para que o Rio volte a gerar empregos e renda para toda a população".
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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O REVANCHISMO DE CRIVELLA

Do UOL

A cinco dias do segundo turno das eleições para prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) faltou a entrevistas marcadas para esta terça (25) com a rádio "CBN" , a "TV Globo" e o site "G1", todos veículos do Grupo Globo. Crivella lidera as pesquisas de intenção de voto e disputa o cargo com Marcelo Freixo (PSOL). Tanto a rádio quanto a emissora de TV transmitiram, no tempo previsto para as entrevistas, quais seriam as perguntas feitas para o senador.
De manhã, o candidato concederia uma entrevista à rádio "CBN". Segundo o veículo, Crivella enviou um e-mail faltando nove minutos antes das 10h, horário marcado para a conversa, avisando que não poderia participar pois teria compromissos em Brasília --o postulante do PRB também é senador pelo Rio de Janeiro. De acordo com a "CBN", a entrevista havia sido marcada no dia 10 deste mês.
À noite, Crivella participaria do telejornal local "RJTV" e, em seguida, daria uma entrevista ao "G1", mas sua assessoria de imprensa informou que o candidato não compareceria. Em nota enviada à Globo e à qual o UOL teve acesso, o senador afirma que, mesmo se estivesse no Rio, não iria ao programa.
"Pela primeira vez, em função da minha indignação com a cobertura manipuladora e tendenciosa que a Rede Globo tem feito contra a minha candidatura, especialmente nas últimas semanas, não posso e não devo comparecer aos estúdios da emissora. Sou um homem da paz e como prefeito, se assim o povo decidir, vou dialogar com todos por amor ao Rio. Não guardo mágoas. É a minha natureza. Mas peço que fique registrado meu ato de protesto e apelo a favor da democracia e da liberdade de imprensa à altura das nossas tradições cívicas e morais", afirmou Crivella.
Em nota, a TV Globo disse ter sido atacada por Crivella "em termos nada respeitosos" e afirmou ser "apartidária".
"Essa postura independente de fato irrita aqueles que preferem, em benefício próprio, que a imprensa se cale, em prejuízo dos eleitores, que tudo devem conhecer para fazer seus julgamentos. A TV Globo sabe que, ao cumprir essa missão, pode ser vítima de ataques, os mais violentos e injustos. Isso já aconteceu recentemente com Jandira Feghali, do PCdoB, com o ex-presidente Lula, do PT, com o deputado cassado Eduardo Cunha, do PMDB, e, agora, com o candidato Crivella, do PRB, de colorações ideológicas tão diferentes", diz a nota da emissora.
Até o momento, a presença de Crivella no debate promovido pelo canal na sexta (28) está confirmada. Segundo a Globo, "se um dos candidatos faltar ao debate, o seu lugar permanecerá vazio com uma placa que o identifique. O candidato presente pode contar ao público as duas perguntas que faria, caso o outro candidato estivesse presente. Neste caso, ele terá trinta segundos para relatar cada pergunta. Em nenhuma hipótese a pergunta ou o comentário poderá conter ofensas pessoais ou agressões ao candidato ausente. Se isto ocorrer, a sua palavra será cortada imediatamente. Relatadas as perguntas, segue-se uma entrevista de 20 minutos com o candidato presente".
O candidato também tem marcada para quinta-feira (27) no jornal "O Globo". Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa de Crivella disse que a participação ainda não está confirmada.
Crivella é sobrinho de Edir Macedo, dono da TV Record e líder da Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus), da qual o candidato também é bispo licenciado.
No domingo (23), durante caminhada na zona sul do Rio, Crivella atacou veículos de imprensa que publicaram reportagens desfavoráveis a ele nos últimos dias. Segundo o candidato, a revista "Veja" fez uma capa "sob encomenda" e o jornal "O Globo" publicou "uma piada" como manchete. Ele também classificou a TV Globo como "a inimiga jurada" da sua campanha.
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