Da ISTOÉ
As mais recentes pesquisas revelam que a disputa pela
Prefeitura de Belo Horizonte (MG) chega na reta final absolutamente indefinida.
Depois de promover uma campanha marcada pela agressividade e pela absoluta
falta de compromisso com a verdade, o candidato do PHS, Alexandre Kalil,
ex-presidente do Clube Atlético Mineiro, passou a última semana contabilizando
uma enorme perda de votos. De acordo com o Ibope divulgado na quinta-feira 27,
ele perdeu dois pontos percentuais das intenções de voto em apenas sete dias.
Kalil e o tucano João Leite estão em empate técnico. O primeiro, segundo o
Ibope, soma 39% e Leite cresceu para 36%. “É natural que logo depois do
primeiro turno houvesse um crescimento da candidatura de Kalil devido ao seu
maior tempo de exposição no horário eleitoral nesse segundo turno. Mas, nos
últimos dias, o eleitor passou a verificar que o candidato é uma fraude montada
por marqueteiros”, analisa o cientista político André Ventura. De fato, na
última semana, ficou claro que os fatos desmentem as falas do candidato do PHS.
Ele não consegue sequer explicar de onde vêm os recursos destinados à sua
campanha e até esconde o fato de receber “clandestinamente” o apoio do PT.
Nos debates do segundo turno, o tucano desafiou Kalil a
explicar a origem de R$ 2,2 milhões que ele próprio destinou à sua campanha.
Trata-se de uma quantia enorme para o dono de duas empreiteiras que se
encontram atoladas em dívidas, até com a Prefeitura de Belo Horizonte, e que
colecionam uma série de processos por continuamente desrespeitar os direitos
trabalhistas, inclusive tomando recursos dos funcionários e não repassando-os
ao FGTS e ao INSS, como denunciaram diversos antigos empregados. Em sua
declaração de Imposto de Renda, apresentada à Justiça Eleitoral, Kalil declarou
ser dono de um patrimônio avaliado em R$ 2,7 milhões, incluindo sociedade em
alguns imóveis, quatro motos Harley Davidson, um Mercedes e um Land Rover. Como
poderia, então, alguém que tem um patrimônio de R$ 2,7 milhões doar, em
espécie, R$ 2,2 milhões para a campanha? Quando indagado por João Leite, Kalil
nada respondeu. Assessores, no entanto, fizeram chegar a jornais e rádios de
Belo Horizonte que o candidato do PHS havia vendido um imóvel para obter os
recursos declarados no TSE. Na quarta-feira 26, ISTOÉ perguntou a Kalil qual
seria a origem dos recursos. No email encaminhado à campanha, a reportagem
questiona que imóvel teria sido vendido, qual o valor da venda, o nome do
comprador e o cartório em que fora registrada a negociação. Até o fechamento
dessa edição, nenhuma resposta havia sido dada. Na quinta-feira, procuradores
do TRE de Minas afirmaram à ISTOÉ que, nos próximos dias, independentemente do
resultado da eleição, Kalil e o PHS terão que justificar a origem dos R$ 2,2
milhões. “As contas da campanha precisam ser transparentes e o eleitor tem que
saber de onde vem o dinheiro gasto pelos candidatos”, disse o procurador. “Ele
pode até vencer a eleição, mas se não comprovar a legalidade da campanha corre
o risco de não tomar posse”.
DESESPERO NO QG
Segundo os especialistas em eleições, além da falta de
argumentos convincentes, as falsas explicações são fatores que levam à perda de
votos. No início da semana passada, ficou público que as empreiteiras de kalil
há anos não pagam o IPTU e somavam uma dívida milionária exatamente com o a
Prefeitura que ele pretende administrar. Kalil, então, admitiu ser devedor, mas
afirmou que havia acabado de saldar a dívida no valor de R$ 120 mil. A mentira
tem perna curta e a versão durou poucas horas. Na quinta-feira, o site
Oantagonista.com mostrou que um levantamento feito no Tribunal de Justiça de
Minas, onde correm processos contra kalil e a Erkal Engenharia, revela que as
dívidas do candidato com o fisco de BH são superiores a R$ 1,2 milhão, valor
muito maior do que os R$ 120 mil que o candidato diz ter pago.
A divulgação da pesquisa do Ibope na noite da quinta-feira
colocou o QG de Kalil em estado de alerta. Segundo os próprios estrategistas do
PHS, o candidato pode estar sofrendo o mesmo processo que derrotou o candidato
Celso Russomano, do PRB, em São Paulo. Durante boa parte da campanha, ele
liderou a disputa, mas viu sua candidatura ruir rapidamente quando ficou
comprovado o desrespeito com os direitos trabalhistas em um bar que manteve em
Brasília. Com Kalil a situação é ainda mais grave. O candidato se apresenta
como um gestor competente. Sua situação no Judiciário , porém, indica que ele
está mais para rei das bravatas do que para prefeito de uma capital. Pesquisas
feitas em cartórios e órgãos públicos, incluindo a própria Prefeitura de Belo
Horizonte, mostram que as dívidas de kalil e suas empresas somam R$ 35,6
milhões. São números de um gestor competente? Dados da Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional apontam que as empresas do candidato têm R$ 18,8 milhões inscritos na
dívida ativa da União, valor referente ao não pagamento de contribuições
previdenciárias e ao FGTS. Ou seja, suas empresas descontam a contribuição dos
trabalhadores e não repassam ao governo. Isso é atuação de administrador
honesto? Pesquisas feitas em cartórios e na Prefeitura de BH mostram que as
empresas de Kalil devem mais R$ 16,7 milhões a fornecedores privados e de IPTU.
Quem faz isso com as finanças pessoais, o que poderá fazer com os recursos
públicos?
MAU PATRÃO
Documentos obtidos por ISTOÉ mostram que, além de mau
pagador, Kalil é mau patrão. Suas empresas, a Erkal e a Fergikal, respondem a
143 processos trabalhistas. Nos últimos anos, foram condenadas em 65 reclamações
por descumprirem de diversos itens da CLT, inclusive por não permitir que os
funcionários tivessem acesso a água potável e banheiro. “Diversos
ex-funcionários têm feito declarações sobre as péssimas relações trabalhistas
de kalil e isso certamente vai tirar-lhe votos”, disse à ISTOÉ um dos
assessores da campanha de Russomano em São Paulo. Dois desses trabalhadores são
Geraldo Moreira e Geraldo da Silva. Eles estão com os salários atrasados por
meses e não recebem férias nem décimo terceiro. No horário eleitoral, Adriana
Madureira, outra funcionária de Kalil que trabalha na área de recursos humanos,
afirmou que a “inadimplência com os trabalhadores é norma nas empresas de
Kalil”. O candidato diz que ela mente. Os processos e documentos públicos mostram
que Kalil mente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário