sábado, 29 de outubro de 2016

MENTIRAS ELEITORAIS

Da ISTOÉ
As mais recentes pesquisas revelam que a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (MG) chega na reta final absolutamente indefinida. Depois de promover uma campanha marcada pela agressividade e pela absoluta falta de compromisso com a verdade, o candidato do PHS, Alexandre Kalil, ex-presidente do Clube Atlético Mineiro, passou a última semana contabilizando uma enorme perda de votos. De acordo com o Ibope divulgado na quinta-feira 27, ele perdeu dois pontos percentuais das intenções de voto em apenas sete dias. Kalil e o tucano João Leite estão em empate técnico. O primeiro, segundo o Ibope, soma 39% e Leite cresceu para 36%. “É natural que logo depois do primeiro turno houvesse um crescimento da candidatura de Kalil devido ao seu maior tempo de exposição no horário eleitoral nesse segundo turno. Mas, nos últimos dias, o eleitor passou a verificar que o candidato é uma fraude montada por marqueteiros”, analisa o cientista político André Ventura. De fato, na última semana, ficou claro que os fatos desmentem as falas do candidato do PHS. Ele não consegue sequer explicar de onde vêm os recursos destinados à sua campanha e até esconde o fato de receber “clandestinamente” o apoio do PT.
Nos debates do segundo turno, o tucano desafiou Kalil a explicar a origem de R$ 2,2 milhões que ele próprio destinou à sua campanha. Trata-se de uma quantia enorme para o dono de duas empreiteiras que se encontram atoladas em dívidas, até com a Prefeitura de Belo Horizonte, e que colecionam uma série de processos por continuamente desrespeitar os direitos trabalhistas, inclusive tomando recursos dos funcionários e não repassando-os ao FGTS e ao INSS, como denunciaram diversos antigos empregados. Em sua declaração de Imposto de Renda, apresentada à Justiça Eleitoral, Kalil declarou ser dono de um patrimônio avaliado em R$ 2,7 milhões, incluindo sociedade em alguns imóveis, quatro motos Harley Davidson, um Mercedes e um Land Rover. Como poderia, então, alguém que tem um patrimônio de R$ 2,7 milhões doar, em espécie, R$ 2,2 milhões para a campanha? Quando indagado por João Leite, Kalil nada respondeu. Assessores, no entanto, fizeram chegar a jornais e rádios de Belo Horizonte que o candidato do PHS havia vendido um imóvel para obter os recursos declarados no TSE. Na quarta-feira 26, ISTOÉ perguntou a Kalil qual seria a origem dos recursos. No email encaminhado à campanha, a reportagem questiona que imóvel teria sido vendido, qual o valor da venda, o nome do comprador e o cartório em que fora registrada a negociação. Até o fechamento dessa edição, nenhuma resposta havia sido dada. Na quinta-feira, procuradores do TRE de Minas afirmaram à ISTOÉ que, nos próximos dias, independentemente do resultado da eleição, Kalil e o PHS terão que justificar a origem dos R$ 2,2 milhões. “As contas da campanha precisam ser transparentes e o eleitor tem que saber de onde vem o dinheiro gasto pelos candidatos”, disse o procurador. “Ele pode até vencer a eleição, mas se não comprovar a legalidade da campanha corre o risco de não tomar posse”.
DESESPERO NO QG
Segundo os especialistas em eleições, além da falta de argumentos convincentes, as falsas explicações são fatores que levam à perda de votos. No início da semana passada, ficou público que as empreiteiras de kalil há anos não pagam o IPTU e somavam uma dívida milionária exatamente com o a Prefeitura que ele pretende administrar. Kalil, então, admitiu ser devedor, mas afirmou que havia acabado de saldar a dívida no valor de R$ 120 mil. A mentira tem perna curta e a versão durou poucas horas. Na quinta-feira, o site Oantagonista.com mostrou que um levantamento feito no Tribunal de Justiça de Minas, onde correm processos contra kalil e a Erkal Engenharia, revela que as dívidas do candidato com o fisco de BH são superiores a R$ 1,2 milhão, valor muito maior do que os R$ 120 mil que o candidato diz ter pago.
A divulgação da pesquisa do Ibope na noite da quinta-feira colocou o QG de Kalil em estado de alerta. Segundo os próprios estrategistas do PHS, o candidato pode estar sofrendo o mesmo processo que derrotou o candidato Celso Russomano, do PRB, em São Paulo. Durante boa parte da campanha, ele liderou a disputa, mas viu sua candidatura ruir rapidamente quando ficou comprovado o desrespeito com os direitos trabalhistas em um bar que manteve em Brasília. Com Kalil a situação é ainda mais grave. O candidato se apresenta como um gestor competente. Sua situação no Judiciário , porém, indica que ele está mais para rei das bravatas do que para prefeito de uma capital. Pesquisas feitas em cartórios e órgãos públicos, incluindo a própria Prefeitura de Belo Horizonte, mostram que as dívidas de kalil e suas empresas somam R$ 35,6 milhões. São números de um gestor competente? Dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional apontam que as empresas do candidato têm R$ 18,8 milhões inscritos na dívida ativa da União, valor referente ao não pagamento de contribuições previdenciárias e ao FGTS. Ou seja, suas empresas descontam a contribuição dos trabalhadores e não repassam ao governo. Isso é atuação de administrador honesto? Pesquisas feitas em cartórios e na Prefeitura de BH mostram que as empresas de Kalil devem mais R$ 16,7 milhões a fornecedores privados e de IPTU. Quem faz isso com as finanças pessoais, o que poderá fazer com os recursos públicos?
MAU PATRÃO
Documentos obtidos por ISTOÉ mostram que, além de mau pagador, Kalil é mau patrão. Suas empresas, a Erkal e a Fergikal, respondem a 143 processos trabalhistas. Nos últimos anos, foram condenadas em 65 reclamações por descumprirem de diversos itens da CLT, inclusive por não permitir que os funcionários tivessem acesso a água potável e banheiro. “Diversos ex-funcionários têm feito declarações sobre as péssimas relações trabalhistas de kalil e isso certamente vai tirar-lhe votos”, disse à ISTOÉ um dos assessores da campanha de Russomano em São Paulo. Dois desses trabalhadores são Geraldo Moreira e Geraldo da Silva. Eles estão com os salários atrasados por meses e não recebem férias nem décimo terceiro. No horário eleitoral, Adriana Madureira, outra funcionária de Kalil que trabalha na área de recursos humanos, afirmou que a “inadimplência com os trabalhadores é norma nas empresas de Kalil”. O candidato diz que ela mente. Os processos e documentos públicos mostram que Kalil mente.
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