Da VEJA
Passada uma semana, a Polícia Civil do Rio de Janeiro ainda
não sabe como explicar. Como VEJA revelou na semana passada, o senador Marcelo
Crivella, candidato à prefeitura do Rio pelo PRB, foi preso há 26 anos e,
durante todo esse tempo, guardou a documentação do caso em sua casa. Guardou
até os negativos das fotos tiradas na delegacia em 18 de janeiro de 1990. A
Polícia Civil, até agora, não faz ideia de como o material deixou os arquivos
policiais, o que é proibido por lei.
Também não sabe explicar outro mistério perturbador: como os
registros reapareceram há seis meses em um sistema oficial de buscas? A família
do delegado João Kleper Fontenelle, que morreu em 2012, reagiu indignada à
explicação de Crivella de que ganhara tudo — o inquérito e as fotos — de
presente do próprio delegado. “Pôr a culpa em alguém que já morreu e não pode
se defender é muita falta de escrúpulos”, afirmou a filha de Fontenelle,
Flávia, que cogita processar o bispo licenciado.
Líder das pesquisas às vésperas da eleição, Crivella tentou
conter os danos com uma tática que desafia o bom-senso: mudou por completo a
versão do que dissera em conversa gravada com VEJA. De tão inusitado, o método
merece um verbo em homenagem ao criador: Crivella crivellou. Em um vídeo,
disse: “Vou esclarecer. Nunca fui preso”. Tentou pulverizar, numa única frase,
uma fila de evidências: 1) o registro de ocorrência 023/1990, em que foi
autuado por invasão de domicílio; 2) a fiança de 450 cruzados novos (hoje 320
reais) que pagou para sair da cadeia; e 3) sua própria voz dizendo, no áudio
postado no site de VEJA: “Fiquei preso na carceragem da 9ª DP lotaaaaaaada de
gente”.
No mesmo vídeo, crivellou uma segunda vez. Disse que sua
única intenção na ida ao local da discórdia era “consertar um muro que ameaçava
desabar”. No inquérito que o próprio Crivella cedeu a VEJA, pessoas que estavam
no terreno afirmam que ele chegou com pé de cabra e homens armados para
expulsá-las. Na entrevista à revista, o bispo ainda disse: “Fiquei revoltado” e
“arrebentei aquela cerca”. É natural que um candidato queira desviar-se de um
noticiário desfavorável, sobretudo às vésperas da eleição. É difícil
compreender, no entanto, as razões que o levam a desmentir a si próprio. Talvez
por isso Crivella tenha cancelado as entrevistas de que participaria na semana
passada. Talvez temesse crivellar de novo.
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