Ricardo Soares, DOM TOTAL
No dia primeiro de janeiro de 2017 muita gente acredita de
verdade que vai começar um admirável mundo novo em muitas prefeituras do Brasil
quando na verdade na maioria delas tudo
será como antes. Os mesmos velhos desmandos, os mesmos maus hábitos, as
mesmas trocas de favores, o mesmo clientelismo , o mesmo toma lá, dá cá.
Mesmo em São Paulo, a maior de nossas cidades, tem gente que
crê de verdade que a chegada de João Dória ao poder mudará os trilhos da
história municipal quando na verdade o futuro prefeito é apenas a mais completa
tradução da contradição onde se elege como "novo" aquilo que tem de
mais velho. Mais uma gargalhada da história para aqueles que não conhecem
história.
Na sua aristocracia rural depois convertida em urbana e
industrial São Paulo deu ao país muita
gente boa mas aberrações politicas como Jânio, Ademar de Barros e outras figuras exóticas e bizarras como o
recém todo poderoso Gilberto Kassab, o falso anódino. Isso sem falar no
abominável poeta e empreiteiro de mesóclises Michel Temer, aquele que é sem
nunca ter sido.
Antes de achar graça na ironia dos fatos que se repetem como
paulistano da gema me intriga muito essa mania dos meus conterrâneos em se
considerar a vanguarda da nação quando escolhemos sempre variações sobre o
mesmo tema para nos desgovernar. Senão no municipio no Estado como vemos há
muito tempo com os tucanos que ocupam a
gaiola do Palácio dos Bandeirantes e sujam todos os poleiros. João Dória, nesse contexto, é a nova
"avis rara" saída dessa estufa de maldades e não vem para brincar
não. Vem com sede, posando de democrata, para desconstruir tudo aquilo que seu
antecessor conseguiu fazer.
Não adianta lamentar o prosecco derramado. Dória veio e tem
planos de ficar muito mais. Tem caras ambições manipulando as emoções baratas
dos pobres de direita que pululam nas periferias. Encontra um país em mau
estado e promete ( mesmo que não o faça explicitamente) consertar o Brasil a
partir do "exemplo" paulistano.
Não dou um real furado por esse discurso do novo prefeito e desejo de
coração que ele não erre tão feio assim o alvo ao prometer ser o Messias que
todos sabemos que ele não poderá ser. Os amigos certos de Dória, aqueles a quem
ele sempre bajulou e pelos quais intercedeu, estarão aí firmes e fortes a
sorrir dentes lindos para as fotos ao lado do nosso novo alcaide. Resta saber
em quanto tempo vão cariar ainda mais a arcada da urbe paulistana tão maltratada
pela desigualdade que nem de longe Dória parece preocupado em consertar.
Ricardo Soares é escritor e jornalista. Publicou 7 livros e
dirigiu 12 documentários. Escreve às segundas e quintas no DOM TOTAL. É autor
do blog Todo Prosa
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