“Uma lição de vida”, expressão tão gasta nos dias
de hoje, ganha uma nova dimensão na trajetória de José Alencar.
O mineiro de Muriaé, que na infância andava descalço por não ter
sapato, construiu um dos maiores impérios têxteis do
mundo, alcançou o poder político com a vice-presidência da
República e deixou a cena na última terça-feira, 29, vítima de
um câncer, foi além dos limites em vida e virou exemplo.
Não apenas pelo tamanho de suas realizações. Mas pelas
múltiplas demonstrações de caráter, coragem e dignidade. Na luta
incessante contra a doença, jamais se abateu. Frente aos piores desafios,
contrariou prognósticos e na base do bom humor rompeu expectativas
negativas e serviu de estímulo a milhares de pessoas que se encontravam na
mesma situação.
Parecia que a cada má notícia, a cada revés, com suas
inimagináveis 17 cirurgias, Alencar ganhava nova motivação.
Invencível na determinação! E todos fi cavam a se perguntar: de onde
ele tira tanta força? Ao quebrar paradigmas, ao perseguir alternativas,
até as não convencionais, aceitando passar por tratamentos empíricos, em
fase experimental, Alencar encarnou seu papel mais admirável. É a face
perceptível para o grande público: a do homem que gostava de viver e
com simplicidade, persistência e fé perseguiu o objetivo.
Não bastou ser o político probo e retilíneo, de
biografia irretocável – algo raro numa classe marcada nos
últimos tempos por tantos desvios de conduta. Não bastou a
esplendorosa trajetória empresarial. Nem o modelo de vida
familiar. Alencar queria e podia mais. Em sua
cruzada, converteu-se em rara unanimidade. Arrebatou admiradores de
diversos credos e classes sociais, indistintamente. Todos aprenderam com
ele e foram tocados por sua disposição de seguir adiante.
De solidifi car princípios. Ele erigiu um legado, que
servirá, com certeza, de inspiração por muitas gerações. É de bom tom que
se sublinhe e fi que marcado na memória o valor elementar da conduta
deste brasileiro, que desperta em cada um de nós os
melhores sentimentos: Alencar era, essencialmente, um homem bom. Para
um país carente de heróis, referências e padrões, nada mais fundamental! A
marca e o papel de Alencar são mostrados nas próximas páginas da revista
ISTOÉ como uma reverência a esse excepcional brasileiro.
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