Registros oficiais desmentem a versão repetida pelo
candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, de que nunca foi
procurado pela administração paulistana em busca de verba para a cidade quando
ocupou o Ministério da Educação, entre 2005 e 2012.
Em entrevista à Folha no dia 16 de junho, Haddad afirmou:
"O secretário de Educação do prefeito Kassab [Alexandre Schneider] jamais
me solicitou uma única audiência durante toda a sua gestão à frente de sua
secretaria e durante toda a minha gestão. Nunca houve manifestação de interesse
da prefeitura em estabelecer parceria com o governo federal."
A agenda pública do Ministério da Educação e um e-mail da
Secretaria Municipal de Educação ao gabinete do então ministro mostram que
Haddad recebeu Schneider ao menos uma vez. O encontro ocorreu em 16 de
fevereiro de 2011, a pedido do então secretário.
Hoje, Schneider é candidato a vice na chapa do tucano José
Serra, o principal adversário do PT na eleição.
VERSÕES
Na última segunda-feira, Schneider disse que Haddad havia
mentido e relatou um encontro com o petista, no MEC. Questionada, a assessoria
de Haddad confirmou em nota a audiência.
Depois, quando a reportagem apontou que o petista havia
negado diversas vezes qualquer encontro com Schneider, a assessoria do
candidato emitiu uma segunda nota. Disse que houve apenas "visita" e
reiterou que Schneider ou o prefeito Gilberto Kassab (PSD) nunca pediram
"audiência para demandar recursos do MEC".
Avisada sobre a existência de registros de uma audiência, a
assessoria de Haddad deu uma terceira versão. Em nota assinada pelo
coordenador-geral da campanha, Antonio Donato, assumiu a audiência e os pedidos
de recurso, mas disse que a demanda foi feita "de última hora".
"O secretário [Schneider] estava pressionado pelo
Ministério Público do Estado, que se preparava para ajuizar uma ação civil
pública de improbidade pela incapacidade de suprir o deficit de 120 mil vagas
de creche", completou.
PARCERIA
No e-mail que pediu a reunião com Haddad, a Secretaria de
Educação disse que queria apresentar "projetos para possíveis
parcerias".
Desde que assumiu a candidatura, Haddad vem atribuindo o
baixo volume de investimentos do MEC em São Paulo ao desinteresse da gestão de
Kassab. Ele tem usado a falta de parcerias como mote e sempre diz que, se
eleito, poderá trazer mais recursos federais para a cidade.
Ontem, Schneider criticou Haddad: "É lamentável que um
candidato jovem, em sua primeira eleição, inicie-a com uma prática tão antiga
como mentir", disse.
O desdobramento da reunião Haddad-Schneider também é alvo de
polêmica. Schneider diz que a burocracia do MEC impediu o acesso da cidade aos
recursos. Haddad afirma que os procedimentos exigidos eram simples.
OUTRO LADO
Procurado pela reportagem, Fernando Haddad minimizou a
audiência com Alexandre Schneider e disse que o ex-secretário agiu, na ocasião,
em fevereiro de 2011 para despistar o Ministério Público Estadual.
"Eu considero os movimentos do secretário no ano
passado um mero jogo de cena para dar satisfação às investigações do Ministério
Público", afirmou, por meio de sua assessoria.
A assessoria de Schneider afirmou que o pedido de recursos
foi feito meses antes da ação citada pelo PT, que tem como alvo a prefeitura.
Em nota, a campanha de Haddad afirma que Schneider
"solicitou, de última hora, um encontro com o então ministro da
Educação".
"O secretário estava pressionado pelo Ministério
Público do Estado, que se preparava para ajuizar ação civil pública de
improbidade, como de fato ocorreu, pela incapacidade do município de suprir o
deficit de 120 mil vagas de creche".
A campanha do petista diz que, na reunião, o secretário foi
orientado a manifestar formalmente seu interesse na parceria em "ambiente
virtual". "Em junho de 2011, Schneider encaminhou ofício, pelo
correio, solicitando a inclusão no programa Pró-infância de forma
inadequada", diz o PT.
"A secretaria não se cadastrou nem manifestou
interesse", sustenta a nota.
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