Ensina a Ciência Política, desde Nicolau Maquiavel e
Montesquieu, que não se deve conceder poder total a quem quer que seja, sob
pena de vermos as liberdades tolhidas e, consequentemente, a democracia
esvair-se em discursos demagógicos, projetos festivamente anunciados, mas
jamais realizados. No Ceará, de fato, já temos um exemplo acabado do perigo que
configura para a democracia um projeto de governo, cujo mando vai além do que
preconiza a clássica repartição de poderes. A Assembleia Legislativa do Ceará
não passa de um apêndice do governo do Estado. E até ontem, quando a bancada do
PT aliava-se ao governador, a situação era simplesmente risível, para não dizer
degradante. Só o deputado Heitor Férrer encarnava o quixotesco papel de
oposição.
O rompimento do PT da prefeita com o PSB do governador é
algo saudável para a democracia. Neste cenário, cavalgando um discurso piegas e
caudatário do poder, os comunas abandonaram definitivamente a revolução.
Esqueceram por completo a lição de Lênin: “Só os velhacos e patetas podem
acreditar que o proletariado deve primeiro conquistar a maioria nas votações
realizadas sob o jugo da burguesia, sob o jugo da escravidão assalariada, e que
só depois deve conquistar o poder. Isto é o cúmulo da imbecilidade ou da
hipocrisia, isto é substituir a luta de classes e a revolução por votações sob
o velho regime, sob o velho poder”. Claro está que o texto leninista nada mais
vale para os comunas dos dias hodiernos, os quais, aburguesados, preferem refestelar-se
nos gabinetes de ar condicionado a adotarem uma postura de enfrentamento com
forças oligárquicas ou tendentes a tal.
Pelo que se nos foi dado observar nas eleições, em
Fortaleza, como em muitas cidades brasileiras, os comunas, definitivamente,
perderam a validade ideológica em relação ao pensamento marxista-leninista.
Transformaram-se melancolicamente em grupelhos eleitoreiros sem qualquer
expressão vanguardista. Mais do que para os partidos europeus da década de
1980, vale para os comunas, que militam entre nós, cujo discurso não se coaduna
com a prática, a conceituação do filósofo francês Jean Baudrillard: eles
viraram paraísos artificiais da política...
Artigo de Barros Alves, publicado no O Estado.
Artigo de Barros Alves, publicado no O Estado.
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