Saudados pela crítica como notáveis qualidades do primeiro
volume da trilogia sobre Getúlio Vargas, a pesquisa rigorosa e o texto
cativante de Lira Neto continuam nesta parte central da saga biográfica
esmiuçando a trajetória do líder político responsável pelas mais profundas
transformações do Brasil no século XX.
O livro reconstitui os mandatos de Getúlio no Palácio do
Catete como chefe do Governo Provisório (1930-4), presidente constitucional
(1934-7) e, por fim, ditador (1937-45), bem como os meandros de sua vida
privada.
A astúcia calculista do gaúcho de São Borja apresenta-se
aqui em sua plenitude. Livre das amarras da 'carcomida' Constituição de 1891,
Getúlio procurou estabelecer uma agenda nacionalista e estatizante de
desenvolvimento socioeconômico enquanto, no plano político, engendrava
complicadas maquinações palacianas para manter opositores e apoiadores - entre
comunistas e militares, camisas-verdes e sindicalistas - sob a égide de sua
autoridade pessoal.
A Revolução Constitucionalista de 1932, a 'intentona'
comunista de 35 e o putsch integralista em maio de 38, fragorosamente
derrotados pelo governo, foram os mais sérios desafios à perpetuação de Vargas
no Executivo federal.
Por outro lado, a eleição indireta e a Constituição de 1934,
além do golpe de mão do Estado Novo, simbolizaram os momentos de triunfo
inconteste do poder getulista. No plano externo, a eclosão da Segunda Guerra
Mundial marcou a reaproximação do ditador com as potências aliadas e,
internamente, a decadência do regime estadonovista.
Pressionado pela diplomacia norte-americana e por ataques
alemães a embarcações brasileiras, Vargas envolveu o país no conflito europeu
motivado por interesses econômicos. Mas a contradição entre lutar pela
democracia na Europa e exercer o poder ditatorial no Brasil acabaria minando
sua sustentação nos quartéis.
Amparado pela máquina
de propaganda do famigerado Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), o
caudilho se tornou um mito popular, status que preservou mesmo após a
humilhante deposição em 1945. 'Pai dos pobres' ou déspota do populismo, Getúlio
e sua primeira passagem pelo Catete ainda hoje inflamam os seguidores e
críticos de seu contraditório legado histórico.
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