Artigo de José Aníbal
O PT anda irreconhecível. Dia desses, nos jornais, a
presidente Dilma deixou de lado a ladainha da herança maldita e se
autoparabenizou pela manutenção do (até então achincalhado) tripé da
estabilidade econômica: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit
primário.
É curiosa essa conversão súbita, ainda que tardia, à
cartilha da responsabilidade deixada pelo PSDB.
A privatização do campo de Libra, na última segunda, apesar
do atraso e da tibieza das regras, responsável pelo interesse de um único consórcio
e pelo lance a preço mínimo, é outro destes momentos de bem vinda transmutação.
Com a Petrobras endividada e a indústria do petróleo em
ponto morto, o Brasil só pode aplaudir este outro momento "quem te viu,
quem te vê" do PT.
As riquezas da exploração do pré-sal serão muito importantes
para o país e para a recomposição da Petrobras. Porém, não vão resolver num
estalar de dedos nossos problemas.
A exploração do campo de Libra só vai se tornar efetiva em
cinco anos. Até lá, o país continua travado por um emaranhado de problemas
estruturais que este governo obviamente não tem ideia de como resolver.
O PT que não consegue mudar, mesmo diante da cobrança
pública dos eleitores, é o que insiste em misturar as prerrogativas do Estado
com os destinos de seu projeto político.
O pronunciamento em cadeia nacional, na noite de segunda,
eivado de ufanismo e auto-exaltação, é destes momentos embaraçosos para a
democracia. Ver este canal de diálogo institucional usado para criar uma
catarse emotiva e pessoal é lamentável.
Esse ciclo maníaco do PT, que tenta soterrar a realidade com
doses crescentes de propaganda, revela uma indiscutível fadiga. O
posicionamento muda como o vento. Das antigas bandeiras ao discurso
republicano, vai tudo sucumbindo a um pragmatismo sem peias e sem vergonha. As
soluções vão sendo empilhadas num futuro, colorido pelos marqueteiros, cada vez
mais distante. Quem te viu, quem te vê, PT.
José Aníbal é economista e ex-presidente do PSDB.
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