Não é pequena a marca de Fernando Gabeira na história
política e cultural do Brasil. Em cinquenta anos de atividade pública, ele
jamais se fixou num dos muitos papéis que lhe couberam: o revolucionário, o
ecologista, o deputado, o ativista.
Como seu famoso relato, O que é isso, companheiro?, este
livro também nasce de uma indagação. Se, no primeiro, Gabeira usava a
militância na luta armada para reavaliar suas posições, em Onde está tudo
aquilo agora? é toda essa trajetória de cinco décadas que ele passa em revista.
A partir de uma revolta incipiente, “um difuso desejo de
liberdade”, acompanhamos os caminhos que o fazem se voltar para o jornalismo e
se empregar em redações do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, iniciando então
sua atividade política. É como jornalista que ele acompanha o golpe de 1964.
Com o endurecimento do regime, Gabeira radicaliza e se envolve num dos mais
conhecidos episódios da ditadura, o sequestro do embaixador Charles Elbrick.
Do dia a dia no cativeiro aos lances cinematográficos que
seguiram a ação, e que culminariam na prisão e exílio de Gabeira, somos
apresentados a uma nova reflexão sobre o sequestro e a militância política na
ditadura. Num comovente relato sobre o cárcere e o exílio, que inclui seu
treinamento guerrilheiro em Cuba, Gabeira vê sua atuação na luta armada sob a
ótica de um militante descrente, que encontra na ecologia uma forma nova de
ativismo.
Com a anistia e a abertura, surgiu um projeto institucional
que visava criar uma política “verde-vermelha”, na aliança do Partido Verde com
o pt. Em quatro mandatos, Gabeira conheceu por dentro o funcionamento do
Congresso, participando de CPIs e buscando novos meios de atuação.
Na parte final de Onde está tudo aquilo agora?, Gabeira
passa a limpo esses dezesseis anos como deputado em Brasília, assim como as
duas campanhas políticas, para a prefeitura e para o governo do Rio. Os erros e
as dificuldades são inseridos numa meditação ampla sobre o fisiologismo e a
política partidária no Brasil. Do rompimento com o PT a uma percepção interna
do mensalão, ele transforma a atividade parlamentar em mais um passo para
compreender a democracia, a liberdade e o poder.
Do site da Companhia das Letras
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