Por Dimmi Amora, da Folha de S. Paulo, em Brasília
Em duas semanas, Everaldo Dias Pereira, 57 anos, vai voar 11
mil quilômetros pelo Brasil, passando por nove capitais. Pastor da Assembleia
de Deus, maior denominação evangélica do país, ele diz estar decidido a ser
presidente do Brasil em 2015.
"Acredito em milagre. Mas Deus não faz milagre sem a
gente trabalhar. E a gente trabalha", diz o vice-presidente do PSC
(Partido Social Cristão), partido que controla.
Com discurso focado em temas conservadores como proteção à
família "de homem e mulher", contra a liberação das drogas e aborto e
a favor da redução da maioridade penal, pastor Everaldo tenta ocupar um espaço
vazio na política brasileira.
Muitos apostam que ele pode ser a surpresa da eleição e o
fator que pode levá-la ao segundo turno. Em levantamentos internos de alguns
partidos, seu nome chega à casa dos 5% de intenção de voto.
"Nunca vi candidato que não acredita que vai ganhar. Eu
vou subir a rampa em 2015", diz o pastor. Everaldo é desconhecido da
maioria, mas não é exatamente novidade na política. Ao contrário.
Nascido em Acari, subúrbio do Rio, está desde a década de
1980 apoiando campanhas. Formado em Ciências Atuariais e sócio de uma corretora
de seguros (após começar como office-boy no setor), foi cabo eleitoral de
Leonel Brizola em 1982 e não parou mais.
"Em 1989 eu organizei o último ato do Lula no segundo
turno, lá na Baixada Fluminense", lembra Everaldo. Sua entrada na política
de fato se deu em 1999, pelas mãos da então vice-governadora Benedita da Silva
(PT) no primeiro governo de Anthony Garotinho (então no PSB), ambos políticos
evangélicos.
Como subsecretário no governo, cuidou do Cheque Cidadão,
programa de distribuição de recursos diretos. Na época, começaram também as
acusações de uso indevido da máquina pública. A maioria dos beneficiários do
programa era evangélica.
"Por que esse pastor Everaldo tem o controle sobre a
distribuição dos cheques? O cheque do pastor é dinheiro público", disse
Brizola em entrevista em março de 2000.
NAS SOMBRAS
Everaldo saiu do governo e passou a trabalhar no projeto
presidencial de Garotinho. Só se afastou do ex-governador quando a pré-campanha
dele, em 2006, acabou em um escândalo de corrupção envolvendo ONGs fantasmas.
Everaldo e seu ex-sócio, o deputado federal Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), começaram juntos nessa época um roteiro que está desembocando em sua
possível candidatura. Um político do PMDB fluminense diz que eles são "um
só".
Cunha tornou-se um dos principais nomes da Câmara e ajudou o
partido do amigo Everaldo a crescer. O PSC quase dobrou sua bancada de 2006
para 2010 e conseguiu neste ano a polêmica eleição do pastor Marco Feliciano
(PSC-SP) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Casa.
Sobre Everaldo, Cunha reconhece a amizade, mas nega que
atuem juntos. "Tentei convencê-lo a não ser candidato, mas não tive
sucesso. [A candidatura] é irreversível", diz Cunha, que vê chances de o
amigo crescer na campanha. "A bandeira que ele defende está solta".
O PSC é o maior dos pequenos partidos dispostos a ingressar
na corrida presidencial. Elegeu 17 deputados e um senador no pleito de 2010, o
que lhe dará cerca de um minuto e 20 segundos de TV na propaganda eleitoral.
BLEFE
Para alguns políticos, Everaldo está blefando. Em 2010,
havia anunciado acordo com o PSDB para apoiar José Serra à Presidência. Dias
antes de fechar o prazo das alianças, pulou para o lado do PT.
Em troca, o PSC recebeu R$ 4,7 milhões, a maior doação
petista fora do partido. O grande beneficiário desse recurso foi Felipe
Pereira, candidato a deputado federal e o terceiro filho de Everaldo no
primeiro de seus três casamentos.
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