Por Cilene Victor, via Facebook
Foi com muita surpresa que recebi mensagens inbox sobre os
meus comentários no Jornal da Cultura de hoje. Das 11 mensagens inbox, que
acabo de ler, 8 são de pessoas de fora do meu Facebook - para a minha sorte.
Fui chamada de "demagógica", por um certo Celso,
de "nojenta", por uma Iracema, de "petista radical, defensora de
lésbicas e gays", por Silvana, e assim segue o alto nível da crítica.
O único adjetivo que dá para perder meu tempo é o de
"demagógica". E a razão da minha demagogia seria o fato de eu
defender os direitos dos animais, dos negros, dos nordestinos, dos transexuais,
ou seja, da minoria historicamente sem voz?
Durante 17 anos, dos meus 18 de docência superior, formei
muitos comunicadores (jornalistas e publicitários). Tive uma infinidade de
alunos gays, um travesti, vários gordos, mancos, cadeirantes, negros e pobres.
E sabem onde eles estão agora?
Boa parte não conseguiu colocação no mercado de trabalho
que, raras exceções, reflete a intolerância desta sociedade que se faz passar
por povo cordial, alegre, tolerante - o verdadeiro bom cristão.
O brasileiro assiste a tantas novelas que passa a maior
parte do tempo interpretando quem ele não é.
Que tal assumir sua intolerância? Por que continuar dizendo:
"eu não tenho nada contra, mas não aceito"?
A única diferença entre o Brasil e os países que surram os
seus gays em praças públicas é que aqui, como sempre, desenvolvemos mecanismos
perversos de segregação, de discriminação, aqueles que permitem dizer que aqui
tudo é aceito.
Ora, aceita-se até um protagonista gay na novela do horário
nobre, mas desde que ele morra depois, acabe louco ou vire uma pessoa tão boa,
tão genuinamente boa que o homossexualidade ficará no último plano.
Vivemos o tempo todo a síndrome do espelho: somos tão feios
que não reconhecemos o nosso reflexo, por isso fazemos de conta que somos
legais, tolerantes.
Talvez um dia muitas famílias vão acordar e descobrir que um
filho, um sobrinho, um neto é gay e que durante a sua adolescência inteira ou
fase adulta foi vítima heteros truculentos, como os que me enviaram mensagens
inbox pelo meu Facebook.
Não tenho medo de crítica, não represento ninguém. Falo o
que penso e o que sinto e o faço com a propriedade de quem pisa e já pisou
muito em barro, já subiu muito morro e dedica horas de um dia cheio para fazer
trabalhos voluntários.
Não são os brasileiros com calos nas nádegas de tanto
assistir a telenovelas que vão me intimidar.
Aceito pensamentos divergentes, como de três pessoas deste
meu Face que temem o contato de suas filhas com um transexual - legalmente
reconhecido como mulher, pois se submeteu a uma cirurgia e teve o direito a um
nome feminino.
Meus cumprimentos ao shopping Barra, de Salvador, pela
atitude de não acatar o pedido de proibição do uso do banheiro feminino por uma
transexual, fundamentado nos "direitos e na dignidade humana".
Talvez agora, de fato, eu consiga entender o que levou
Pedrinhas a ser realidade e não ficção.
É neste ritmo que, a cada minuto, seremos chamados para dar
explicações à OEA pela violação dos direitos humanos.
Se conseguirem, um excelente final de semana. Eu, com a
decisão sensata do Barra de Salvador, terei um dos melhores finais de semana.
Cilene Victor, professora de jornalismo na Faculdade Cásper
Líbero e comentarista do Jornal da Cultura.
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