Por Dora Kramer, colunista do jornal O Estado de S.Paulo
Alguém está ouvindo ou vendo algum partido brigar pelo
Ministério da Cultura, pela pasta de Assuntos Estratégicos, por um lugar ao sol
no Desenvolvimento Agrário ou na Previdência e seus inúmeros problemas?
Não, os postos disputados nas negociações que a presidente
Dilma Rousseff abre esta semana para formatar a dita reforma ministerial - que
de reformuladora não tem nada - são os comandos da Integração Nacional, dos
Transportes e do Ministério das Cidades. Já, já detalharemos os motivos.
Partindo da premissa de que estamos todos bem crescidos para
saber que a discussão não envolve o aprimoramento das políticas públicas nem a
melhoria do desempenho de cada um desses setores. O critério é só um: o que os
partidos podem fazer pela reeleição da presidente e o que os ministérios podem
dar em troca aos partidos.
Não está, contudo, muito clara para a maioria, e vale a pena
esmiuçar, a motivação do toma lá dá cá. Quais as vantagens objetivas que rendem
de parte a parte essas transações?
Por que para a presidente é tão importante acomodar partido
x ou y na equipe? Para atraí-los a uma coalizão oficial e com isso assegurar
maior tempo na propaganda de rádio e televisão; para impedir que esse tempo vá
para a oposição; para com uma base ampla de apoio criar um clima político
favorável.
Por que para os partidos é vantajoso ocupar um ministério
mesmo durante poucos meses? Primeiro, depende do ministério. Os três citados
acima como os mais disputados reúnem as condições ideais.
Eles têm dinheiro, instrumentos para liberação de recursos
para prefeituras (excelentes cabos eleitorais para deputados que, por sua vez,
se empenham para eleger governadores e presidente), obras a serem realizadas e
contato com potenciais financiadores de campanha, principalmente empreiteiras.
Trata-se, em suma, de manuseio de interesses partidários com
vista a incrementar as condições eleitorais de cada um, fundadas em dois
pilares: dinheiro e visibilidade.
A presidente poderá optar por soluções "técnicas",
nomeando os secretários executivos para o lugar dos ministros que serão
candidatos? Em tese sim. O então presidente Lula fez isso em 2010.
Mas na época ele não era candidato, estava com a
popularidade nas alturas e o PIB de quase 8% de crescimento ao ano. Dilma está
em situação diferente, que a posiciona desfavoravelmente em relação aos
partidos. Em português claro, terá de ceder. Ou se arriscar.
Andança. O novo líder do PSDB na Câmara Federal, Antonio
Imbassahy, está se preparando para assumir o posto em fevereiro ciente de que
os movimentos da bancada terão como referência a candidatura presidencial de
Aécio Neves.
Imbassahy fez uma rodada pelo País a fim de conferir as
possibilidades de aliança. A última semana passou no Rio de Janeiro para
conversar com gente do grupo que sustenta o programa a ser apresentado pela
área econômica.
Dos contatos políticos saiu com as seguintes impressões: a
despeito da resistência do grupo de Marina Silva, haveria espaço em São Paulo
para um acordo com PSB em torno da candidatura ao Senado; no Nordeste há jogo
favorável na Bahia, no Ceará (ambos em parceria com o PMDB), no Piauí e no
Maranhão em acerto com o candidato Flávio Dino, do PC do B.
No Estado dominado pelo clã Sarney os tucanos contam com a
armadilha em que está preso o PT nacional. Diante do monumental desgaste da
família, nem Lula nem Dilma poderão aparecer por lá sem risco de contágio. Como
são cobrados por lealdade aos Sarney (em 2010 a candidata do PT teve 80% dos
votos maranhenses), tampouco têm salvo-conduto para liberar o apoio dos petistas
a Flávio Dino.
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