Por Dora Kramer, colunista do jornal O Estado de S.Paulo
A gente lê a notícia de que a presidente Dilma Rousseff
tinha encontro marcado ontem com o ex-presidente Lula para se aconselhar sobre
o arranjo político-partidário mais conveniente para o êxito da campanha pela
reeleição e fica a se perguntar se o antecessor é mesmo o melhor conselheiro
para esses assuntos.
Afinal não foi ele mesmo quem indicou a quase dezena de
ministros demitidos por Dilma no primeiro ano de governo em nome da
"faxina ética"?
E não foi essa dita limpeza que rendeu boa fama à
presidente, vista como intransigente com "malfeitos", uma governante
preocupada com o desempenho do ministério como um todo, celebrada por este
aspecto se diferenciar de Lula, razão de seus altos índices nas pesquisas até
junho de 2013?
Pois agora ela faz o caminho inverso. Inclusive sem a
cerimônia de algum tempo atrás quando reintegrou ao "esquema" alguns
dos demitidos, reintegrando discretamente seus partidos à equipe e permitindo
que eles indicassem os ocupantes dos cargos que fossem de seu (deles) agrado.
Levantamentos feitos pelo Estado mostram dois cenários. Em
um deles registra-se a redução de 60% do apoio dos partidos aliados nas
votações no Congresso.
Em outro, é apontada a quantidade de partidos abrigados nos
ministérios: dez. Se a "reforma" sair como previsto, a divisão
ficaria assim: 25 pastas para o PT, cinco para o PMDB, uma para o PR, uma para
o PP, uma para o PROS, duas para o PSD, uma para o PTB, uma para o PDT, uma
para o PC do B e uma para o PRB.
Feita a soma, chega-se a 39, o número exato de ministérios
existentes. Significa que nenhum deles está fora do critério de coalizão de
resultados eleitorais. Todas as pastas estão a serviço da tentativa de Dilma de
se reeleger.
Seja para acumular mais tempo de televisão ou para impedir
que esse benefício vá para os adversários, nesse caso sendo alvo de uma
ofensiva de enfraquecimento (para não dizer morte) por inanição.
Na mesma pesquisa do Estado sobre o histórico de entrega de
ministérios a partidos, revela-se que Dilma é campeã. José Sarney entregou
dois, Fernando Collor, a seis, Fernando Henrique a cinco nos dois governos e
Lula a nove em oito anos.
Seria a necessidade decorrente da insegurança de que a
reeleição estaria garantida? É uma hipótese. Mas, que se de um lado reforma uma
segurança, de outro desconstrói junto ao eleitorado a imagem que rendeu tanto
sucesso.
Se não for muito grosseiro usar a expressão, as pessoas
ficam autorizadas a trocar o conceito de faxina pela impressão de que estaria
havendo uma operação sujeira. Com adoção de critérios apostos aos atos e
discursos anteriores.
Razões de Cabral. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio
Cabral, havia decidido deixar o governo em 31 de março. Resolveu antecipar para
28 de fevereiro quando o PT anunciou que sairia dos cargos na mesma data. E
Cabral até admite adiar se o PT fizer o mesmo.
Por que o sincronismo? Porque Cabral quer atribuir o
rompimento ao PT que, neste aspecto, teria sido ingrato pelo fato de o sucesso
administrativo de Cabral se dever à parceria entre os governos federal e
estadual.
Sendo do PT a "culpa" pelo rompimento, isso daria
o discurso de vítima ao PMDB, uma vez que não há mesmo possibilidade de
Lindbergh Farias desistir.
A antecipação da saída de Cabral em um mês não altera o
quadro eleitoral, mas faz a diferença no humor político-partidário; a
diferença, pois para todos os efeitos os petistas foram intolerantes a fim de
retardar ao vice Luiz Fernando Pezão tempo necessário para firmar uma boa
imagem.
Para o PT vale a mesma regra, o que libera o partido para
fazer a campanha em clima de guerra.
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