terça-feira, 27 de maio de 2014

MERGULHO NO INFERNO

Um dos mais corajosos militantes de esquerda que combateram a ditadura imposta em 1964, Eunício Precílio Cavalcante lança nesta terça-feira (27 de maio) no Rio um livro que busca reconstituir a violência e a barbárie que vigoraram no Brasil durante 21 anos e cuja herança ainda nos castiga.
O lançamento de “Mergulho no inferno: Relatório sobre as torturas no Brasil'' começa às 18h, na Livraria Leonardo Da Vinci (av. Rio Branco, 185, subsolo).
Hoje oficial reformado da Marinha, Cavalcante tem muita história para contar: do que viu, do que ouviu, do que pesquisou e sobretudo do que padeceu na própria pele.
Ele foi preso em São Paulo na manhã de 4 de novembro de 1969. Horas mais tarde, seu companheiro Carlos Marighella seria assassinado numa rua escura da cidade, em operação comandada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury.
Antes da execução, passou-se um episódio na sede do Dops, a política política paulista, que eu incluí na biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'' (Companhia das Letras). Narrei-o assim, com base em várias entrevistas:
“Os presos superlotavam as celas e engarrafavam os corredores. Um deles era o paraibano Eunício Precílio Cavalcante, segundo-sargento do Corpo de Fuzileiros Navais expulso da Marinha em 1964. Era um dos raríssimos companheiros que Marighella levara no Rio à casa _e terreiro_ de Antônia Sento Sé.
Fleury provocou o militante da ALN:
'Cadê o Marighella?'
'Você não é macho? Vá buscar!', desafiou o revolucionário.
Rose Nogueira testemunhou os socos e pontapés que o delegado desferiu no homem indefeso, gritando:
'Pois eu vou mesmo! Hoje é o último dia do Marighella!'''
ALN era a Ação Libertadora Nacional, maior organização armada de oposição à ditadura. Lideravam-na Marighella e o jornalista Joaquim Câmara Ferreira.
Rose Nogueira é uma _brilhante_ jornalista que havia sido presa devido ao vínculo com a ALN e o próprio Marighella.
Antônia Sento Sé é mãe-de-santo e ex-cunhada de Marighella.
Logo depois da agressão a Cavalcante, Fleury participou do assassinato de Marighella: ao menos 29 policiais armados até os dentes fuzilaram um homem cercado e desarmado _o guerrilheiro não portava nem um canivete.
Eunício Precílio Cavalcante viveu aqueles dias ferozes, desafiou o facínora, mergulhou no inferno e sobreviveu para contar.
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