Um dos mais corajosos militantes de esquerda que combateram
a ditadura imposta em 1964, Eunício Precílio Cavalcante lança nesta terça-feira
(27 de maio) no Rio um livro que busca reconstituir a violência e a barbárie
que vigoraram no Brasil durante 21 anos e cuja herança ainda nos castiga.
O lançamento de “Mergulho no inferno: Relatório sobre as
torturas no Brasil'' começa às 18h, na Livraria Leonardo Da Vinci (av. Rio
Branco, 185, subsolo).
Hoje oficial reformado da Marinha, Cavalcante tem muita
história para contar: do que viu, do que ouviu, do que pesquisou e sobretudo do
que padeceu na própria pele.
Ele foi preso em São Paulo na manhã de 4 de novembro de
1969. Horas mais tarde, seu companheiro Carlos Marighella seria assassinado
numa rua escura da cidade, em operação comandada pelo delegado Sérgio Paranhos
Fleury.
Antes da execução, passou-se um episódio na sede do Dops, a
política política paulista, que eu incluí na biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'' (Companhia das Letras). Narrei-o assim,
com base em várias entrevistas:
“Os presos superlotavam as celas e engarrafavam os
corredores. Um deles era o paraibano Eunício Precílio Cavalcante,
segundo-sargento do Corpo de Fuzileiros Navais expulso da Marinha em 1964. Era
um dos raríssimos companheiros que Marighella levara no Rio à casa _e terreiro_
de Antônia Sento Sé.
Fleury provocou o militante da ALN:
'Cadê o Marighella?'
'Você não é macho? Vá buscar!', desafiou o revolucionário.
Rose Nogueira testemunhou os socos e pontapés que o delegado
desferiu no homem indefeso, gritando:
'Pois eu vou mesmo! Hoje é o último dia do Marighella!'''
ALN era a Ação Libertadora Nacional, maior organização
armada de oposição à ditadura. Lideravam-na Marighella e o jornalista Joaquim
Câmara Ferreira.
Rose Nogueira é uma _brilhante_ jornalista que havia sido
presa devido ao vínculo com a ALN e o próprio Marighella.
Antônia Sento Sé é mãe-de-santo e ex-cunhada de Marighella.
Logo depois da agressão a Cavalcante, Fleury participou do
assassinato de Marighella: ao menos 29 policiais armados até os dentes
fuzilaram um homem cercado e desarmado _o guerrilheiro não portava nem um
canivete.
Eunício Precílio Cavalcante viveu aqueles dias ferozes,
desafiou o facínora, mergulhou no inferno e sobreviveu para contar.
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