"no final, esses casais chegam à velhice, na amargura
da iníqua solidão".
Não vou discutir religião, não mesmo, mas senti-me ultrajada
com a posição de um religioso que se tornou pop por propagar a paz e a
humildade.
Não há paz nem humildade em nenhuma forma de julgamento.
Que triste ver um Papa encaixotando as pessoas e pesando
animais e humanos em uma balança capenga.
Queria levar o Papa para conhecer os asilos da Europa, da
América Latina, da Ásia, de todos os cantos do mundo. Talvez ele pudesse
perceber que aqueles que ouviam o seu discurso distorcido são os mesmos que,
sem cerimônia, depositam seus "velhos" em um local onde esperarão
lenta e solitariamente pela morte.
Filhos não garantem o fim da solidão na velhice de ninguém.
A grande maioria dos filhos só quer os "velhos
úteis" - aqueles que cuidam dos netos ou da casa.
"Velhos" estão próximos da morte e ninguém quer
contato com ela.
Se o Papa aceitar me acompanhar nos asilos, verá que lá os
gatos e cachorros mantêm o contato desses velhinhos com a vida.
Se o Papa deixar de encaixotar as pessoas, conhecerá
mulheres como eu que optaram por não ter filhos não para enriquecer e poder
viajar, mas porque têm a coragem de fazer escolhas e de dar a direção às suas
próprias vidas, sem ceder à pressão ou cobrança social.
Se o Papa deixar de encaixotar as pessoas, saberá que muitas
crianças são agredidas física e psicologicamente pelos próprios pais que não
tinham condições alguma de ter filhos, mas a pressão social e o curso estúpido
de suas vidas os levaram a colocar inocentes no mundo.
Papa, meu querido, onde há amor, não importa de quem para
quem, há paz e levar a paz ao mundo é o que esperamos de um religioso!
Que triste!
Cilene Victor, professora de jornalismo na Faculdade Cásper
Líbero e comentarista do Jornal da Cultura.
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