Na campanha, a propaganda de Dilma Rousseff atacou duramente
Marina Silva. A âncora da crítica foi a relação de Marina com Neca Setubal, a
educadora que detém menos de 2% das ações do Itau. Reeleita, a presidente
resolve convidar o presidente do Bradesco, um dos dois maiores bancos do País,
para comandar a economia. Porém, Luis Carlos Trabuco segue a orientação do dono
do Bradesco, Lázaro Brandão, e rejeita o convite.
A simples rejeição de um convite de tamanha envergadura já
significa uma desmoralização. Nesses casos, é de praxe enviar “embaixadores”
para fazer sondagens antes de se efetivar o convite. Afinal, não fica nada bem
para o cargo de presidente da República uma resposta negativa.
Mas ela aconteceu.
Mas não ficou apenas nisso. Consta que o comando do
Bradesco, para contemplar a presidente, sugeriu o nome de Joaquim Levy,
executivo do banco, para o Ministério da Fazenda. Dilma acatou a ideia. O homem
que vai assumir o pasta da formulação econômica é de espírito tucano e
colaborou informalmente com a campanha de Aécio Neves, o senador que, para a
campanha petista, é a encarnação do mal na terra.
Leio no jornal: “Segundo três integrantes do time do tucano
e um parlamentar que acompanhou a campanha de Aécio, a linha direta de Levy era
com Armínio Fraga, ex-presidente do BC de Fernando Henrique Cardoso e
coordenador do programa econômico do PSDB”. Mais: ‘Levy é pupilo do Armínio e
foi ouvido na campanha’, disse um aliado da equipe do então presidenciável”.
Ainda tem mais: “O ex-secretário do Tesouro, hoje no
Bradesco, foi aluno de Armínio. Os dois mantêm uma relação próxima. Na
campanha, Levy trocava ideias com Armínio sobre propostas para a área fiscal.
Ele, no entanto, não produziu textos para a campanha nem frequentava
pessoalmente reuniões com o grupo de economistas de Aécio”.
A coisa funciona assim: na campanha, digo uma coisa.
Convenço mais da metade do eleitorado, transformo em bobos os meus seguidores
mais fiéis e de melhor formação escolar, e, no poder, faço extamente o
contrário daquilo que preguei. É indecente.
As campanhas eleitorais no Brasil são como um mundo à parte.
Elas se transformaram em uma grande e sem vergonha zona franca da mentira. De
dois em dois anos, durante três meses, não há nenhum compromisso com a verdade,
com a ética, com códigos de honra, com a decência. Tudo pelo poder.
Mas, há consequências. Quando um político investido no mais
alto cargo da República encarna esse comportamento é o fundo do poço. Notem:
Dilma não era apenas a candidata. Ela era a presidente da República no pleno
exercício do cargo, fazendo a ONU de palanque e concedendo entrevistas quase
diárias no próprio palácio presidencial.
O País não elegeu um tucano, mas agora terá um no comando da
economia brasileira. Notem: quem foi demitido em plena campanha é um petista de
referência no âmbito acadêmico. Gostem ou não, é um formulador econômico. Nos
meus tempos da Ciências Econômicas da UFC, o curso adotava um livro de capa
branca com letras vermelhas chamado A economia política brasileira. Autor:
Guido Mantega.
Portanto, a indicação de Levy é uma derrota para o petismo
de raiz.
É uma vitória da política econômica de Fernando Henrique
Cardoso.
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