sábado, 29 de novembro de 2014

DEIXA O HOMEM TRABALHAR

Da Época
Foi um anúncio bem ao estilo de comunicação da presidente Dilma Rousseff, repleto de solavancos e  improvisos. Na quinta-feira passada, em Brasília, ela finalmente confirmou a escolha do economista e engenheiro Joaquim Levy, cujo nome já fora “vazado” pelos assessores palacianos dez dias antes, para ocupar o Ministério da Fazenda. Levy, um dos nomes mais respeitados do país na área das finanças públicas, substituirá Guido Mantega, que está no cargo desde 2006 e entrou em aviso prévio durante a campanha eleitoral. Dilma disse que ele sairia do governo numa entrevista coletiva transmitida pela TV em rede nacional. Com Levy, ex-secretário do Tesouro na gestão de Antonio Palocci na Fazenda, Dilma anunciou o resto da equipe que comandará a economia. Fazem parte do grupo o economista Nelson Barbosa, no Ministério do Planejamento, e Alexandre Tombini, que continuará no comando do Banco Central. A nova equipe, com Levy à frente, terá a difícil missão de administrar a “herança maldita”que a Dilma do primeiro mandato deixará para a Dilma do segundo mandato. Com um crescimento próximo de zero, a inflação queimando o teto da meta, fixado em 6,5% ao ano, juros e câmbio em alta e as contas públicas no vermelho, Levy e seus pares não têm tempo a perder.
A grande dúvida é se Dilma deixará de comandar a economia e dará autonomia para Levy, Barbosa e Tombini trabalharem e fazerem o que for preciso para recolocar a economia de volta nos trilhos. Um economista do mercado financeiro que conversou com ele depois de sua indicação afirma que Dilma o deixará trabalhar em paz. Isso foi dito na quinta-feira pelo próprio Levy. “Há uma confiança”, afirmou Levy. “Não tenho indicação nenhuma em sentido contrário.” Para mudar a percepção em relação ao governo e despertar o “espírito animal” dos empresários, que puxará os investimentos e o crescimento econômico, as primeiras ações da nova equipe econômica serão decisivas.
Dilma deverá percorrer o caminho inverso de Lula. Lula começou o governo com austeridade exemplar e foco no controle da inflação. Só abriu os cofres para combater a crise global, em 2008. Dilma gastou demais no primeiro mandato e agora terá de apertar os cintos para recolocar a economia nos trilhos. Terá também de acertar a regulação nos setores de energia elétrica, petróleo e gás, desarranjados no primeiro mandato. Eles precisam atrair grandes investidores para superar os gargalos existentes hoje. Mais que tudo, Dilma terá de recuperar a credibilidade do governo e retomar a confiança de empresários e investidores, aqui e lá fora, perdida nos últimos anos em decorrência da política econômica errática, da “contabilidade criativa” usada para mascarar gastos excessivos e de uma postura relapsa em relação à inflação.
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