Da Época
Foi um anúncio bem ao estilo de comunicação da presidente
Dilma Rousseff, repleto de solavancos e
improvisos. Na quinta-feira passada, em Brasília, ela finalmente
confirmou a escolha do economista e engenheiro Joaquim Levy, cujo nome já fora
“vazado” pelos assessores palacianos dez dias antes, para ocupar o Ministério
da Fazenda. Levy, um dos nomes mais respeitados do país na área das finanças
públicas, substituirá Guido Mantega, que está no cargo desde 2006 e entrou em
aviso prévio durante a campanha eleitoral. Dilma disse que ele sairia do
governo numa entrevista coletiva transmitida pela TV em rede nacional. Com
Levy, ex-secretário do Tesouro na gestão de Antonio Palocci na Fazenda, Dilma
anunciou o resto da equipe que comandará a economia. Fazem parte do grupo o
economista Nelson Barbosa, no Ministério do Planejamento, e Alexandre Tombini,
que continuará no comando do Banco Central. A nova equipe, com Levy à frente,
terá a difícil missão de administrar a “herança maldita”que a Dilma do primeiro
mandato deixará para a Dilma do segundo mandato. Com um crescimento próximo de
zero, a inflação queimando o teto da meta, fixado em 6,5% ao ano, juros e
câmbio em alta e as contas públicas no vermelho, Levy e seus pares não têm
tempo a perder.
A grande dúvida é se Dilma deixará de comandar a economia e
dará autonomia para Levy, Barbosa e Tombini trabalharem e fazerem o que for
preciso para recolocar a economia de volta nos trilhos. Um economista do
mercado financeiro que conversou com ele depois de sua indicação afirma que
Dilma o deixará trabalhar em paz. Isso foi dito na quinta-feira pelo próprio
Levy. “Há uma confiança”, afirmou Levy. “Não tenho indicação nenhuma em sentido
contrário.” Para mudar a percepção em relação ao governo e despertar o
“espírito animal” dos empresários, que puxará os investimentos e o crescimento
econômico, as primeiras ações da nova equipe econômica serão decisivas.
Dilma deverá percorrer o caminho inverso de Lula. Lula
começou o governo com austeridade exemplar e foco no controle da inflação. Só
abriu os cofres para combater a crise global, em 2008. Dilma gastou demais no
primeiro mandato e agora terá de apertar os cintos para recolocar a economia nos
trilhos. Terá também de acertar a regulação nos setores de energia elétrica,
petróleo e gás, desarranjados no primeiro mandato. Eles precisam atrair grandes
investidores para superar os gargalos existentes hoje. Mais que tudo, Dilma
terá de recuperar a credibilidade do governo e retomar a confiança de
empresários e investidores, aqui e lá fora, perdida nos últimos anos em
decorrência da política econômica errática, da “contabilidade criativa” usada
para mascarar gastos excessivos e de uma postura relapsa em relação à inflação.
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