O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o primeiro a
fazer acordo, revelou como funcionava a quadrilha dentro da estatal, as
vinculações partidárias dos criminosos e a identidade dos empreiteiros
envolvidos. Depois dele, foi a vez de o doleiro Alberto Youssef apresentar o
nome de aproximadamente cinquenta políticos que receberam propina, entre
deputados, senadores, governadores e ministros. O mosaico do golpe bilionário
aplicado contra a Petrobras começou a ganhar forma a partir das informações, das
pistas e das provas fornecidas pelos dois delatores. Na semana passada, o juiz
Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, divulgou um conjunto de
depoimentos prestados por executivos da empresa Toyo Setal, uma das
fornecedoras de serviços à Petrobras, que acrescentam ao caso ingredientes com
imenso potencial de destruição. Segundo esses relatos, o PT não só é
apresentado como o responsável pela montagem e pela operação do esquema de
corrupção na estatal como também se nutriu dele. E ainda mais grave: dinheiro
da corrupção pode inclusive ter ajudado a eleger a presidente Dilma Rousseff.
Em 2005, o marqueteiro Duda Mendonça assombrou o país ao
revelar a uma CPI do Congresso os detalhes da engenharia criminosa montada pelo
PT para pagar as dívidas da campanha presidencial de Lula. Contratado pelo
partido para cuidar da propaganda eleitoral de 2002, Duda recebeu parte do
pagamento — 5 milhões de dólares — em depósitos clandestinos no exterior. Era o
início do até então maior escândalo de corrupção da história. Sob os holofotes
do Congresso, Duda mostrou extratos, ditou o nome dos bancos estrangeiros e os
valores ocultos pagos lá fora. A história do partido mudaria para sempre desde
então. Seus líderes — definidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal
como “profanadores da República” — foram julgados, condenados e enviados à
cadeia. No auge da crise, o PT temeu sucumbir à gravidade dos seus pecados, mas
resistiu, reelegeu Lula, elegeu e reelegeu Dilma Rousseff, mas, ao que parece,
não aprendeu nada com o susto do mensalão.
Em acordo de delação premiada, Augusto Ribeiro de Mendonça
Neto, um dos executivos da japonesa Toyo Setal, confirmou que participava de um
cartel de empresas que comandava as obras da Petrobras e, em contrapartida,
entregava uma parte de seus ganhos aos partidos do governo — exatamente como
disseram o ex-diretor Paulo Roberto e o doleiro Youssef. No caso da empresa
japonesa, o “acerto” era feito com o diretor de Serviços da Petrobras, Renato
Duque. Militante petista, Duque foi alçado ao posto por indicação do mensaleiro
José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, atualmente cumprindo pena de
prisão por corrupção. Duque seria o responsável por coletar a parte do PT junto
às empreiteiras que integravam o chamado “clube” do bilhão. Era ele também que
decidia os valores que deveriam ser repassados diretamente ao partido. “Os
pagamentos se deram de três formas: parcelas em dinheiro, remessas a contas
indicadas no exterior e doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores”,
declarou o empresário. Definidos os porcentuais e a metodologia de
distribuição, os detalhes eram combinados com o tesoureiro do PT, João Vaccari.
É desse trecho do depoimento que eclode uma constatação de estremecer: o
delator confirmou que a Toyo Setal enviou parte do dinheiro roubado da
Petrobras ao caixa eleitoral do PT, simulando uma doação legal.
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