A sessão foi marcada pela violência da Polícia Legislativa
contra manifestantes que ocupavam as galerias do plenário e parlamentares da
oposição que saíram em sua defesa.
A confusão começou logo no início dos trabalhos, quando a
oposição tentava liberar o acesso dos mais de 200 manifestantes que pediam para
acompanhar a votação. Foi autorizada a entrada de 50 pessoas na parte superior
do plenário.
Em meio à ofensiva da oposição para adiar a análise do
projeto de lei que permite ao governo descumprir a meta de economia para
pagamento de juros da dívida pública em 2014, o chamado superavit primário,
parlamentares da base aliada começaram a reclamar do protesto que contava com
gritos de "fora PT", "o PT roubou" e "vá para
Cuba".
A temperatura aumentou quando a deputada Jandira Feghali
(PCdoB-RJ) disse que a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que discursava
na tribuna, foi chamada de "vagabunda". O presidente do Congresso,
Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu suspender a sessão para a retirada dos
manifestantes.
Um grupo de 15 deputados da oposição decidiu impedir a saída
e foram para as galerias fazer um cordão de isolamento. Mesmo assim, a Polícia
Legislativa partiu para cima, com empurrões e truculência. Uma senhora de 79
anos, Ruth Gomes de Sá, ligada ao PSDB, levou uma gravata de um segurança.
Um agente chegou a atingir o professor de história Alexandre
Seltz com uma taser –arma que dispara cargas elétricas. Ele desmaiou por alguns
segundos e foi carregado por parlamentares. No tumulto, o deputado Mendonça
Filho (DEM-PE) chegou a rolar nas escadas.
Ao longo de mais de uma hora, os manifestantes gritavam
"fora Renan" e "o Congresso é um curral", além de ataques
ao governo. Ele se identificaram como integrantes do "Movimento Brasil
Livre e Democracia Já", com caravanas de São Paulo, Pernambuco, Distrito
Federal, entre outros. Eles reconheceram que foram mobilizados por
parlamentares oposicionistas.
A confusão se estendeu ao plenário, de onde boa parte dos
congressistas assistia à confusão, quando o deputado Felipe Maia (DEM-RN) foi
"peitado" pelo colega Assis Melo (PCdoB-RS), que defendia a senadora
Vanessa Grazziotin. Aos gritos, o deputado Amauri Teixeira (PT-BA) chegou a
chamar o colega Domingos Sávio (PSDB - MG) de "seu merda".
Com o impasse, Renan encerrou a sessão e convocou uma nova
votação para esta quarta-feira. O novo adiamento colocou o governo em situação
de alerta. Os trabalhos do Congresso se encerram em 20 dias.
Antes de analisar a manobra fiscal, deputados e senadores
terão que deliberar sobre vetos presidenciais. O comando da Casa decidiu que,
antes do projeto que libera o governo de cumprir a meta de superavit, terão que
ser contabilizados os votos dos vetos. A oposição vai tentar usar manobras
regimentais para prolongar essas votações.
O presidente do Senado disse que a oposição instrumentalizou
os manifestantes. "Esse é um caso único na história do Congresso Nacional,
com 26 pessoas, presumivelmente assalariadas, obstruindo os trabalhos da Casa.
26 pessoas instrumentalizadas, provocando o Congresso, tumultuando, não dá para
trabalhar e conduzir uma sessão desta forma", afirmou o peemedebista.
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), rebateu o
presidente do Senado. "Isso é uma bobagem, é mais um equívoco. A população
brasileira acordou. As pessoas estão participando do que está acontecendo no
Brasil. E algumas querem vir [ao Congresso]. Nós vamos fechar as
galerias?", questionou.
A oposição anunciou nesta terça-feira que irá ao STF
(Supremo Tribunal Federal) para suspender o decreto no qual o governo promete a
liberação de R$ 444 milhões para verbas de congressistas para seus redutos
eleitorais, caso a manobra seja aprovada.
Conteúdo da Folha de S.Paulo
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